Florestas plantadas de eucalipto e pinus ocupam 7,74 milhões de hectares no país.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Maior produtor de carvão vegetal do mundo, o Brasil tem um setor florestal bem desenvolvido, mas o uso da lenha de plantios florestais para geração elétrica ainda tem participação marginal na atividade florestal brasileira. A tendência, contudo, é de crescimento nos próximos anos.

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INFOGRÁFICO: Estimativa de oferta potencial de bioeletricidade

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Até 2020, a produção de energia a partir de biomassa florestal deve chegar a 22 terrawatts-hora (TWh), o equivalente a quase 25% de toda a produção de Itaipu em 2015. A projeção para o uso energético da madeira é ainda mais promissora nas próximas décadas, até 2050, atingindo 70 TWh, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Na prática, trata-se de um salto e tanto.

Em 2014, por exemplo, a bioeletricidade gerada com bagaço de cana e madeira somou 44,7 TWh de energia, ou 8% da geração elétrica total. Desse total, 32,3 TWh vieram do bagaço, que foi seguido pela biomassa florestal – lixívia, com 10,5 TWh, e lenha, com apenas 1,9 TWh.

A demanda de madeira para bioleletricidade projetada para os próximos quatro anos está amparada, basicamente, nos empreendimentos que já comercializaram energia de biomassa florestal nos leilões do setor elétrico.

No total, estão previstos 70 milhões de metros cúbicos, aproximadamente todo o volume que é destinado hoje no país para a fabricação de papel e celulose, madeira e carvão vegetal. Para isso, será preciso ampliar o plantio de árvores no país.

Embrapa no Paraná desenvolve projeto sobre florestas energéticas. 
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Hoje, as florestas plantadas de eucalipto e pinus – espécies consideradas carro-chefe do setor – ocupam 7,74 milhões de hectares no país, o equivalente a 0,9% do território nacional e fornecem 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no país, de acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

Pela projeção da EPE, o Brasil tem potencial para dobrar seus plantios florestais nas próximas décadas, alcançando 15 milhões de hectares, dos quais 3,8 milhões de hectares seriam destinados à produção de energia.

Líder mundial

As projeções desenham um cenário positivo para a produção de energia a partir da madeira no país. E não é à toa. Além das condições naturais favoráveis – como solos mais planos e com boa produtividade; clima tropical e um bom regime de chuvas; e o elevado nível da tecnologia de plantio de florestas – o ambiente técnico e científico é extremamente desenvolvido.

Desde 2007, a Embrapa Florestas, com sede em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, conduz um projeto com foco específico em florestas energéticas. São mais de 100 pesquisadores e 40 instituições atuando em várias linhas de pesquisa – da busca por material adequado às regiões brasileiras ao estudo de tecnologias para geração de uma gama de bioprodutos florestais.

Como resultado desse ambiente favorável, o Brasil tem hoje o melhor índice de produtividade média do segmento florestal em todo o mundo, de cerca 40 m3/ha/ano, condição que garante ciclos de produção mais curtos, em torno de 7 a 8 anos para o eucalipto e 14 anos para o pinus. Segundo Guilherme de Castro Andrade, que integra a equipe de coordenação do projeto, já há no país material genético com condições de produzir até 50 m3/ha/ano.

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7,74 milhões

de hectares é a porção do território brasileiro ocupada com florestas plantadas, principalmente eucalipto e pinus. Desse total, 34% pertencem a empresas do segmento de celulose e papel e 26,8% encontram-se nas mãos de pequenos e médios produtores independentes que comercializam a madeira in natura. Outros 15,2% são de empresas de siderurgia, que usam o carvão vegetal, e 10,2% dos plantios de árvores no Brasil pertencem a investidores financeiros. O segmento de painéis de madeira reconstituída e pisos laminados tem 6,8%.

“Não há ninguém no mundo que plante árvores como nós. Na Finlândia, cujo PIB é fortemente dependente da indústria florestal, o ciclo de rotação do é de 70 anos. Aqui temos ciclos de sete, oito anos”, detalha Washington Luiz Esteves Magalhães, pesquisador do projeto.

Embalada pela cana-de-açúcar, biomassa avança nos leilões de energia

Mais da metade da nova oferta de energia do Brasil até 2024 – 74 mil MW – deverá vir de fontes renováveis como eólica, solar, PCHs e biomassa. Dos 55 projetos termelétricos habilitados no leilão A-5, realizado no final de abril deste ano, 40 são movidos a biomassa.

No total, existem hoje no Brasil 517 empreendimentos termelétricos a biomassa em operação que somam quase 14 GW de potência instalada. Desse total, 76% (11 GW) funcionam com biomassa de cana-de-açúcar, principalmente bagaço, e 17 térmicas operam com lixívia (2,2 GW) ou licor negro proveniente do processo de cozimento da madeira. Uma pequena parcela de empreendimentos consomem lenha e resíduos da atividade madeireira na forma de cavaco ou serragem de florestas plantadas. Atualmente, há cerca de 690 MW de empreendimentos movidos a resíduos florestais outorgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas que ainda não começaram a ser construídos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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Planejamento prévio define sucesso de plantio florestal

Principal fonte de energia primária do país até a década de 1970, a lenha perdeu participação na matriz energética brasileira com a ascensão do petróleo, mas voltou a crescer nos últimos anos diante do apelo crescente das fontes renováveis. O Brasil tem potencial para se tornar líder mundial em energia de florestas plantadas. Para isso, contudo, precisará vencer alguns desafios.

O grande gargalo hoje para a biomassa florestal, segundo o pesquisador da Embrapa Florestas Washington Luiz Esteves Magalhães, é o transporte. “Nem sempre tem floresta plantada em locais que precisam de energia”, pontua. Em geral, a colheita e o transporte respondem por 40% a 60% do custo do negócio e, por isso, o raio de produção, transporte e consumo costuma ficar entre 80 Km e 100 Km, acrescenta José Mauro Magalhães Ávila Paz More, pesquisador do projeto das Florestas Energéticas.

Viabilidade

Segundo More, a plantação de florestas é viável, mas exige planejamento prévio detalhado. “Em geral, as plantações florestais tendem a ser viáveis quando estão próximas ao mercado consumidor. Quem entra sem conhecer o mercado, só vai se deparar com os problemas cinco, sete anos depois, quando a floresta já foi implantada, diz. A implantação de um hectare de eucalipto de alto nível tecnológico e o manejo até um ano – com preparo do solo, adubação e controle de pragas – custa cerca de R$ 7 mil. Depois de um ano e meio, o custo de manutenção cai. “É preciso observar, por exemplo, aspectos como clima, mercado consumidor e custos de colheita e transporte. E tem toda a questão de manejo. Não é só plantar e deixar lá”, diz.