Por esta poucos esperavam. Curitiba é melhor que a Bahia para geração de energia fotovoltaica. A condição é resultado de um conjunto de fatores que, somados, explicam como uma das capitais mais nubladas do Brasil pode superar o estado mais iluminado na geração de eletricidade a partir da fonte solar.
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Litoral do Paraná tem a pior média de insolação do estado
No Paraná, a cidade com a maior radiação solar é Prado Ferreira, com 2.100 kWh/m² ao ano. Na região, o mesmo sistema de quatro módulos fotovoltaicos pode produzir, a cada ano, em torno de 1.600 quilowatts-hora. O volume atende um consumo médio mensal de 180 quilowatt/hora e, em termos econômicos, gera economias na ordem de R$ 102. No outro extremo, o Litoral do estado, ainda segundo dados do INPE e da NASA, tem a pior média do Paraná. No mesmo cálculo, um sistema no local promove economias em torno de R$ 80 por mês.
Em nível nacional, o litoral norte de Santa Catarina aparece como a região com o menor índice de insolação do país, com 1.550 kWh/m² ao ano. “Instalamos um sistema fotovoltaico idêntico em uma empresa do mesmo grupo em Curitiba e Itajaí. Para alcançar capacidades de geração energética parecidas, em Itajaí foram necessários 28 módulos, enquanto que, em Curitiba, 26 foram suficientes”, conta Alexandre Brandão, sócio-fundador da empresa 3B Energy.
“Em locais como Curitiba, com tempo mais frio e úmido, os sistemas trabalham na condição ideal de temperatura e tendem a ficar mais limpos, sem camadas de pó que costumam acumular em regiões mais secas e acabam comprometendo o desempenho ou a durabilidade dos módulos”, explica o engenheiro eletricista Marcos Kurata. Segundo ele, em estados mais quentes, bolsas de calor tendem a se formar sob as estruturas quando as temperaturas se elevam demais, o que compromete a penetração do sol e, em alguma medida, pode alterar o desempenho do sistema.
A incidência solar que atinge a Bahia é, de fato, superior à de Curitiba. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Agência Espacial Americana (NASA), na primeira região, considerada a mais ensolarada do Brasil, o índice de insolação é de 2.350 quilowatts-hora por metro quadrado ao ano (kWh/m²). Em Curitiba, a média é menor – de 1.800 kWh/m².
Na Bahia, um sistema de quatro módulos com um quilowatt-pico (kWp) de potência instalada tem capacidade para produzir, em um ano, 1.700 quilowatts-hora kW/h. A porção atende a demanda energética mensal de uma família com consumo médio de até 190 kW/h. Na capital paranaense, o mesmo sistema produziria em torno de 1.470 kW/h no mesmo período, o suficiente para suprir uma demanda mensal de 170 kW/h. “É importante lembrar que diante de qualquer porção luminosa os módulos já operam. Geram menos eletricidade, mas trabalham mesmo em dias nublados”, explica o engenheiro.
Tarifa é determinante
Segundo Kurata, entretanto, o principal fator que torna a tecnologia mais competitiva por aqui, é o custo da tarifa energética. Enquanto no Paraná o preço médio pago pelo usuário por quilowatt é de R$ 0,76, na Bahia, é de R$ 0,62. “Imaginando que a tarifa paranaense fosse praticada no Nordeste, enquanto a economia mensal gerada por um sistema em Curitiba fica em R$ 95, na Bahia, a redução seria de R$ 90. Em resumo, quanto mais alto o custo da luz, mais rentável é um sistema solar”, explica.
Incidência solar no Paraná supera índice de países europeus
Rodrigo Lopes Sauaia, diretor da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), lembra que a incidência solar no Paraná é superior à registrada em muitos países europeus. “Estamos mal acostumados a falar que não temos sol”, diz.
A Alemanha, vice-líder global em instalação de módulos solares – atrás apenas da China – acumula uma média anual de 900 a 1.250 kWh/m² de radiação solar. Na Espanha, onde a tecnologia também ganha escala, o índice varia de 1.200 a 1.850 kWh/m². No Brasil, os valores ficam entre 1.550 a 2.350 kWh/m² ao ano.
“A Alemanha tem hoje por volta de 40 mil megawatts instalados. Isso atende de 6 a 7% da demanda nacional. No Brasil, nosso índice ainda é de 0,02%, mas com perspectiva de crescimento para 4% até 2024”, comenta Sauaia.
Para ele, apesar do crescimento, a geração distribuída no Brasil ainda precisa de incentivos, como novas linhas de financiamento para aquisição das tecnologias renováveis e isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre a mini e micro geração nos estados que ainda não fornecem o benefício. “Para um país com 77 milhões de unidades consumidores, o índice de 3,5 mil usuários que produzem a própria energia ainda é baixo. É preciso avançar”, defende.