Enquanto o mundo inteiro corre atrás de energia limpa, o Brasil desperdiça sua vocação para a produção de biogás. Só o Paraná “joga fora” todos os dias energia suficiente para abastecer 4,7 milhões de pessoas ao longo de um ano a partir do uso de resíduos sólidos e líquidos – mais do que a população de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral somada.
Ao todo, o estado deixa de gerar 12,4 gigawatts-hora (GWh) de energia todos os anos com o não aproveitamentos dos rejeitos urbanos, da pecuária e da indústria e agroindústria, volume que poderia suprir a demanda de milhares de paranaenses, considerando um consumo médio mensal residencial de 217 kWh/mês.
O potencial desperdiçado está nas cidades, mas, sobretudo, no campo. O estado é o maior produtor de frango e o segundo maior produtor de suínos do país. Não é à toa que a indústria , agroindústria e pecuária respondem, juntas, por 94,8% do potencial de geração de energia elétrica a partir do biogás no Paraná.
Apesar dessa característica agroindustrial do estado, uma fatia muito pequena dos resíduos gerados é destinada à produção do gás verde no Paraná, apontou um levantamento feito pelo Senai-PR, por meio dos Observatórios Sistema Fiep, que mapeou a capacidade de produção do biogás no Paraná. Somadas as iniciativas, a geração de biogás não chega a 5% no estado, estima Rodrigo Regis Almeida, diretor-presidente do Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás), parceiro do levantamento.
80 MW
é a energia gerada em conjunto pelas 25 usinas de biogás instaladas no país, segundo dado do Ministério de Minas e Energia. No Paraná, a maior usina de biogás em operação fica em Londrina e pertence à Geoenergética. Com capacidade instalada de 4 MW, a usina usa resíduos da indústria sucroalcooleira para produzir biogás usado na geração de energia elétrica ou na produção do Biometano, para a substituição de óleo diesel em automóveis.
Biogás no quintal
Ainda hoje o biogás é visto mais como um subproduto de baixo valor agregado do que como um ativo energético, avalia Ariane Hinça Schneider, coordenadora dos Observatórios do Sistema Fiep. “O que não é usado como biofertilizante, acaba virando passivo ambiental”. Mas esse cenário deve mudar com o apelo crescente da energia limpa e da geração caseira. Além de gerar autossuficiência em energia, a eletricidade excedente ainda pode ser vendida para a rede.
Em vigor desde o dia 1° de março, a nova resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a geração distribuída cria um cenário favorável para a produção de biogás a partir dos chamados condomínios de agroenergia, quando a geração feita em conjunto pode ser compensada em várias contas, desde que pertencentes ao mesmo condomínio. Está é também uma forma de garantir a viabilidade dos projetos, cujo custo pode ir de R$ 20 mil a R$ 2 milhões, dependendo escala de produção e da aplicação do biogás – energia elétrica, térmica ou veicular.
Outra maneira de dar escala à produção de biogás no estado – e assim reduzir custos – é o envolvimento das cooperativas, defendem Ariane, da Fiep, e Almeida, do CIBiogás. Das 12 maiores cooperativas do país, oito estão no Paraná, sendo seis delas na região Oeste, polo agroindustrial do Paraná. Juntas, essas seis cooperativas movimentaram R$ 50 bilhões no ano passado: a que menos cresceu, chegou a 15%; a que mais cresceu, alcançou o dobro desse valor, destaca Régis. “Assim como as cooperativas viabilizaram o pequeno produtor, elas podem viabilizar o biogás na propriedade”, acredita.
Para isso, será preciso estimular o desenvolvimento de uma cadeira de fornecedores para elaborar, operar e manter plantas de biogás no estado. Este, inclusive, é um dos objetivos do levantamento do Senai-PR, segundo Ariane.
“Hoje é economicamente viável investir em biogás, mas falta segurança técnica. O negócio da cooperativa é produzir soja, milho, suínos; e não gerar energia”, diz Almeida.
Município paranaense busca autossuficiência em energia com biogás
Um projeto emblemático do potencial do biogás no estado vem de Entre Rios do Oeste, município lindeiro ao Lago de Itaipu. A cidade de 4,3 mil habitantes vai produzir energia elétrica a partir dos dejetos de suínos e aves.
Num primeiro momento, a ideia é zerar toda a conta de energia da administração pública do município. A longo prazo, contudo, a cidade planeja tornar-se autossuficiente na produção de energia a partir dos dejetos gerados nas propriedades – só a produção de suínos do município soma 150 mil animais. O excedente ainda poderá ser vendido à rede. “Entre Rios do Oeste é um exemplo de como é possível pegar um passivo ambiental e transformá-lo num ativo econômico sustentável”, destaca Rodrigo Regis de Almeida, diretor-presidente do CIBiogás, que é parceiro do projeto junto com a Copel.
No total, foram investidos R$ 17 milhões na construção de um biogasoduto de 22 quilômetros que vai ligar 19 propriedades, cada uma com um biodigestor próprio, a uma central termelétrica que vai utilizar o biogás para gerar energia.
Condomínios
Ao reunir pequenas propriedades em torno de uma central de aproveitamento energético de biogás, o projeto permite a redução do custo por meio do ganho de escala. A vantagem, segundo Almeida, é que a nova resolução da Aneel para a geração distribuída permite que projetos como esse sejam facilmente replicáveis em outros locais com benefícios para todos os envolvidos. “São os chamados condomínios de agroenergia. A energia é gerada em conjunto e a compensação ocorre em várias contas diferentes, desde que pertencentes aquele condomínio”, detalha Almeida.
Copel e Sanepar investem em projetos de bioenergia
No campo e na cidade, projetos embrionários da Copel e da Sanepar prometem ampliar a participação do biogás na geração de energia no Paraná. A CS Bioenergia, companhia formada pela Sanepar e Cattalini, investiu R$ 52 milhões na primeira fase de construção de uma unidade de geração de energia a partir de esgoto e outros resíduos urbanos. A unidade fica ao lado da Estação de Tratamento de Esgoto Belém, em Curitiba, e terá capacidade de produzir 2,8 megawatts de energia, podendo ser expandida para 4,5 MW.
Com o projeto de Entre Rios do Oeste, a Copel também coloca em ação o Programa Gera Rural, que dá apoio à geração de energia renovável no campo, com destaque para produção de biogás. A ideia é replicar em outros pontos do estado o modelo que está sendo implantado no município da região Oeste. “A Copel está prestes a iniciar o mapeamento do potencial de geração energética a partir da biomassa do agronegócio em todo o território paranaense. Isso deverá ser realizado com a ajuda do Sebrae e das universidades que atuam no estado”, afirma Marcos de Lacerda Pessoa, superintendente de Inovação da Copel.
A estimativa, segundo Pessoa, é que a geração distribuída de energia a partir de dejetos animais e resíduos vegetais supere 2 GW (gigawatts) no Paraná, o equivalente a uma usina hidrelétrica de grande porte.
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