A crescente demanda energética e a necessidade de consumir com mais eficiência abrem caminho no mundo para o avanço das chamadas smart grids.
Compostas por sistemas de transmissão e distribuição de energia melhorados por avanços tecnológicos, as redes inteligentes ampliam o controle do consumo energético pelo usuário, gerando economia e também independência de matrizes mais tradicionais.
No Brasil, a necessidade de superar desafios tecnológicos, regulatórios e financeiros ainda atrasa a consolidação e expansão da tecnologia. Mesmo assim, ela já começou a ser testada por distribuidoras de energia elétrica de estados como Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Goiás e Minas Gerais.
Nesses locais, o trabalho teve início com a substituição de medidores analógicos pelos digitais, que permitem, com o auxílio de outros sensores automatizados, o monitoramento em tempo real e de modo remoto do consumo de cada domicílio.
Mais controle
Munido da tecnologia, o usuário também ganha: ele passa a controlar quanto gasta de energia e quanto paga por ela em cada hora do dia, podendo escolher os melhores momentos para o consumo. Também fica detalhado o gasto por diferentes aparelhos eletrônicos.
Hoje, tanto empresa quanto cliente recebem informações organizadas apenas uma vez por mês, graças ao trabalho de leituristas. A possibilidade de maior controle incentiva a economia. Em locais onde já foram instaladas, as smart grids chegam a reduzir o consumo de energia entre 20% e 60%.
Agilidade
A qualidade das informações geradas pelas redes garantem outros benefícios à população, como a identificação precisa e a rápida correção de eventuais falhas no sistema, entre elas, quedas energéticas. Com a rede atual, é possível saber com exatidão onde ocorre metade dos problemas. Por ano, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), os brasileiros ficam entre 17 a 18 horas sem luz por conta de problemas técnicos na rede. No Paraná, o índice é de 13 horas. Em países europeus, onde as smart grids já foram democratizadas, a média é de uma hora.
Dados da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) indicam que, em todo o país, o setor já recebeu investimentos na ordem de R$ 1,5 bilhão.
Um estudo da consultoria norte-americana Northeast sugere que, nos próximos seis anos, o Brasil deva aportar US$ 36,6 bilhões no mercado das redes, sendo quase metade desse total dedicado à compra e instalação de novos medidores.
No Paraná, um milhão de aparelhos analógicos já foram trocados pelos digitais pela Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica). O investimento até agora foi de R$ 10 milhões, pagos com recursos próprios. Até o fim do ano, o estado deve contar com 5 milhões de consumidores e os planos da estatal são para, nos próximos anos, substituir todos os medidores residenciais.
O projeto está em fase de testes, mas, segundo a distribuidora, há intenção de expandi-lo a cidades como Londrina, Ponta Grossa, Maringá e Guaíra. Desse modo, em torno de 100 mil pessoas seriam atendidas. Antes, no entanto, as redes das regiões precisam passar por modernizações, que já tiveram início. O custo total da inovação será de aproximadamente R$ 5 milhões.
Consumidores testam a tecnologia em Curitiba
Cerca de 30 mil consumidores, distribuídos em 10 mil residências nos bairros Bigorrilho, Campina do Siqueira e Mossunguê, participam de testes com as smart grids desde 2014. As regiões foram escolhidas pela Copel para participar do projeto Paraná Smart Grid em razão do alto índice de moradores e prédios por metro quadrado. Em situações de quedas na rede era comum pessoas ficarem presas nos elevadores até que o problema fosse resolvido.
Com a chegada das redes inteligentes, o tempo de reparo, que costumava superar meia hora, foi reduzido para alguns poucos minutos. “Identificamos uma melhora de 40% na qualidade de fornecimento energético a esses bairros”, diz Julio Omori, superintendente do Departamento de Manutenção e Automação de Distribuição da companhia.
O Paraná Smart Grid integra o programa Smart Energy Paraná, criado pelo governo do estado em 2013 para incentivar a geração energética distribuída por fontes renováveis. Em três anos, as smart grids devem, ainda, chegar a 60 mil consumidores paranaenses do campo por meio do projeto Mais Click Rural, que deve receber R$ 500 milhões em investimentos. A proposta é beneficiar 2,4 milhões de moradores desses locais, que reúnem a maior concentração de produtores agroindustriais sensíveis à qualidade do fornecimento energético.
Geração doméstica de energia deve impulsionar redes inteligentes
Com a automatização do sistema e a comunicação mais direta com a concessionária, o usuário também ganha condições para abandonar o consumo passivo e passa a produzir energia a si mesmo. Basta que conecte à rede elétrica da própria casa ou da empresa tecnologias para captação de recursos solares ou eólicos, por exemplo. O diferencial fornece à geração doméstica condições de impulsionar as redes inteligentes.
“O cliente pode acumular e, em alguns casos, até vender a distribuidora o excedente da porção energética que produzir. Esse fluxo passa a ser gerido pelo sistema, que reúne e organiza as informações com clareza”, explica Carlos Frees, da ABDI. Segundo ele, nessas condições, as concessionárias passam a ser responsáveis pelo gerenciamento da infraestrutura e logística da transmissão energética, e não mais pela comercialização da energia. “No caso do Brasil, as hidrelétricas seriam acionadas apenas em casos de urgência.”
Desafios
Julio Omori, superintendente do Departamento de Manutenção e Automação de Distribuição da Copel, comenta que as alterações no sistema ainda são caras e muitos dos equipamentos utilizados são importados. “Aderir às soluções renováveis ainda também é custoso ao usuário, mas, no longo prazo, com facilitações por parte do poder público, domínio da tecnologia e produção nacional dos componentes, as smart grids serão uma realidade inevitável”, indica.
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