O Brasil concorre em igualdade com outros países do mundo na área de pesquisas sobre filmes finos orgânicos capazes de converter energia solar em elétrica. Em cerca de oito meses de atuação, a startup mineira SUNEW, que produz e vende placas OPV – sigla em inglês para módulos fotovoltaicos orgânicos – já figura como uma das líderes globais neste segmento.
Por ano, a companhia é capaz de fabricar até 400 mil m² dos materiais, produzidos em rolos. Esta condição aumenta a possibilidade de ganhos de escala e permite a personalização do produto conforme a necessidade do comprador.
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A capacidade de geração energética média dos filmes é de até 50 watts por metro quadrado no horário de pico, mas o índice pode variar de acordo com a intensidade da tinta aplicada no substrato plástico. Composta por polímeros de carbono é a tinta que, em contato com a radiação solar, cria o sistema que libera elétrons e forma a corrente elétrica ligada à rede do usuário. O modelo de captação e distribuição energética funciona com a mesma lógica das tecnologias tradicionais, baseadas em placas de silício.
A variação do OPV, entretanto, garante ao sistema versatilidade suficiente para que se adapte a diferentes superfícies e conquiste novos mercados não tão acessíveis às soluções mais conhecidas, como as placas solares tradicionais. Na prática, os filmes podem ser aplicados de janelas de prédios, vidros de carros a mochilas e capas para tabletes, por exemplo.
Brasil na frente
A tecnologia passou a ser investigada há cerca de duas décadas, mas já representa a maior promessa do mercado fotovoltaico para aumentar o aproveitamento solar e popularizar o setor . “Países como Alemanha, Japão e Inglaterra, por exemplo, já avançados no domínio do mercado solar, estão em fases de pesquisa e aplicação das OPVs semelhantes à nossa”, conta Marcos Maciel, diretor da SUNEW.
Criada a partir da convergência de esforços entre o Centro Suíço de Eletrônica e Microssistema (CSEM) Brasil, BNDES, Tradener, CMU Energia e o fundo de investimento FIR Capital, a fábrica chegou a contar no início dos trabalhos, em 2011, com representantes de mais de uma dezena de países na equipe para acelerar o domínio do conhecimento. Hoje, o time formado por 20 químicos, físicos e engenheiros de materiais, além de membros do CSEM, continua plural, com integrantes de, pelo menos, cinco nações.
Tecnologia chega ao mercado
Neste ano, as novidades já começam a ganhar mercado. O primeiro teste dos filmes será feito na fachada do novo prédio da Totvs, em São Paulo, uma das maiores desenvolvedoras de softwares do mundo. O edifício, com previsão de ser entregue no início de 2017, terá filmes em OPV dentro dos vidros. Eles vão revestir 4 mil m² de área do empreendimento. A SUNEW ainda não estima o volume energético que as películas adicionarão à rede elétrica, mas adianta que a energia produzida deve manter em funcionamento os 3,5 mil notebooks da companhia. Os vidros custaram cerca de 40% a mais que os tradicionais, mas a economia mensal com a conta de luz deve recuperar o investimento em menos de dez anos.
As montadoras também já estão no radar da startup mineira. A Fiat, por exemplo, está em fase avançada de testes para usar a tecnologia em modelos da marca. Instalada no teto do veículo, a película solar pode reduzir em até 3% o consumo de combustível, diminuindo, também, a emissão de CO2 (dióxido de carbono) à atmosfera. O sistema ainda garantiria, em dias quentes, energia suficiente para manter um ventilador interno funcionando com o carro desligado.
Em dois anos, custo dos módulos pode cair pela metade
Os custos da inovação ainda são altos, com valores que variam de R$ 1 mil a R$ 1,8 mil por m² instalado. Hoje, a matéria prima à base de carbono para produção das tintas é importada de países como Japão, Alemanha e Estados Unidos, mas o domínio da tecnologia por empresas nacionais e o ganho de escala trazido pela alta da demanda podem alterar o cenário e reduzir os preços pela metade dentro de dois anos.
Até agora, foram investidos R$ 100 milhões nas pesquisas do OPV no Brasil. Daqui em diante, contudo, as perspectivas tendem a ser de lucro. “Nosso processo produtivo é simples, barato e quase dez vezes mais ecológico que o baseado nas placas solares”, diz Marcos Maciel. Segundo ele, são necessários dois anos de economia das placas solares para que o meio ambiente seja compensando pelo processo de confecção do sistema. “No caso dos filmes orgânicos, o tempo é inferior, porque consumimos bem menos energia”, diz. A intenção da tecnologia, no entanto, não é concorrer com a tradicional, e sim, fornecer mais oportunidades ao mercado. “Quanto mais o setor solar crescer no Brasil, melhor”, conclui Maciel.