A visão protecionista do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ser decisiva para que membros do seu partido, o Republicano, levem adiante uma reforma tributária que teria como um de seus efeitos colaterais o fortalecimento do dólar – um movimento que pode ser expressivo, segundo cálculos que circulam no mercado.
O projeto é chamado de “ajuste fiscal da fronteira” (em inglês, border adjustment tax, o BAT), alternativa que muda a forma como o imposto é cobrado das empresas. De forma geral e resumida, o BAT taxa as importações e isenta as exportações.
A proposta divide opiniões e nem mesmo republicanos concordam entre si. Apesar disso, o republicano Kevin Brady, autor do BAT, está confiante que ele será a “espinha dorsal” da reforma, como declarou ao portal americano CNBC. A grande polêmica é que um imposto sobre as importações poderia prejudicar o comércio, já que elevariam-se os custos de produção e, consequentemente, os preços desses produtos subiriam. Empresas que trabalham com produtos importados como Nike, Target e Wal-Mart engrossam o coro contra a reforma.
Entre os defensores da ideia estão aqueles que acreditam que ela é uma das melhores alternativas para reaquecer a produção no país e valorizar a indústria local. Entre esses apoiadores, além de alguns republicanos, estão as grandes exportadoras como Boeing e General Electric. Para eles, o BAT devolve a competitividade aos produtos do país.
Para quem defende o ajuste – Trump deu declarações que deram a entender que poderia apoiar a ideia – o ajuste faria com que as importações ficassem realmente mais caras e tornaria as exportações mais baratas. Esse movimento seria seguido por uma valorização do dólar que compensaria as mudanças nos preços de importações e exportações. No fim, o governo americano arrecadaria mais, já que tem déficit comercial, e poderia reduzir os impostos das empresas que produzem no país.
Vai subir quanto?
O problema, porém, é saber quanto o dólar subiria e se o novo equilíbrio seria atingido sem um caos financeiro. Segundo uma projeção do banco Goldman Sachs que vem sendo usada no debate americano, o dólar precisaria subir até 25% para a conta fechar. O número, claro, não é consenso entre economistas. Mas a mudança mudaria o câmbio global.
“No meu entendimento, com o BAT deve haver sim uma valorização do dólar, mas não na casa dos 25%. Essa alta depende de uma série de fatores e só a prática pode confirmar de quanto seria essa valorização”, analisa Carlos Magno Vasconcellos, doutor em economia e professor da UniCuritiba.
Fernando Giacobbo, sócio da PwC Brasil, segue na mesma linha e acredita que a tendência é realmente da valorização da moeda. Para ele, “a moeda norte americana não precisará ter tamanha valorização caso ocorra o incremento de preços no mercado norte americano”.
“Essa análise isolada, de que a taxação da fronteira implica imediatamente em uma apreciação do dólar não pode ser feita de maneira limitada pelo BAT, sem considerar outros fatores que influenciam a cotação da moeda, como o volume de exportações e variações de preços”, explica Adelmo Emerenciano, especialista em direito empresarial e em direito tributário do escritório Emerenciano, Baggio & Associados.