Ideia levou produtor a se profissionalizar
Embora tenha se afastado do evento entre os anos de 2000 e 2008 quando exerceu funções na Fundação Cultural de Curitiba, morou fora do país e atuou como produtor independente Leandro Knopfholz tem o nome ligado ao Festival de Teatro de Curitiba desde o início. O impulso de trabalhar com produção de teatro levou Knopfholz a encontrar a vocação como empreendedor cultural. Depois de concluir a faculdade de Administração, ele se especializou em Arts Management (Gestão de Artes) pela Universidade de Londres e também em Economia Criativa. De volta ao Festival em 2009, Knopfholz fundou a produtora Parnaxx para gerenciar o evento e tocar projetos paralelos como o Wikibier (festival anual de cervejas artesanais), espetáculos e seriados de tevê.
"O patrimônio da empresa são os ativos criativos", define. No momento, quinze pessoas trabalham no escritório da produtora, que ocupa as salas de um imóvel comercial escondido nos fundos de um endereço chique no Batel.
Para o Festival de Teatro, a Parnaxx se associa à empresa Infinitoo, do publicitário Rafael Perry, que se encarrega da viabilização financeira. A sociedade deu certo. Empresas como Tim, Vivo e Spaipa já aderiram ao projeto, buscando vincular suas marcas ao imenso público do festival e à visibilidade que cada evento gera. Primeiras empresas a acreditar na ideia, Bamerindus e O Boticário patrocinaram o evento até 1993.
Entre as marcas que patrocinam a mostra de artes cênicas, o banco Itaú é parceiro fiel são 14 anos de parceria. Recentemente, a montadora Renault também se juntou aos patrocinadores do evento.
Quem faz
Fundação: 1991
Atuação: 220 mil pessoas foram ao Festival de Teatro de 2013
Custo: R$ 8 milhões
Projeção de crescimento para 2013: 18%
Número de empregados: 15 funcionários na produtora Parnaxx, 1,2 mil pessoas na organização e 2,8 mil artistas participantes
Sócios: Leandro Knopfholz, da produtora Parnaxx, e Rafael Perry, da produtora Infinitoo
Por que faz bem feito: é a maior mostra de artes cênicas do Brasil. Atrai grandes marcas como patrocinadoras, fomenta a produção teatral e movimenta toda a cidade.
Foi em 1991, a partir de momentos ociosos em uma greve de professores da UFPR, que o então estudante de Administração Leandro Knopfholz fez nascer a semente do maior festival de artes cênicas do país. De lá para cá, ele é o principal nome nos bastidores do Festival de Teatro de Curitiba, mostra anual que em março de 2014 chega à 23.ª edição.
O evento não surgiu grandioso. Em março de 1992, 14 montagens apenas foram exibidas, em comparação aos 430 espetáculos que ocuparam palcos, ruas e cenários alternativos da cidade neste ano. Ainda assim, a intenção de mexer com a cidade é parte de seu DNA. Desde o início, o Festival de Teatro de Curitiba tem como proposta inovar nos formatos, gerar intervenções urbanas, movimentar a cultura local como um todo e acender polêmicas como não poderia deixar de ser, quando o assunto é arte e os meios de financiamento para a produção cultural brasileira.
O primeiro Festival custou US$ 380 mil, relembra o produtor. E a primeiríssima verba do evento saiu de uma conta bancária de pessoa física. "Meu pai emprestou US$ 5 mil", conta Knopfholz. Com esse dinheiro no bolso, ele e um grupo de amigos foram à luta.
Além da ideia
A primeira grande companhia a recebê-los foi O Boticário o fundador da empresa, Miguel Krigsner, tem apreço pessoal por artes cênicas. "Batemos na porta dele. Funcionou, mas o acordo foi o seguinte: o Boticário entraria com US$ 50 mil se a gente conseguisse viabilizar o festival que, até então, era apenas uma ideia", recorda. "Na verdade, a gente não sabia bem como fazer".
Em seguida, entrou na história uma figura que Knopfholz considera um dos grandes mentores e incentivadores do projeto, o publicitário Sérgio Reis, que então comandava o marketing do Bamerindus. Além de obter verba do banco para patrocínio do Festival, Reis deu muitas lições para os empreendedores novatos.
Com o esforço da equipe, os ensinamentos de Reis e o patrocínio do Bamerindus e do Boticário, a primeira edição do evento alcançou números impressionantes para o que começou como trabalho eventual na folga da faculdade: foram 25 mil ingressos vendidos e cinco salas de teatro ocupadas incluindo a inauguração da Ópera de Arame, com um espetáculo de Shakespeare, encenado pelo Grupo Ornitorrinco, de São Paulo.
Convites eram feitos ao vivo ou por telefone
Não havia internet. Fax era novidade. Redes sociais e mensagens de texto por celular eram assunto de ficção científica, assim como outros recursos de comunicação instantânea. Em 1991, organizar um evento em Curitiba, para juntar diferentes grupos de teatro em uma mostra com vários espetáculos, era uma tarefa complicada. Ainda mais para um grupo de estudantes universitários sem contatos no mundo cultural do eixo Rio-São Paulo.
"A gente não conhecia ninguém. Telefonava pra fulano, perguntava, ligava pra outro, e assim até chegar no artista, diretor ou produtor da peça", recorda Knopfholz. "Quantas vezes ligamos para a casa de gente famosa! Atores, atrizes, diretores. Muitas vezes eles mesmos atendiam, às vezes um parente anotava o recado. Coisa que, hoje, nem pensar. E dá-lhe pegar avião, carro ou ônibus e viajar para conversar com as pessoas".
Do bolso
O grupo de jovens que transformaria Curitiba no "maior palco do teatro brasileiro" trabalhava com recursos próprios. "Naquele primeiro ano, a gente bancou muita coisa do próprio bolso, entre viagens, telefonemas, combustível e alimentação", diz o produtor. Aos poucos, com o aprendizado prático e orientações do publicitário Sérgio Reis, o grupo aprendeu a gerenciar finanças e administrar os recursos dos primeiros patrocinadores. Encerrada a primeira edição, surgiu a pergunta: e a próxima?
"A gente nem tinha pensado em um evento anual. Fizemos o primeiro achando que seria o único", lembra Knopfholz. "Ficou claro que o grande ativo do Festival de Teatro são as pessoas".
Iniciativas
Em 23 anos, o Festival cresceu e inovou. Instalar bilheteria centralizada, colocar espetáculos em cartaz às segundas e terças-feiras e criar mostras como o Risorama foram algumas novidades que o evento trouxe. Ano após ano, a cidade entendeu que o evento impulsiona a economia e a criatividade, trazendo visitantes de todo o país que movimentam hoteis, restaurantes, bares e comércio, além de gerar outras iniciativas culturais.
Mudaram o tamanho, a importância e o volume de dinheiro necessário para colocar toda a estrutura em pé a cada ano, mas na essência o Festival de Teatro tem o mesmo DNA. "Nosso foco é no público. O objetivo é levar gente para o teatro e agitar a cidade. Essa é a pegada", diz Knopfholz.