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Inventor da técnica se surpreendeu no Paraná

Os pioneiros brasileiros do plantio direto, primeira experiência em grande escala da técnica, se inspiraram nas pesquisas do professor norte-americano Shirley Philips, da Universidade de Kentucky.

Philips fazia experimentos em uma fazenda-teste havia alguns anos quando recebeu a visita dos agricultores Herbert Bartz, Franke Dijkstra e Nonô Pereira. Treze anos mais tarde, quando o sistema já estava consolidado em algumas regiões do país, os papéis se inverteram. "Mesmo sendo um profundo conhecedor da técnica, ele se impressionou com os resultados. A partir daquele momento, ele disse que o resto do mundo tinha que aprender conosco sobre plantio direto na palha", relembra Pereira.

Os quatro – pesquisador e os três agricultores – viajaram para dezenas de países disseminando a técnica, e se tornaram uma espécie de embaixadores mundiais do plantio direto. Espanha, Peru, Argentina, Uruguai e Alemanha foram alguns dos lugares por onde passaram.

As pesquisas de Philips também foram fundamentais para a evolução da agricultura norte-americana. Atualmente, o país lidera a área plantada mundial com o sistema, com mais de 32 milhões de hectares.

As experiências de sucesso nos dois gigantes da produção agrícola na América se espalharam pelos demais países do continente. Apenas 14% de toda a área cultivada com o plantio direto no mundo se encontra do outro lado do Atlântico.

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Quem faz

Ano de fundação: 1972

Em que área é usado: Agricultura

Onde está presente: Em 30 milhões de hectares em todo o Brasil

Por que é bem feito: Porque tornou possível a expansão da fronteira agrícola brasileira em regiões onde não havia condições de solo para o cultivo em larga escala.

Nonô Pereira e outros dois agricultores paranaenses foram os precursores do sistema no Brasil, que hoje é usado em quase metade da área plantada do país
A propriedade pioneira virou um museu, em memória do plantio direto
Uma nova geração de plantadeiras, adaptadas à técnica, reinam no Paraná
A fazenda de Nonô Pereira tornou-se um dos símbolos da evolução do plantio direto no Brasil. Centenas de agricultores e estudantes de agronomia visitam anualmente um museu sobre a técnica montado por ele dentro da propriedade
As primeiras plantadeiras usadas para o plantio direto tiveram que ser adaptadas manualmente. O eixo tinha que ser serrado e encurtado para que, ao invés de revirar a terra, a palhada da plantação anterior se mantivesse sobre a semente. Hoje o Brasil é referência na produção de maquinas agrícolas para o sistema
A manutenção da palha da cultura anterior evita a erosão, um dos principais problemas para a evolução da agricultura dos Campos Gerais na década de 70. Agricultores chegavam a perder 20 toneladas de solo por hectare todos os anos

Se a economia brasileira tem nos sucessivos recordes de produção de grãos um de seus pontos de sustentação, parte disso se deve a uma mudança radical ocorrida há quatro décadas nas técnicas de plantio do país. O sistema de plantio direto, nascido nos Estados Unidos mas radicado no Paraná, afastou o desastre das erosões, que fazia com que os agricultores perdessem mais de 20 toneladas de solo por hectare todos os anos.

A técnica implantada nos Campos Gerais se disseminou de 1972 para cá, e hoje é usada na produção de 80% das commodities agrícolas brasileiras. O novo modelo foi fundamental para a expansão da fronteira agrícola brasileira para áreas antes consideradas inúteis para a cultura de grãos.

"Estamos em cima de arenito. A erosão tornava o plantio inviável e precisávamos de uma solução", afirma Manoel "Nonô" Pereira, um dos pioneiros na aplicação do sistema no país. "Era comum ver todo o solo de uma propriedade ser levado pela chuva", relembra.

Palha da última safra

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Junto de Herbert Bartz e Frank Dijkstra, trio que revolucionou a agricultura nacional, Nonô foi aos Estados Unidos buscar ajuda para adaptar o solo a uma técnica que estava sendo experimentada no estado da Virgínia: ao invés de arar a terra, manter a palha da última safra na plantação. "Ninguém dava nada por nós. Éramos tachados de loucos até que a primeira minhoca aparecesse no meio daquela palhada", explica o agricultor.

Elas apareceram alguns anos mais tarde – junto com um tratamento de pesticidas e adaptações de máquinas – referendando a saúde do solo e a eficiência do sistema, que nas décadas seguintes foi adotado no restante do país.

Consolidado

O Brasil tem hoje a segunda maior área com plantio direto do mundo. São aproximadamente 30 milhões de hectares (pouco menos de 50% de toda a área plantada do país), apenas 2 milhões a menos que os Estados Unidos.

Além de aumentar a produtividade, a técnica pode ser mais barata e ambientalmente muito mais sustentável. O custo de produção do milho plantado diretamente sobre a palha é 6% menor que nos métodos tradicionais, além de ter um custo de reposição ambiental 30% mais barato – ou seja, o gasto para evitar o processo de erosão e captação de água é quase um terço menor. No caso da soja, o custo de produção é 0,5% maior, mas o custo ambiental é 80% menor. Além disso, por extinguir o arado, os produtores economizam até 45 litros de combustível por hectare.

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A prática exige alguns cuidados especiais. A rotação de culturas, por exemplo, é essencial. "É preciso manter a saúde do solo e ter a palha ideal para a cultura seguinte. Não é possível se guiar somente pelo mercado", explica o técnico da Embrapa Hildo Callete. Os restos da cultura anterior devem cobrir pelo menos 80% da área cultivada.

Plantio direto