3,6 mil estudantes frequentam diariamente o Parque Tecnológico Itaipu (PTI). Eles são alunos da Unioeste, da Universidade Aberta do Brasil e da Unila, que tem no parque a sede provisória.
Integração
O diretor-geral brasileiro de Itaipu desde 2003, Jorge Miguel Samek, diz que os investimentos sociais e tecnológicos da binacional se intensificaram nos últimos anos porque o momento é oportuno. No início, foi preciso construir a barragem, casas, pagar desapropriações e investir em infraestrutura. Agora, isso já passou. "Hoje estamos dando a colaboração que uma empresa como a nossa deve dar para o desenvolvimento regional e promover a integração entre Brasil, Paraguai, Argentina e desenvolver a Tríplice Fronteira."
Projeto experimEntal
Propriedades utilizam dejetos de porco e boi para produzir biogás
A água não é a única fonte propulsora de energia no entorno da usina. No Condomínio Ajuricaba, dejetos de porco e boi geram energia graças a uma iniciativa de Itaipu.
Situado no município de Marechal Cândido Rondon, o condomínio reúne 33 pequenos agricultores cujas terras não passam de 15 hectares cada. As propriedades envolvidas têm 1.072 bovinos e 3.082 suínos.
Os dejetos são transferidos para biodigestores para extração do gás metano. O biogás é levado para uma microcentral termelétrica por meio de uma tubulação de 25 quilômetros. Lá é usado para secar grãos dos próprios agricultores consorciados.
Em fevereiro deste ano, o projeto ganhou uma parceria de peso: a cooperativa Copagril. A produção de Ajuricaba será utilizada no abatedouro de aves da cooperativa na cidade. Um gasoduto de 1.800 metros levará o biogás da microcentral termelétrica para a Copagril.
Presidente do condomínio, o agricultor Elmiro Berwalt, 60 anos, diz que o projeto facilitou o trabalho no campo e trouxe mais higiene à propriedade. A estrutura foi montada pelo projeto. Só coube ao agricultor investir na mão de obra para fazer caixas coletoras. Parte do biogás gerado é usado para abastecer o fogão. O que sobra vai para a microcentral. Hoje, Berwalt economiza cerca de 30% de energia. Mas, com a parceria com a Copagril e a venda do biogás, a perspectiva é ganhar mais. "Para quem quiser isso será o futuro", diz.
Entrevista
"Para desalojados, Itaipu não valeu a pena"
Catiane Matiello, doutoranda em Tecnologia e Sociedade pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
A pesquisadora Catiane Matiello estudou a população afetada pela formação do lago da usina de Itaipu. Nesta entrevista, ela fala sobre o desalojamento das famílias e o papel do Movimento Justiça e Terra (MJT), que lutou por indenizações justas.
A formação do reservatório mudou a vida de milhares de pessoas. A indenização foi justa?
Alguns afirmam que ficaram satisfeitos com a indenização, mas são casos em que as famílias não dependiam apenas da terra para sobreviver ou tinham uma grande propriedade a ser indenizada. Outros afirmam que a indenização foi justa, mas somente graças às reivindicações do MJT. E há aqueles que afirmam que nunca mais conseguiram reconstruir suas vidas materialmente após a desapropriação. Acredito que é muito importante lembrarmos que o lema do MJT era "terra por terra". A luta deles foi por um reassentamento que permitisse a reconstrução das comunidades, podendo manter os vizinhos e parentes próximos, sua cultura e valores.
Você diz que algumas famílias foram atropeladas pela construção de Itaipu. Até que o ponto o período ditatorial pelo qual passava o país contribuiu para esse quadro?
Itaipu foi uma das grandes obras que integraram o projeto de industrialização do país, baseado no capital internacional, dentro do contexto de aceleração do crescimento econômico. Nos discursos dos generais, a usina era sempre tratada como fundamental à "segurança e ao desenvolvimento" do Brasil. A concentração de poder nas mãos de generais e o seu autoritarismo fizeram com que todas as decisões a respeito da implantação da usina fossem tomadas nas altas esferas das ditaduras brasileiras e paraguaias. Isso se refletiu na forma com que as desapropriações foram conduzidas.
Itaipu valeu a pena?
Hoje sabemos que o Brasil depende da energia gerada pela usina, mas se perguntássemos se "Itaipu valeu a pena" a um agricultor como Marcelo Barth (uma das principais lideranças do MJT), que após a desapropriação viveu no norte do Mato Grosso até o início dos anos 2000 sem acesso à energia elétrica, certamente teríamos como resposta um "não". A questão que devemos nos fazer não pode girar em torno de verificar se os efeitos benéficos de uma tecnologia compensam os seus prejuízos. Que tipo de progresso é esse, que exclui, marginaliza e destrói vidas? A lógica não pode continuar sendo essa. Devemos considerar que a questão não é o progresso em si, mas a diversidade de caminhos para chegar ao progresso entre os quais podemos escolher.
Muito mais que energia, Itaipu gerou nas últimas três décadas conhecimento, qualidade de vida e tecnologia. Com programas socioambientais de ponta, a binacional disseminou ondas de transformação por toda Costa Oeste brasileira e a Costa Leste paraguaia. Dentro da usina, em uma área de 116 hectares, está o Parque Tecnológico Itaipu (PTI).
INFOGRÁFICO: Veja como está o aproveitamento no Oeste
Criado em 2003 e instalado nos antigos alojamentos de barrageiros, o PTI é um polo científico e tecnológico. Reúne profissionais especializados em projetos nas áreas de educação, meio ambiente e ciências exatas e tem uma forte vertente educacional. Por lá circulam professores e 3,6 mil estudantes de três universidades: a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), que tem no parque a sede provisória.
Com diversos ambientes e laboratórios, o PTI conta com incubadoras de empresas, fábrica de softwares, Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) e o Polo Astronômico Casimiro Montenegro Filho, que recebe turistas, forma professores e está inserido no circuito científico da Astronomia.
O projeto Veículo Elétrico (VE) é outra referência tecnológica. Atualmente, a frota de veículos elétricos da binacional passa de 60 unidades, entre 52 carros emplacados usados pela própria hidrelétrica. Há também protótipos de caminhões, miniônibus e utilitários que circulam internamente na usina.
A iniciativa começou em 2004 a partir de um termo de cooperação tecnológica com a empresa suíça de energia Kraftwerke Oberhasli (KWO). Em 2006, surgiu o VE e foi selada a primeira parceria com a Fiat. Com o tempo, Iveco, Mascarello, Agrale e Renault aderiram ao projeto, além de empresas de energia e produtores de baterias, acessórios de eletrônicos e motores.
Os veículos são dotados de sistema de abastecimento normal (8 horas de recarga), semi-rápido (3 horas de recarga) e rápido (30 minutos de recarga). Podem ser abastecidos em uma tomada similar a de um ar-condicionado na tensão de 220 volts.
Uma carga de 20 kWh permite o veículo elétrico rodar em torno de 120 quilômetros, o que representa uma economia relativa a cerca de quatro vezes o valor da mesma distância percorrida com gasolina. "Por ter motor elétrico, o carro tem uma altíssima taxa de eficiência e baixíssimo ruído e impacto ambiental", explica o coordenador geral brasileiro do VE, Celso Novais.
Desde 2004, foram fabricados 84 protótipos, entre carros de passeios, ônibus e caminhões que são usados na Itaipu e destinados para empresas de energia parceiras. Oito eletropostos para abastecer os veículos já estão espalhados por Foz do Iguaçu, a maioria em hotéis. O interesse de Itaipu com essa plataforma é divulgar e auxiliar o desenvolvimento de tecnologia para a produção no mercado nacional.
Meio ambiente
Cultivando Água Boa revoluciona o modo de ser e pensar de agricultores
Uma revolução verde está em curso na Costa Oeste com patrocínio da hidrelétrica de Itaipu. É o programa Cultivando Água Boa, que promove 69 ações ambientais em 29 municípios da Bacia do Rio Paraná. O projeto surgiu há uma década para combater problemas que afetam a qualidade da água e a produção de energia na usina: o assoreamento; o uso abusivo de agrotóxicos; o desmatamento; e a proliferação de algas, plantas aquáticas e do mexilhão dourado.
Em parceria com associações comunitárias, prefeituras, cooperativas e órgãos ambientais, o Cultivando Água Boa promove ações de educação ambiental e uso sustentável do solo e de recursos hídricos, além de incentivar a agricultura familiar e a sustentabilidade. Um esforço que, na prática, já mostra bons resultados.
Experiência
Morador da cidade de Pato Bragado, o agricultor Valmir Roque Anderle, 56 anos, trocou a agricultura convencional pela orgânica. Tudo começou quando decidiu participar de fóruns e reuniões sobre o assunto. Com o tempo, Anderle conheceu o Cultivando Água Boa e começou a se preocupar com a própria saúde, principalmente quando um amigo agricultor ficou doente após trabalhar muito tempo com aplicação de agrotóxico na lavoura.
O ex-plantador de soja trocou uma área de 40 alqueires por outra de 2,5 hectares e passou a ter muito mais qualidade de vida ao lado da esposa Clarice. "Não queria aquilo mais para mim. Hoje estou tranquilo. Fico mais com a família e a saúde melhorou", conta.
Chamado de Vida Orgânica, o projeto hoje tem adesão de pelo menos mil agricultores na Região Oeste. A sustentabilidade do projeto é garantida porque a venda de toda a produção de vegetais sem agrotóxicos é direcionada para a merenda escolar.
Vida e Cidadania | 1:00
Agricultor de Pato Bragado trocou o plantio de soja pelos orgânicos. Participação de Itaipu foi fundamental.
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