Fabíola Marques, da loja Terra do Esporte: fluxo de vendas cresce com a chegada dos campeonatos de beisebol e futebol americano.| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

A popularização de esportes poucos tradicionais no Brasil, como futebol americano e rugby, está acelerando o surgimento e a expansão de negócios focados nessas modalidades, que já constituem um nicho relevante. Fabricantes de materiais esportivos, emissoras de televisão e lojas virtuais são os principais beneficiados pela consolidação do novo público consumidor, interessado nos campeonatos estrangeiros e, eventualmente, praticante dessas modalidades.

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Rugby é aposta; hóquei ainda tem dificuldade

O rugby é visto pelo mercado como um esporte com bastante potencial de crescimento, capaz de repetir a popularização experimentada pelo futebol americano. Um dos fatores que sustentam a expectativa é o fato de o esporte integrar a Olimpíada do próximo ano, no Rio de Janeiro. A ESPN também aposta na transmissão, a partir de julho, da Copa do Mundo da modalidade. “É o terceiro maior evento esportivo do mundo”, destaca German Hartenstein, diretor-geral da ESPN no Brasil.

A Topper mantém, há quatro anos, uma política de estímulo ao crescimento do rugby, patrocinando a Confederação Brasileira e desenvolvendo produtos para a prática do esporte – a empresa informa que, como a modalidade é incipiente, as vendas não tem grande volume, mas espera expansão gradativa, em especial devido à visibilidade que os Jogos Olímpicos vão gerar.

Por outro lado, o hóquei é, entre os principais esportes estrangeiros, o que tem menos penetração no Brasil, em especial pela dificuldade de prática, que exige quadra de gelo e habilidade em patinação. “NFL e NBA estão em patamares bem acima. No caso do hóquei, é mais uma aposta que a gente faz de mostrar ao público brasileiro como funciona um novo esporte”, diz Hartenstein.

O beisebol tem regras e dinâmica mais complexas, mas compensa essa dificuldade com a tradição da venda de bonés e com a exploração de marcas conhecidas, como a do New York Yankees. Já o hóquei não tem esse trunfo, e a construção de mercado é mais difícil. O esporte é o que tem menos participação de vendas em lojas virtuais especializadas em modalidades americanas. (RC)

Dois esportes americanos ganharam, neste ano, relevância na tevê a cabo brasileira, refletindo esse interesse crescente: o SporTV passou a transmitir jogos da liga de basquete (NBA), enquanto a ESPN registrou a maior audiência de um jogo de futebol americano para canais fechados do país, com 500 mil pessoas assistindo ao Super Bowl, jogo final da liga do esporte (NFL).

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O crescimento de público tem impacto nas receitas de quem transmite as partidas. A ESPN dobrou, entre 2013 e 2014, o volume de recursos arrecadados com a venda de publicidade para a temporada de futebol americano. O canal, que durante alguns anos transmitiu os jogos sem cobrir as despesas, opera no azul há cerca de três anos. “Depois do investimento acumulado e do esforço contínuo, os resultados começaram a vir – e foram surpreendentes, inclusive para os americanos. Temos tido um crescimento fantástico”, diz o diretor-geral da emissora no Brasil, German Hartenstein.

O crescimento do nicho está diretamente relacionado à consolidação da prática desses esportes entre os brasileiros, com a organização de ligas e de campeonatos nacionais – neste ano, pela primeira vez, o Brasil irá disputar o Mundial de futebol americano, em julho. Contribui para isso o interesse das próprias ligas no mercado local: NBA e MLB têm promovido diversos eventos no país, como jogos amistosos e programas de treinamento.

Lojas virtuais crescem

O varejo, em especial o virtual, também se beneficia do fenômeno. A Netshoes, líder no e-commerce de artigos esportivos no Brasil, percebeu o potencial do mercado e, no último ano, ampliou em sete vezes o volume de produtos relacionados ao futebol americano, que chegaram a 140 itens – nos próximos meses, a meta é chegar 200, de todos os 32 times da liga. “A modalidade está muito em evidência. O torcedor ou praticante está mostrando cada vez mais afinidade com os times, procurando produtos específicos de cada equipe”, conta o diretor comercial da empresa, Marcelo Chammas.

Atletas recorrem a equipamentos usados

Com preço elevado, os equipamentos profissionais para a prática de futebol americano – capacete e protetores para tórax e ombros, chamados de “shoulder pad” – são bastante comercializados entre os próprios praticantes do esporte.

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A Big4, sediada em Santa Catarina e uma das pioneiras na venda virtual de artigos dos esportes americanos, teve crescimento de 150% nas vendas ligadas à NFL em 2014. O esporte é responsável por cerca de metade das vendas da loja, seguido pelo beisebol. A empresa fechou, recentemente, uma parceria internacional para vender equipamentos profissionais da modalidade (leia mais nesta página).

Fornecedora oficial de bonés das ligas de beisebol e futebol americano, a New Era inaugurou há sete meses uma loja virtual, que tem colhido bons resultados. O carro-chefe é a MLB, que responde por metades das vendas do site e que tem no uso do boné uma tradição entre atletas e torcedores.

O fluxo de vendas costuma ser sazonal, variando conforme o período do ano. “Quando chega a época de campeonatos, a procura aumenta e os produtos saem consideravelmente”, conta Fabíola Marques, responsável do departamento de marketing da loja Terra do Esporte, que vende produtos de beisebol e futebol americano em Curitiba.

Esse comportamento atrelado à disputa de competições é visto como mais um sinal de que o público está se fidelizando ao esporte e sustenta as expectativas de crescimento contínuo do nicho nos próximos anos.

Times populares têm apelo esportivo e “fashion”

Os produtos de esportes americanos vendidos no Brasil têm dois apelos principais junto ao público: esportivo, junto a consumidores que acompanham as modalidades e têm preferência por alguma equipe; e de moda em que o design do produto é o único motivador da compra.

O principal símbolo do comércio ancorado no estilo é o time de beisebol New York Yankees, cujo símbolo – as letras N e Y estilizadas e fundidas – é muito popular. “O pessoal nem sabe o que o símbolo é, mas está usando um boné com ele. É uma marca fashion, que transcendeu o esporte”, diz o empresário Reyton Scheffel, proprietário da Big4, que vende produtos de esportes americanos pela internet. O boné do time foi o primeiro produto a se destacar na loja virtual brasileira da New Era, fornecedora oficial do produto.

Na liga de futebol americano (NFL), processo semelhante ocorre com o time Oakland Raiders – que, a despeito de ter sido campeão pela última vez há quase 35 anos, tem boa entrada entre clientes interessados em moda. O chamariz também está no escudo: um pirata, com olho vendado e sobreposto a duas espadas cruzadas. “Representa certa ‘cultura gangster’, pois o time é de uma região [Oakland, na Califórnia] conhecida por ter gangues”, explica Scheffel.

Pelo lado esportivo, destacam-se equipes com conquistas recentes, como San Antonio Spurs (basquete) e New England Patriots (futebol americano), vencedoras de diversos campeonatos de suas respectivas ligas nos últimos anos. No caso dos Patriots, também explica a popularidade da equipe o fato de o principal jogador do time, Tom Brady, ser casado com a modelo brasileira Gisele Bündchen, vista como espécie de “embaixatriz” da equipe no Brasil – o dono da franquia, Robert Kraft, disse ter carinho pelo país e anunciou a intenção de promover amistosos aqui.

Há, ainda, as equipes consideradas tradicionais, que se consolidaram no imaginário do público brasileiro após séries vitoriosas ou boas ações de marketing. O basquete traz bons exemplos, como os de Chicago Bulls, que remete à figura vitoriosa de Michael Jordan; e Los Angeles Lakers, representado por Magic Johnson. Nos demais esportes, destacam-se, nesse contexto, San Francisco 49ers e Dallas Cowboys (futebol americano), Boston Red Sox (beisebol) e Anaheim Ducks (hóquei). (RC)

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