
As ações da Petrobras decolaram ontem, com a notícia da saída de Graça Foster da presidência da empresa (demorou, não?). A notícia alivia um pouco as perdas dos investidores em ações da companhia, mas não significa uma mudança de rumo não ainda, pelo menos. Até porque a queda anterior foi intensa e incomum, na comparação com concorrentes globais.
O gráfico ao lado mostra como se comportaram diante da queda nos preços do petróleo as ações das cinco maiores companhias petrolíferas de capital aberto do mundo, e também as da Petrobras. As barras representam a variação das cotações entre 28 de julho de 2014 (alguns dias antes de começar o mergulho nos preços internacionais do óleo) e 2 de fevereiro de 2015. Excluem, portanto, o fechamento de ontem e o de hoje (sim, a bolsa de Hog Kong já estava fechada enquanto eu escrevia estas linhas). Os valores são das bolsas dos países de origem de cada empresa. No período, o preço do óleo cru na bolsa de mercadorias de Nova York caiu 46,9%.
Como se vê, todos perderam, e perderam bastante, mas ninguém se saiu tão mal quanto a Petrobras. Em média, essas cinco grandes perderam 16,3% de seu valor nesses seis meses e pouco. A estatal brasileira desvalorizou-se em 57%.
Portanto, se alguém estiver interessado em medir o real impacto da crise Lava Jato sobre os papéis da Petrobras, pode trabalhar com a diferença entre os dois números, algo como 40 pontos porcentuais. Não é pouco.
As russas
Mundo afora, as únicas empresas de peso que ganharam valor nesse período foram as russas Gazprom e Rosneft, mas por razões internas: o fim de julho e o começo de agosto foi o período mais tenso da crise entre a Rússia e a Ucrânia, com reflexos para o comércio de óleo e gás com a União Europeia.
Auditoria
Ok, nenhum auditor externo assina o tal balanço da Petrobras, mas o que isso significa?
A auditoria feita por uma empresa independente é um aliado do investidor, porque (em teoria) impede que a companhia pinte e borde, usando contabilidade criativa para inflar seus números.
A ideia é boa. Dito isto, é preciso observar que auditoria nenhuma captou os graves problemas que afetaram empresas e fundos nos últimos 20 anos. Podem ter sido escândalos, como no caso de WorldCom e Enron, ou negócios arriscados, como no caso de Fannie Mae e Freddie Mac (estes, na crise das hipotecas americanas, na década passada). Pode ser no Brasil, como no caso das perdas financeiras de Sadia e Aracruz, em 2008. Em nenhum desses casos houve sequer um pio das companhias que auditaram os balanços antes do desastre embora, claro, as razões da crise já estivessem lá.
No caso da Petrobras não seria diferente. Aliás, não foi. A Petrobras faz rodízio de seus auditores, e, nos últimos dez anos, as demonstrações financeiras da companhia foram submetidas às três grandes globais: Ernst&Young, KPMG e Pwc. Ninguém viu nada errado.
Depois da Operação Lava Jato, creio que não haveria por que auditor algum temer olhar para os números da companhia afinal, a PF e o Ministério Público estão quase dizendo onde olhar para encontrar os problemas.
A consultoria Arthur Andersen quebrou depois dos processos movidos na época da quebra da Enron. Os auditores da Petrobras devem estar preocupados com consequências desse tipo, principalmente porque a companhia está listada no mercado dos EUA. Mas não deveriam. Deviam é se envergonhar da aprovação de balanços passados.
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