O sociólogo Jessé Souza assumiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com a credencial de quem é um dos grandes estudiosos de classes sociais no Brasil. Uma mudança que ele quer instituir no órgão é dar um foco no entendimento das diferentes classes para, como ele explica na entrevista a seguir, criar estratégias de aumento da produtividade do país.
Quais são os planos para o Ipea?
Como órgão da Secretaria de Estudos Estratégicos (SAE), queremos municiar a ação do governo a curto, médio e longo prazo. Manter o que vem sendo bem produzido e criar mais dois projetos estratégicos. Um deles está com título provisório de “Radiografia do Brasil Moderno – onde estamos e para onde podemos ir?”.
É uma nova pesquisa?
É um estudo importante e inédito, porque vai unir três perspectivas. A primeira é o conhecimento estatístico dos grandes dados. Mas os números não falam por si, precisam ser interpretados. E, para serem adequadamente interpretados, têm que ser enriquecidos por uma perspectiva muito mais difícil de ser percebida, que é como as pessoas pensam e interpretam o mundo.
É uma espécie de super censo?
Sim, mas não é censo, porque o censo só dá o dado. Vai ter o tratamento estatístico refinado, junto com um estudo compreensivo sobre as classes sociais. Interessa descobrir como capacitar essa classe de trabalhadores, para que ela seja capaz de assimilar novas tecnologias e aumentar sua produtividade. Para isso, é necessário entender como se dão as várias dimensões da sociedade.
A ideia é dotar a instituição educativa, a de saúde, a de treinamento profissional de uma inteligência para adaptá-las às necessidades das pessoas.
Parece bastante ambicioso...
O Ipea é um instituto de pesquisa aplicada, não adianta só saber dados estatísticos e ter a compreensão das classes sociais. Para mim, a pesquisa só faz sentindo se é aplicada, se melhora a vida das pessoas. A ciência existe para melhorar a vida das pessoas ou não merece esse nome. A gente quer compreender quem são os brasileiros para melhorar a vida deles. O terceiro eixo será inovação institucional.
A melhora seria via instituições?
Exatamente, construindo uma inteligência institucional. As pessoas estão sempre dentro de alguma instituição, que são os grandes elementos para melhoria da vida de homens e mulheres comuns. A ideia é dotar a instituição educativa, a de saúde, a de treinamento profissional de uma inteligência para adaptá-las às necessidades das pessoas. Fazer com que diminua o que se poderia chamar de má-fé institucional. O que é isso? As instituições normalmente prometem uma coisa e frequentemente entregam outra. Não tem nenhuma maldade das pessoas. Não é isso. Acontece que a lógica institucional faz com que o resultado seja diferente da intenção original. A sociedade brasileira sempre fez política para a classe média. Nos últimos dez ou 15 anos, houve ascensão enorme de pessoas que estão entrando em novas instituições e que vêm de uma vivência distinta da de classe média.
Até pouco tempo, o discurso da SAE e do Ipea era que a ascensão desse grupo fez o Brasil ter mais da metade da população na classe média. O senhor é um crítico da definição de classe média apenas com base na renda. E agora? O Brasil deixa de ser país de classe média?
É inegável que houve ascensão. Foram pessoas que estavam excluídas da sociedade e entraram no mercado competitivo, como trabalhadores e consumidores. Entrar no consumo é a dimensão mais importante. Só não se pode dizer que sejam classe média porque a classe média é rigorosamente uma classe privilegiada, e essas pessoas não são privilegiadas.
Então este grupo continua no foco?
Este grupo é o foco central da capacitação. Para atender às demandas das empresas, para ter um trabalhador mais produtivo, um pequeno empresário que possa achar seu nicho de negócio, compreender as variáveis complexas da economia. Como fazer? Esse é o desafio que a gente quer encarar de frente.
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