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Em 13 anos, o total de famílias formadas por casais com filhos e chefiadas por mulheres cresceu 10 vezes, passando de 3,4%, ou 247.795 famílias, em 1993, para 14,2%, ou 2.235.233 lares, em 2006. Os dados divulgados nesta terça-feira (9) fazem parte da 3ª edição da pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher e Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

O levantamento teve como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 1993 a 2007.

O estudo revela que ao longo da última década, a proporção de famílias chefiadas por mulheres passou de 19,7% em 1993 para 28,8% em 2006. "Supondo-se um padrão de família tradicional formado por mãe, pai e filhos, sem considerar os novos arranjos familiares contemporâneos, esse dado nos leva a pensar num horizonte cultural mais igualitário entre homens e mulheres dentro das famílias, seguido de maior empoderamento para as mulheres", diz o texto da pesquisa.

A doméstica Ana Lúcia Cardoso, 53 anos, faz parte dessa nova realidade dos lares brasileiros apontada pelo Ipea. Desde os 28 anos, quando teve a primeira das duas filhas, ela é responsável pelo lar. Com R$ 600 de renda, ela sustenta um das filhas, três netos e o genro, que está desempregado.

- É um aperto, porque se for calcular o aluguel que custa R$ 300 dá para ter uma idéia da dificuldade. Meu genro está desempregado, faz alguns bicos e ajuda com as contas de água, mas a gente sabe que o que pesa mesmo [no orçamento] é a comida. Em alguns meses, compro R$ 300 de comida, mas três crianças pequenas gastam muito - afirmou.

Participação feminina no mercado de trabalho vem aumentando

A pesquisa revela ainda que as mulheres vêm aumentando sua participação no mercado de trabalho nos últimos anos. Se, em 1996, 46% da população feminina estava ocupada ou à procura de emprego, em 2006, o percentual subiu para 52,6%. O índice ainda é "significativamente" inferior ao dos homens, de 72,9% no mesmo ano.

Segundo o Ipea, o aumento da escolaridade feminina, a queda da fecundidade, as novas oportunidades oferecidas pelo mercado e as mudanças nos padrões culturais são as principais causas do aumento da participação feminina no mercado de trabalho.

A pesquisa não levou em conta o trabalho realizado predominantemente pelas mulheres, como os afazeres domésticos, que não são contabilizados do ponto de vista econômico quando não realizados de forma remunerada.

Segundo o estudo, do ponto de vista regional, chama a atenção a maior participação no mercado de trabalho das mulheres da Região Sul, onde também são verificadas as maiores taxas de ocupação da população feminina.

De acordo com o estudo, em 2006, 31,3% das famílias que vivem nas zonas urbanas eram chefiadas por mulheres, um crescimento de 9,6 pontos percentuais em relação a 2003. Nas áreas rurais, no mesmo período, o percentual de mulheres que chefiavam as famílias era de 14,6%, o que corresponde a uma elevação de 3,2 pontos percentuais na comparação com 2003.

" Em se tratando de um fenômeno de natureza tão complexa, como são as transformações de padrões culturais e visão de mundo, do ponto de vista simbólico uma mudança desse tipo num período de dez anos é significativa e impactante. Tais dados, tais mudanças apontam para um questionamento do lugar simbólico do homem como o provedor exclusivo", acrescenta o estudo.

Estudo também revela que negros entram mais cedo no mercado de trabalhoA pesquisa também mostra que os negros entram mais cedo e deixam o mercado de trabalho mais tarde do que os brancos, tanto homens quanto mulheres. O estudo revela que entre a população negra com 60 anos ou mais, 34,7% encontravam-se ocupados ou em busca de trabalho em 2006, comparados a 29,3% da população branca na mesma faixa etária.

De acordo com o Ipea, o dado pode ser explicado pelas formas mais precárias de trabalho vividas pelos negros. Isso faz com que essa parcela da população não tenha garantia de proteção social na velhice, impedindo que um número maior de trabalhadores negros tenha acesso à aposentadoria.

Em relação à renda, a pesquisa mostra que os negros recebem menos do que os brancos em todas as regiões do país. Em 1996, os brancos tinham renda média de R$ 1.044,2, enquanto a dos negros era de R$ 483. Em 2006, apesar da diferença de renda entre brancos e negros ter diminuído, os brancos ainda aparecem com renda maior (R$ 986,5) em relação aos negros (R$ 502).

O levantamento mostra também que as mulheres e os negros são a maioria dos desempregados ou dos que estão à procura de emprego. As mulheres respondem por 11% do total de desempregados, enquanto negros totalizam 7,1% - os homens são 6,4% e os brancos 5,7%.

No que se refere à escolaridade, o estudo indica que, em 1996, 82,3% dos negros estavam matriculados em etapas do ensino fundamental adequadas à sua idade e apenas 13,4% no ensino médio. Em 2006, essa porcentagem subiu para 94,2% no ensino fundamental e 37,4% no médio. A proporção de negros e negras que estudavam no ensino médio, entretanto, ainda é muito menor.

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