A indústria jornalística brasileira tem uma nova proposta para se relacionar com o mercado publicitário. Durante um ano de trabalho, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) discutiu uma completa reestruturação do modelo de negócio, incluindo novas métricas de audiência e enfoque na valorização da credibilidade dos veículos, que abastecem suas multiplataformas.
"Precisamos resignificar a palavra jornal. Não se limita somente ao papel, está ligado também ao que está na web, tablet e smartphone. Jornal é sinônimo de informação de qualidade, apoiada na sua credibilidade e relevância na sociedade", disse a diretora da Unidade de Jornais do Grupo GRPCom, Ana Amélia Filizola, diretora da ANJ, na abertura do 10.º Congresso Brasileiro de Jornais. O evento reúne representantes dos 130 jornais associados, além de profissionais de mídia e mercado publicitário no World Trade Center, em São Paulo.
A reestruturação, baseada na metodologia da disrupção, que propõe a quebra de antigas fórmulas para inovação, levou à criação de duas ferramentas de venda de anúncios. A Digital Premium oferece a publicação simultânea nos sites dos nove maiores jornais do país (veja quadro nesta página). A expectativa da entidade é atrair o maior número de associados. Para participar, o veículo precisa cumprir exigências tecnológicas para se adequar à ferramenta.
A partir de setembro, um pacote de quatro inserções uma por semana poderá ser negociado e comprado por meio da ferramenta on-line, que será administrada pela empresa Predicta, ligada ao Grupo RBS. O faturamento dos anúncios será rateado entre os veículos de acordo com a participação na audiência. O produto será apresentado ao mercado publicitário hoje, último dia do congresso, e o lançamento oficial está marcado para o dia 21.
Marketplace
Outra ferramenta que vai unificar os jornais e facilitar o trabalho entre agências e anunciantes será o Marketplace de Jornais, um banco de dados que vai reunir informações de audiência, preço, formatos e circulação para negociação e compra de anúncios nos veículos impressos. O Marketplace deve começar a funcionar no início do ano que vem.
O debate sobre ações de reposicionamento dos jornais diante do mercado contou ainda com a participação do presidente executivo do GRPCom, Guilherme Doring Cunha Pereira.
Os participantes do congresso também debateram a chamada "publicidade nativa". Novo nome dado aos já conhecidos "publieditoriais", conteúdos patrocinados por uma marca, mas produzidos por jornalistas. A prática, que a cada dia conquista mais adeptos no exterior, a exemplo dos jornais The New York Times e Wall Street Journal, vem sendo apontada por especialistas como um novo modelo de negócios para o meio.
O tema foi apresentado pelo jornalista holandês Ebele Wybenga, autor do livro The Editorial Age, que mostrou exemplos bem-sucedidos de conteúdo patrocinado e ressaltou a necessidade de manter os limites entre as áreas editorial e comercial. "É fundamental que esse tipo de jornalismo seja produzido fora das redações, para que os veículos não percam sua credibilidade junto aos leitores, e que fique claro de que se trata de um conteúdo pago por um anunciante", explicou.