Você pode aprender grandes lições em filmes infantis. Sobre economia e finanças, inclusive.Em uma cena de Mary Poppins, o senhor Banks pai das crianças cuidadas pela babá mágica cujo nome dá título ao filme leva seus filhos para conhecer o banco onde ele próprio trabalha. No caminho, Michael e Jane se encantam com uma senhora que vende saquinhos de migalhas para alimentar pássaros e se propõem a comprar um deles com a moedinha que levavam. Há nisso um duplo objetivo, o de ajudar a mulher idosa e o de se divertir dando de comer aos animais. George Banks, entretanto, vê a situação como um momento apropriado para ensinar sobre poupança aos seus filhos.
A argumentação de Banks se dá na divertida cena da música Fidelity Fiduciary Bank, onde ele e os caquéticos sócios da instituição tentam convencer as crianças que uma moedinha investida no banco se transformará em conquistas pessoais e fará parte de grandes empreitadas, como ferrovias na África, barragens no Rio Nilo, frotas de navios mercantes e plantações de chá. Como nada disso faz efeito, Michael exige seu dinheiro que, a essa hora, já está na mão de Dawes, o presidente do banco. Este se recusa a entregá-lo. Um cliente da instituição ouve a altercação e fica com medo. Se não estão querendo pagar alguém, talvez não queiram me pagar também, pensa. E resolve sacar todo seu dinheiro. Outro cliente, ao ver isso, faz o mesmo. Em segundos, instala-se um boato sobre a insolvência do Fidelity Fiduciary Bank, inicia-se uma corrida aos caixas e alguém manda fechar as portas do banco, antes que não haja como pagar a todos.
No filme, tudo termina bem, com o velho presidente do banco morrendo de tanto rir. Seu filho e sucessor readmite Banks, que havia deixado a instituição após o incidente. Na vida real, boatos que levam a ondas de saques podem ser fatais para uma instituição financeira. José Eduardo Andrade Vieira, ex-presidente do Bamerindus que morreu há poucos dias, sempre dizia que o banco tinha condições de se reerguer, apesar das dificuldades por que passou. Não o fez, entre outras razões, porque o Banco Central deixou correr soltos boatos sobre sua situação.
Havia um bom tempo que não tínhamos esse tipo de boataria. Até que, na semana passada, correu o papo de que haveria um confisco seletivo de saldos das cadernetas de poupança, afetando clientes da Caixa Econômica Federal. À medida que a conversa corria, passou a abranger também o Banco do Brasil. Se o leitor ouviu isso e ficou em dúvida, anote aí: é mentira. Mentira maldosa, que talvez tenha sido bolada para prejudicar o governo federal, mas que só serve para prejudicar as pessoas mais simples, com menos acesso à informação. Essas, se sacarem seus recursos, poderão ficar sem proteção alguma ou à mercê de aproveitadores.
Além disso, a possibilidade de saques em massa de cadernetas de poupança em especial nas da Caixa coloca em risco o sistema de crédito habitacional do país, que tem como principal fonte de recursos justamente as cadernetas.
Notícias falsas devem ser abatidas na casca. Não passe adiante.
Informação de onde?
O surgimento e a propagação de histórias como essa colocam em xeque a ideia de que as redes sociais e blogs podem ser fontes confiáveis de informação. Enquanto circulou pelo Whatsapp, o boato cresceu. Recuou quando a imprensa tradicional noticiou a nota do Ministério da Fazenda negando a história.
Credibilidade é o que faz a diferença.
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