Sob a pressão dos preços, das dívidas e das incertezas em alta, famílias, empresas e governo cortaram despesas ao mesmo tempo e derrubaram a economia do país no primeiro trimestre deste ano. Medida da produção e da renda nacional, o Produto Interno Bruto (PIB) do período encolheu 0,2% na comparação com os últimos três meses de 2014, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (29) pelo IBGE.
A taxa não foi tão ruim quanto se temia – os cálculos do Banco Central, por exemplo, apontavam uma queda de 0,8%. É o detalhamento dos dados, no entanto, que mostra a extensão dos danos. Numa rara combinação, as compras de bens e serviços despencaram em todas as modalidades: consumo, investimentos e custeio do governo federal, dos estados e das cidades.
Ainda mais anômala é a coexistência de uma recessão em andamento, com queda de empregos e salários, e a inflação mais elevada desde 2003 – trata-se, em uma palavra, da “estagflação”, na versão mais evidente em 12 anos.
O cenário resulta de desequilíbrios acumulados ao longo do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que exigiram uma reviravolta brusca da política econômica após a reeleição. A expansão contínua dos gastos públicos nos últimos anos elevou a dívida pública, alimentou a inflação e minou a confiança de empreendedores e consumidores.
Mal no ranking
A queda do PIB de 1,6% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2014 deixou o Brasil no 31º lugar em um ranking de 33 países elaborado pela Austin Rating. O Brasil só superou as economias da Rússia e Ucrânia, que tiveram resultados negativos em 1,9% e 17,6% nos três primeiros meses do ano na comparação anual, respectivamente. “A Ucrânia ainda sofre com os efeitos negativos da severa guerra vivida com a Rússia. Esta última ainda contabiliza problemas como a queda do preço do barril de petróleo, forte desvalorização do rublo, elevada taxa de juros, fortes sanções ocidentais e conflitos políticos “, afirmou o economista-chefe da instituição, Alex Agostini.
Os ajustes de agora incluem bloqueio de despesas, aumento de impostos, de tarifas públicas e de juros. Em outras palavras, o governo é obrigado a deprimir ainda mais uma economia já prostrada – e que ainda não chegou ao fundo do poço.
Os números da economia brasileira no primeiro trimestre não são, ao menos por enquanto, tão ruins quanto os da recessão anterior, na virada de 2008 para 2009. Naquele período de agravamento da crise internacional, o PIB teve quedas trimestrais de 4,1% e 2,2% em sequência.
Mas as alternativas da política econômica eram, então, mais simples: a inflação, como costuma acontecer, entrou em trajetória de queda com a freada do comércio, permitindo ao governo reduzir juros, conceder incentivos tributários e elevar gastos para reanimar o mercado. Já a estratégia atual se limita a esperar que, mais à frente, o ajuste fiscal e o controle da inflação restabeleçam a confiança de empresas e famílias no futuro.
Ladeira abaixo
Uma das principais marcas da administração petista, a expansão do consumo das famílias sofreu neste ano sua interrupção mais explícita. No primeiro trimestre, as compras caíram 1,5% e ficaram 0,9% abaixo do patamar de um ano atrás – foi a primeira queda nessa base de comparação desde 2003, primeiro ano do governo Lula.
O crescimento iniciado na década passada foi impulsionado por ascensão social, programas de transferência de renda e ampliação do crédito. A queda de agora resulta de inflação, desemprego e juros mais elevados.
Projeções
Na ausência de motores econômicos, as expectativas pessimistas não se limitam a este ano: governo e analistas de mercado concordam que haverá queda do PIB neste ano – as apostas se concentram entre 1% a 2% – e uma recuperação modesta em 2016 – 1% já parece otimismo.
Queda nos EUA
Prejudicada por um inverno rigoroso e a valorização do dólar, a economia americana registrou contração no primeiro trimestre, segundo dados revisados divulgados pelo Departamento do Comércio nesta sexta-feira (29). O PIB dos Estados Unidos caiu 0,7% entre janeiro e março – a primeira estimativa era de crescimento de 0,2%. Apesar de mais fraco, o número ficou acima da expectativa do mercado financeiro, de queda de 1%. O consumo das famílias, que representa mais de dois terços do crescimento, registrou elevação de 1,8% no trimestre. O número ficou bem abaixo dos 4,4% do quarto trimestre. O investimento privado caiu 2,8%, a maior redução desde o fim de 2009.
Investimento recua pelo 7.º trimestre seguido
- rio de janeiro
Com o fraco consumo das famílias, exportações ainda sem deslanchar e governos retraindo gastos públicos, sobra para o investimento o papel de motor do crescimento. Mas, até o momento, o resultado do segmento está aquém do esperado: o indicador de investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) do PIB registrou, no primeiro trimestre, queda de 1,3% – a sétima seguida – na comparação com os três meses anteriores.
Foi a pior sequência de resultados negativos, nesse tipo de cálculo, desde o início da série histórica, em 1996. E, mesmo com a promessa de um novo pacote de concessões federais na área de transporte, vai demorar para os investimentos puxarem o PIB.
Se os três primeiros meses do ano foram ruins , o segundo trimestre deve ser ainda pior, apontam indicadores da atividade econômica em abril. Chamados de antecedentes, eles ajudam a medir o que ocorre na economia real e sinalizam tendências.
É o caso do papelão ondulado. Usado na confecção de embalagens, é um valioso indicador de produção. No mês passado, segundo dados da ABPO, associação do setor, as vendas ficaram 2,2% abaixo das de abril de 2014. O fluxo de veículos pesados, que capta o transporte de mercadorias, caiu 6,1% no primeiro mês do segundo trimestre frente ao mesmo período de 2014 , de acordo com a associação de concessionárias de rodovias.
Também houve retração de 25% em abril no licenciamento de veículos novos, que indica como andam as vendas. Já o consumo de energia seguiu em queda no ano pelo quarto mês consecutivo.
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