Considerado um ativo seguro em momentos de crise, como a que enfrenta a Grécia e a que ameaça o mercado acionário da China, o ouro tem sido pouco buscado por investidores nesse período de instabilidade e é visto como uma aplicação arriscada e pouco indicada, inclusive no Brasil, onde se tornou dependente do dólar para seguir dando bons resultados.
INFOGRÁFICO: acompanhe a cotação do ouro ao longo dos últimos meses
A cotação internacional do metal está em queda e não há indicativos de que deva se recuperar em curto prazo, principalmente por causa da reação da economia americana. Negociado na Bolsa de Nova York, o ouro fechou o mês de julho cotado a US$ 1.095 a onça-troy – valor que representa recuo de 17% sobre os US$ 1.282 que valia ao fim de janeiro.
Apesar do recuo global, o metal não perdeu valor no Brasil, já que a precificação local é influenciada pela taxa de câmbio. A forte valorização do dólar – que acumulou, em julho, alta de 10% sobre o real – compensou a depreciação internacional do metal. Assim, o ouro segue com saldo positivo neste ano: encerrou julho com o grama cotado a R$ 119, valor 9% superior aos R$ 109 do fim de janeiro.
Em virtude da forte vinculação à moeda americana, investir no metal exige atenção especial ao câmbio. Superintendente de private banking do Fator, Rodrigo Marcatti avalia que essa característica torna a aplicação excessivamente arriscada. “Quem negocia ouro no Brasil compra mais a variação cambial do que o próprio ouro”, explica.
Consultora de investimentos da Corretora Órama, Sandra Blanco vê o investimento com a mesma ressalva. Ela destaca o perigo da “volatilidade dupla” do produto e não recomenda mais de 10% de aplicação em itens com essa composição. “Tem dois fatores em jogo e pode acontecer de ouro e dólar caírem ao mesmo tempo”, exemplifica.
Bolsa e fundos
A maneira mais popular de adquirir o metal é por meio de negociação na BM&FBovespa, que trabalha com a medida padrão de 250 gramas, hoje orçada em cerca de R$ 30 mil, mas também oferece versões fracionadas. Como o volume de negócios é baixo, o investimento tem pouca liquidez, o que representa uma barreira e o torna menos atraente. Marcatti relata que um cliente teve de aguardar duas semanas para conseguir aportar R$ 1 milhão em ouro, diante da dimensão reduzida do mercado.
Outra possibilidade é aplicar via fundos de investimentos – há dois principais, no mercado brasileiro. Um é oferecido pela Caixa, totalmente atrelado à cotação internacional e, em razão disso, com retorno de apenas 1,4% neste ano, até julho. O outro é da Órama, que também considera o câmbio e, assim, acumula ganhos de 14,7% no mesmo período. Os fundos partem de investimentos mínimos de R$ 1 mil (Órama) e R$ 5 mil (Caixa).
Outra opção é a compra de barras físicas, que pode ser feita com o aporte de valores inferiores aos praticados na Bolsa e, geralmente, atende a outras motivações.
Barra de ouro é fetiche e opção para presente
Embora a maior parte das negociações em ouro seja feita por meio de títulos ou certificados, sem contato físico com o metal, há quem prefira ter a posse das peças, com a tutela do ativo. A Tática Ouro, uma das empresas credenciadas para esse tipo de negócio, vende barras a clientes que, entre outras motivações, tem fetiche pelo metal e o buscam como opção de presente. Diretor da empresa, Renato Gitelman estima que cerca de 20% das compras têm este fim. “Tem gente que quer fazer joia ou dar ouro como presente de casamento”, relata.
O negócio é feito pela internet ou telefone, com entrega via Correios. “O cliente compra as barras menores, de cinco ou dez gramas, para ver como funciona”, conta Gitelman. Um dos atrativos da empresa é o fato de vender peças mais leves que as da Bolsa – o item de cinco gramas custa em torno de R$ 700.
Recuperação da economia americana derruba preço
A recuperação da economia dos Estados Unidos e a consequente apreciação do dólar são apontadas como as principais responsáveis pelo recuo da cotação internacional do metal. “O investidor não tem procurado o ouro como ativo de proteção. Ele sempre quer um porto seguro e os da vez são o dólar e os títulos do tesouro americano”, avalia a consultora de investimentos da Corretora Órama, Sandra Blanco.
Entendimento semelhante tem o superintendente de private banking do Fator, Rodrigo Marcatti, que vislumbra continuidade do movimento de depreciação do metal, à medida que a recuperação da economia americana se consolide. “Os Estados Unidos estão conseguindo sustentar um crescimento econômico, com criação de empregos e inflação controlada, e isso tem reflexo direto na moeda e no ouro.”
Sandra ressalva que a iminente elevação de juros americanos, que o Federal Reserve deve promover ainda este ano, não tende a impactar a cotação do ouro, pois o movimento dos investidores rumo ao mercado dos EUA já é uma antecipação dessa expectativa.
Debilidade econômica
Marcatti pondera que em crises mais intensas – como a imobiliária, de 2008 – houve procura mais forte pelo ouro e que esse movimento não se repete porque a debilidade econômica atual é mais pontual e menos aguda.
“O crescimento mundial está mais sólido, os Estados Unidos vão bem e a Europa, independentemente da Grécia, tem risco menor de se contaminar”, aponta.