Como se não bastassem a recessão econômica e a crise política, o investidor brasileiro passou a conviver com uma nova fonte de incertezas – uma fonte do tamanho da China. Os renovados temores de uma freada forte na segunda economia do mundo causaram estragos nos mercados globais no início da semana, e não devem sair tão cedo dos radares.
Em paralelo, corre a especulação sobre quando subirá a taxa de juros norte-americana, zerada desde o estouro da crise do crédito subprime, em 2008. A hipótese de aumento não é nova: é discutida por analistas e investidores desde 2013, pelo menos. Ganhou força nas últimas semanas, com os sinais de que a retomada norte-americana ganha consistência. Mas voltou a ser posta em dúvida após as más notícias vindas da China.
Ninguém pode afirmar com certeza se a desaceleração chinesa será feia mesmo, ou se o juro nos Estados Unidos subirá já em setembro ou só em dezembro, ou nem isso. Mas esse ambiente de dúvida, por si só, já é suficiente para pressionar (para baixo) as ações da BM&F Bovespa e (para cima) as cotações do dólar.
É que em momentos como esse os grandes investidores, estrangeiros na dianteira, tiram dinheiro de ativos de risco em mercados periféricos e o levam ao porto seguro dos títulos do Tesouro norte-americano, ainda que a remuneração destes continue em zero. Assim, aplicar em câmbio ou ações neste momento é para investidor qualificado, ou para quem busca fortes emoções.
Em contrapartida, o cenário reforça a atratividade das aplicações de renda fixa, como títulos do Tesouro Direto, CDBs, LCIs e LCAs. Esses investimentos já vinham ganhando espaço com a contínua elevação da taxa básica de juros (Selic) – hoje em 14,25% ao ano, o maior nível desde 2006 – e tendem a atrair o dinheiro de investidores domésticos em busca de alguma segurança.
A subida do dólar em relação ao real pode ter efeito inflacionário, o que em tese levaria o Banco Central a promover novas altas na Selic. Mas em épocas de recessão o repasse do câmbio aos preços não é automático.
Além disso, a taxa já subiu tanto – e a economia brasileira está tão gelada – que analistas põem em dúvida a possibilidade de mais aumentos. “Nossa expectativa é de estabilidade da Selic. Mas, como existe um efeito do câmbio sobre a inflação, que já está em patamar bastante elevado, pode ser que a taxa básica demore mais tempo para cair”, diz Karina Freitas, analista da corretora Concórdia.
Para André Moraes, analista da XP Investimentos, “estamos em um excelente momento para a renda fixa”. Mas o investidor deve ficar atento, segundo ele, ao tipo de aplicação. Como o movimento de alta da Selic pode estar perto do fim, os títulos pré-fixados passam a ser mais interessantes – se adquirir um pós-fixado agora e o juro cair, o poupador perderá dinheiro caso venda o título antes do vencimento.