Ao mesmo tempo em que busca afirmação como meio de pagamento, a moeda virtual bitcoin é uma aposta entre investidores, que lucram com a variação de cotação da divisa, historicamente instável. Como é semelhante a uma operação cambial, o negócio é considerado arriscado, tem viés de longo prazo e se adequa a quem tem tolerância a perdas.
Criado há seis anos, o bitcoin passou a ser usado como aplicação financeira depois que a constante oscilação atraiu especuladores – a variação mensal se aproximou de 500%, entre outubro e novembro de 2013. “Em uma semana, cheguei a negociar uma mesma fração por R$ 10 e, depois, por R$ 80”, lembra André Horta, CEO e fundador da mineira BitcoinToYou, que funciona como uma espécie de casa de câmbio e corretora da moeda, e tem filial em Curitiba.
São empresas como essa que realizam as transações, física ou remotamente, cobrando taxas análogas às de corretoras de valores, próximas a 2%, conforme a natureza da operação. Também é possível negociar a moeda junto a empresas internacionais, que funcionam de maneira parecida com bolsas de valores – as principais ficam na China. A cotação da moeda varia de acordo com a intermediadora escolhida, seguindo uma referência global.
A BitcoinToYou afirma estar perto de alcançar a marca de 10 mil clientes, movimentando em torno de 2 mil bitcoins por mês – o número cresceu 200% no último ano e, convertido com base na cotação atual, representa R$ 1,3 milhão. Conforme a empresa, aproximadamente 30% do lucro dos investidores é trocado por reais, enquanto o restante permanece na carteira, para novas aplicações.
“Ouro 2.0”
Autor do livro Bitcoin – a moeda na era digital, o economista Fernando Ulrich diz que a analogia com o ouro define bem as características do investimento na moeda virtual. “Muito gente diz que o bitcoin é o ‘ouro 2,0´, por ser um ativo de proteção, que não tem valor lastreado e dispõe de oferta limitada”, explica, em referência ao fato de que a emissão será limitada a 21 milhões de unidades, em marca a ser atingida em 2140.
Uma vantagem é o fato de a divisa estar imune ao processo inflacionário, pois não sofre depreciação, em razão da escassez programada e da independência ante governos, já que não é tutelada por nenhuma autoridade monetária. “Esta é uma garantia muito atrativa do ponto de vista do investimento: você tem a certeza de que a oferta não crescerá repentinamente”, aponta Ulrich.
Na outra mão, a incerteza em relação à demanda é uma das fragilidades do investimento. Como ainda é pouco usada por empresas e consumidores no Brasil, a moeda não se firmou como meio de pagamento, o que contribui para a elevada volatilidade de preço.
Por isso, especialistas recomendam cautela e moderação na compra da moeda, que tende a dar resultados em médio ou longo prazo. “Eu acho arriscado alguém alocar mais de 5% do seu patrimônio em bitcoin. Eu não faço isso e não recomendo que se faça. É um ativo que, neste momento, tem bom potencial de futuro”, orienta Ulrich.