Os bancos brasileiros voltaram a aumentar os juros cobrados das famílias. De acordo com os dados divulgados nesta segunda-feira (27) pelo Banco Central, a taxa média cobradas de pessoas físicas subiu de 71% ao ano para 71,7% no mês passado. É a mais alta já registrada pelo BC nos empréstimos com crédito livre, ou seja, sem levar em consideração os financiamentos de casa própria.
A alta ocorre apesar da estabilidade da taxa básica de juros. No caso do cheque especial, a taxa média cobrada pelos bancos quebrou novo recorde. Subiu de 308,7% ao ano para 311,3% ao ano. É a maior dos últimos 22 anos.
O juro do rotativo do cartão de crédito teve um salto ainda maior: de 452,4% ao ano para 471,3% ao ano. Também a mais alta da série histórica.
Os bancos aproveitaram para cobrar mais de quem está disposto a renegociar as dívidas. Os juros médios nesse tipo de modalidade aumentaram de 54,7% ao ano para 56% ao ano.
Essas elevações são vistas num momento em que a inadimplência das famílias tem mostrado estabilidade. No mês passado, apenas o nível de calote em crédito livre subiu levemente, de 6,2% para 6,3%. Foi o primeiro movimento desse percentual, que estava estável desde dezembro do ano passado.
Estimativa para o crédito
A crise econômica foi tão forte nos primeiros meses deste ano, que os bancos negaram empréstimos para os clientes que demandaram. A procura também diminuiu porque, num período de incertezas, famílias e empresas procuram não comprometer renda futura.
Por isso, o Banco Central revisou sua estimativa para o crédito no Brasil. Antes, apostava que haveria um crescimento de 5%. Agora, a previsão é quase de estabilidade com uma alta de apenas 1% do saldo dos empréstimos no país: um sinal de que a recessão e a falta de confiança fizeram um estrago maior que o previsto antes. Na contramão, as instituições aproveitam para cobrar mais dos correntistas mesmo com o custo de captação do dinheiro mais baixo.
No ano passado, quando o país já estava em crise, o crédito cresceu 6,7%. O crédito direcionado continua a aumentar, mas o livre (aquele em que o banco escolhe como pode emprestar) cairá 1% neste ano. As instituições mais retraídas são as privadas nacionais. No ano passado, já diminuíram o saldo em 1%.
A queda em 2016 deve ser muito maior: 4%. A estimativa já leva em consideração os impactos da saída do Reino Unido da União Europeia.
“No mercado de crédito brasileiro, o funding (recursos que o banco tem para emprestar) é doméstico. O mercado financeiro está muito sólido, tem liquidez e provisionamento. Isso contribui para enfrentar esse momento”, argumentou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
Normalmente, os saldos de crédito tendem a crescer, já que, na contabilidade, entram os juros pagos. Para haver uma queda, é preciso uma retração forte nas concessões. Foi o que aconteceu nos quatro primeiros meses deste ano. Desde o início do ano, a queda foi de 2,3%, apesar de uma leve alta de 0,1% no mês passado.
“Não observávamos na série histórica quedas mensais. Isso reflete o dinamismo baixo da atividade econômica”, acrescentou o técnico da autoridade monetária.
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