A previsão negativa para a economia brasileira em 2016 deverá se refletir na Bolsa de Valores no ano que vem. E motivos é que não falta para se crer nisso. Na avaliação de economistas e analistas de mercado, as incertezas políticas que rondam o Planalto, com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff sem conclusão; a previsão de uma inflação acima do teto da meta, de 6%; a escalada da taxa básica de juros, hoje em 14,25%; a elevação do dólar, que poderá chegar aos R$ 4,20; e a provável perda de grau de investimento pela Moody’s devem tornar o panorama ainda mais sombrio.
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“Infelizmente, o que teremos é a continuidade da deterioração do ambiente econômico e político que vimos em 2015, mas de uma forma mais grave do que os analistas mais pessimistas tinham previsto”, alerta o presidente da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), Caio Villares.
Em 2015, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em queda de cerca de 12%, aos 43.349 pontos, níveis muito próximos dos alcançados em 2009, segundo o economista da Órama Investimentos e professor do Ibemec-Rio Alexandre Espírito Santo.
Mas, mesmo diante de um clima de pessimismo, o analista afirma que a partir do segundo semestre de 2016 a atividade econômica deva apresentar uma melhora, o que irá impulsionar o índice aos patamares dos 50 mil pontos.
“A Bolsa costuma antecipar o que acontecerá na economia, então o que a gente pode ter é um segundo semestre um pouco melhor em relação ao que estamos tendo agora. Apesar de nem todos os preços das ações estarem baratos, no longo prazo a perspectiva é de enxergarmos boas oportunidades”, acredita ele.
Para Villares, o crescimento do mercado financeiro depende principalmente de políticas de responsabilidade fiscal, maiores perspectivas de crescimento e redução da taxa de juros. Ou seja: de um prazo mais longo para arrumar a casa.
Cenário externo
Mas não são apenas os fatores internos que influenciam o desempenho das ações. O reajuste da taxa de juros norte-americana em 2015 para 0,25% a 0,5%, depois de sete anos próxima do zero, deverá continuar em 2016, o que resultará em uma migração de dólares para os EUA e uma desvalorização do nosso câmbio.
A desaceleração da China, grande consumidora de commodities, que estão entre os principais produtos vendidos pelo Brasil ao exterior, é outro motivo de preocupação para o desempenho da Bovespa. Entretanto, para Espírito Santo, o que mais pesa contra o mercado financeiro é a perda do grau de investimento. “A perda de nota pela Moody’s será mais um fator de estresse para o mercado de câmbio, que é mais sensível a nossa condução da política econômica que às decisões do Fed [Federal Reserva, o banco central dos EUA]”, diz ele.