A diretora sênior de ratings soberanos para América Latina da Fitch, Shelly Shetty, prevê que a economia brasileira irá crescer 4,2% em 2013, mas que, com crescimento nesse nível, o Banco Central terá de agir e calibrar sua política monetária com cuidado. "Achamos que reformas estruturais são necessárias para aumentar a produtividade e dar flexibilidade para o BC manter as taxas de juro em patamares reduzidos por período mais longo", disse nesta quinta-feira.
Shelly afirmou que o setor industrial brasileiro sofre com a baixa demanda e que investimento "que era o motor do crescimento do PIB (do País) está em retração". Na avaliação dela, o crescimento sustentado pelo mercado doméstico também está em retração e o nível de emprego, ainda aquecido, "explica por que o crescimento do PIB brasileiro ainda se sustenta".
Ela disse ainda que a política de redução agressiva em juro pelo Banco Central deve ter resultado "meses à frente" e a correção do câmbio deve ajudar a economia. "Mas, para sustentar o crescimento, o Brasil deve fazer lição de casa", afirmou. "O Brasil não poupa o suficiente e isso atrapalha crescimento", completou.
A diretora cobrou reformas macroeconômicas, principalmente na questão tributária, bem como nas já anunciadas ações para a infraestrutura e no preço da eletricidade. "Os anúncios foram na direção certa, mas os efeitos dessas coisas vão levar tempo. São reformas estruturais que o Brasil tem de vencer", afirmou.
Riscos
Para Shelly, os maiores riscos do Brasil são a queda na demanda externa, com a crise europeia e a redução na demanda da Argentina. "A Argentina não vai voltar às taxas de crescimento devido à maior intervenção da economia." Outro fator de risco é a volatilidade internacional, na avaliação da diretora da Fitch. "O Brasil sente com a aversão ao risco, isso é mostrado pela correlação alta entre Bovespa e SP500 e pela volatilidade da taxa de câmbio".
Segundo ela, outro problema para o Brasil é a dependência do País para o mercado chinês, apesar de a agência de classificação de risco avaliar que o país oriental não vá ter um pouso forçado na economia. "A China vai encontrar novo patamar de crescimento, mas não entre 9% e 10%". Shetty alertou ainda que o crescimento de crédito no Brasil precisa ser monitorado, "porque Brasil não teve choque de desemprego, que pode acontecer e gerar pressão nas carteiras dos bancos".
A diretora avalia que a inflação no Brasil precisa seguir baixa, o que garante a estabilidade macroeconômica no País e ações de protecionismo interno devem ser tomadas com cuidado, para não prejudicar a competitividade externa do País.
Segurança
Ainda segundo Shelly, o Brasil tem colchões de liquidez para aguentar problemas externos, principalmente as reservas "altíssimas" de US$ 370 bilhões, que dão "poder de fogo ao Banco Central para lidar com problemas externos". Para ela, o Brasil tem balanço externo forte, tem melhorado o mix de composição de sua dívida, bem como o governo age corretamente para melhorar o perfil da dessa dívida.
China
O diretor sênior de soberanos da Ásia da Fitch, Andrew Colquhoun ratificou que a agência de classificação de risco não espera um pouso forçado da China em 2012 e que, apesar da preocupação elevada dos investidores, o país asiático terá um crescimento do PIB em torno de 8% este ano. "A desaceleração da China era esperada, em dezembro tínhamos previsão de 8,2%, revisamos para 7,8% e talvez fique em torno de 8% em 2012", disse Colquhoun, durante o seminário da Fitch, em São Paulo.
Na avaliação dele, a desaceleração da China é cíclica e reflexo da política de autoridades locais de reduzir a inflação, por meio da limitação do crédito, após o forte crescimento de 2010. "Em 2010 houve estímulo forte, talvez exagerado, e de lá para cá pisaram no freio. Isso funcionou, com a inflação caindo para em torno de 2%, e o mercado de imóveis se recuperou, com crescimento de preços mais modestos que em 2010", disse Colquhoun.
Para o executivo, é possível que haja uma maior flexibilidade na China entre este ano e 2013, mas o país não deve adotar um estímulo tão forte como o de 2009. Um temor de Colquhoun é o rápido crescimento do financiamento e do sistema bancários da China, que pode ser um fator que impactaria no rating do País. "O financiamento bancário cresceu 32% em 2009 e 30% em 2010, e de 2008 a 2014 o sistema bancário chinês deve crescer equivalente ao sistema bancário americano inteiro", concluiu.