A diretora do FMI, Christine Lagarde: Fundo prevê piora para economia brasileira.| Foto: STEPHEN JAFFE/AFP

O desemprego no Brasil terá alta pronunciada em 2016 e 2017, prevê o FMI (Fundo Monetário Internacional) em relatório lançado nesta terça (12). Segundo o Fundo, a economia brasileira sofrerá contração de 3,8% neste ano, uma piora em relação a sua última projeção, de janeiro, de um recuo de 3,5%.

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Assim como em janeiro, o Brasil é novamente o país com o pior crescimento entre as 16 economias incluídas em uma tabela do estudo. Após 2016, o FMI prevê um esboço de recuperação, mas a economia brasileira ficará estagnada em 0% de crescimento em 2017.

O relatório Panorama Econômico Global é lançado na véspera da reunião semestral do FMI e do Banco Mundial, que reúne nesta semana em Washington 120 presidentes de Bancos Centrais e 115 ministros de Finanças entre cerca de 8.500 participantes.

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Como indica em seu título, “Lento demais, por tempo demais”, o relatório do FMI confirma que a retomada da economia mundial é mais lenta do que se esperava, “num ritmo cada vez mais frágil”. O Fundo reduziu sua projeção para o crescimento global neste ano de 3,5% em janeiro para “modestos 3,2%”.

Além da recuperação mais lenta de economias avançadas, como EUA, União Europeia e Japão, e a contínua fraqueza doa maioria dos emergentes, o estudo atribui a queda à volatilidade nos mercados financeiros.

No Brasil, uma possível melhora no PIB no próximo ano não significará mais empregos. De acordo com o estudo, o desemprego no Brasil subirá de 6,8% em 2015 para 9,2% em 2016 e 10,2% em 2017.

“A recessão cobra seu preço no emprego e na renda real”, afirma o estudo. Embora aponte em várias de suas 230 páginas que instabilidade política tem afetado negativamente a atividade econômica em muitos países, o relatório é discreto ao falar do Brasil, e não menciona diretamente a crise política.

Mas ressalta que “Incertezas domésticas continuam a restringir a capacidade do governo de formular e executar políticas”. A falta de clareza no cenário político torna difícil fazer previsões sobre o Brasil, indica o Fundo.

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“Com a expectativa de que muitos dos grandes choques de 2015-2016 tenham se esgotado, e ajudado por uma moeda mais fraca, o crescimento é previsto para se tornar positivo em 2017. Entretanto, a produção média continua inalterada em relação ao ano anterior. As projeções são sujeitas a grande incerteza”, afirma.

O relatório lembra que o crescimento “menor que o esperado” no Brasil foi um dos principais fatores que levaram à revisão para baixo do crescimento global em 2015. O Brasil é citado com frequência ao lado da Rússia, como os dois emergentes em recessão que puxaram a economia global para baixo.

“A projeção para o Brasil e a Rússia continua incerta e possíveis atrasos em seu retorno a condições mais normais poderiam mais uma vez empurrar o crescimento global abaixo da previsão atual”, diz o relatório.

Responsáveis por 6% do PIB mundial e 5% do comércio global, Brasil e Rússia tiveram uma “contração dramática” em investimento em 2015, de cerca de 20% em relação ao ano anterior, aponta o Fundo.

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Fiscal

Em suas recomendações ao Brasil, o relatório afirma que o país deve “perseverar em seus esforços de consolidação fiscal para dar uma virada na confiança e nos investimentos”. Com sua margem para fazer cortes de despesas severamente limitado, afirma o Fundo, “impostos são necessários no curto prazo”, mas o maior desafio é reduzir a rigidez e a “insustentabilidade” no lado dos gastos.

“A redução da inflação para a meta de 4,5% em 2017 vai exigir uma política monetária apertada. Reformas estruturais para aumentar a produtividade e a competitividade, incluindo os programas de concessões de infraestrutura, são essenciais para revitalizar o crescimento potencial”.

A inflação deve ter uma pequena queda no Brasil em 2016, projeta o Fundo, de 9% no ano passado para 8,7%, “à medida em que os grandes ajustes de preços administrados e desvalorização da moeda de 2015 diminuírem”, A inflação oficial no Brasil em 2015 foi de 10,67%, bem acima do teto da meta do governo, de 6,5%.

EUA e China

O relatório alerta que o mundo corre o risco de entrar em “estagnação secular”, expressão usada para descrever longos períodos de baixo crescimento, juros baixos e deflação. “Consecutivos rebaixamentos de perspectivas econômicas futuras trazem o risco de uma economia mundial que tem a velocidade travada e cai numa estagnação secular generalizada”, afirma.

Entre as maiores economias do mundo, as duas primeiras, EUA e China, trocaram de lugar neste relatório, Frequentemente apontada como um dos principais fatores do enfraquecimento econômico global, a China é um dos poucos destaques positivos, com sua projeção de crescimento neste ano revisada para cima, em 6,5%, pouco acima dos 6,3% de janeiro. Para 2017 a previsão também aumentou 0,2 ponto percentual, para 6,2%.

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Dos 16 países na lista, a China foi o único cuja projeção melhorou. Treze tiveram cortes, em dois as projeções mantiveram-se inalteradas (Índia e Arábia Saudita).

O estudo considera positiva a atual transição econômica da China para um crescimento mais sustentável, baseado no consumo e em serviços, mas prevê sacolejos. “Em última análise, esse processo irá beneficiar tanto a China como o mundo, Dado o importante papel da China no comércio global, no entanto, os tropeços no caminho podem ter efeitos cascata substanciais, especialmente nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento”.

Já nos EUA, onde em dezembro o Federal Reserve (banco central) projetara confiança na recuperação da economia ao elevar os juros pela primeira vez desde 2006, o crescimento não mostrou a força esperada.

Pelas estimativas do FMI, o PIB americano avançará 2,4% em 2016, o mesmo que no ano passado e 0,2 ponto percentual menor que na projeção anterior. Em 2017 será um pouco maior, de 2,5%, Embora veja sinais positivos, como uma “melhora notável” no mercado de trabalho, o estudo alerta que volatilidade dos mercados poderá afetar os planos de uma alta “gradual” dos juros nos EUA.

As dificuldades econômicas são acompanhadas de pressões políticas, da crise dos refugiados na Europa à desigualdade econômica, endurecendo o discurso em vários países.

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“Tanto nos EUA como na Europa a discussão política torna-se cada vez mais voltada para dentro. As causas são complexas, mas certamente refletem uma crescente desigualdade de renda”, diz o estudo. “O medo de terrorismo também tem um papel. O resultado poderia ser uma guinada para políticas nacionalistas, incluindo protecionistas”.