Ano passado, assim como em vários outros, a França foi a maior beneficiária dos subsídios agrícolas da União Europeia, abocanhando mais de 10 bilhões de euros. Uma das maiores beneficiárias do país foi a Groupe Doux, uma empresa avícola, com 62,8 milhões de euros. Outro grande beneficiário francês, que ficou com a bolada de 38,6 milhões de euros, foi a Saint Louis Sucre, empresa subsidiária da gigante açucareira alemã Suedzucker.
"Todos se beneficiam do sistema. Conheço vários agricultores na França que não existiriam sem esta ajuda. Isto é normal devido a nossa pressão para que a indústria agrícola cumpra certos padrões para manter a segurança dos alimentos e o desenvolvimento rural, o que custa caro. O benefício é para todos, inclusive o dos grandes fazendeiros", disse Bruno Le Maire, ministro da Agricultura da França, anfitrião na conferência em Paris que endossou a continuidade dos subsídios nos altos escalões e o uso de mais recursos para aumentar a proteção ambiental.
A França encara os subsídios como uma transferência essencial dos recursos das áreas urbanas para as populações rurais, a fim de proteger sua paisagem campestre bucólica, a segurança dos alimentos no país e um estilo de vida rural que é parte da cultura francesa.
Outros, entretanto, não enxergam a situação como sendo tão simples. A França já há muito se beneficia financeiramente desta política. Outras nações, como a Grã-Bretanha e a Holanda, são grandes contribuintes do orçamento europeu, mas ficam com menos subsídios agrícolas por possuírem um setor agrícola menor e mais eficiente.
O debate da reforma está muito mais encalorado desta vez devido à junção dos antigos satélites da União Soviética à União Europeia. Agora, essas nações mais pobres e que entraram no bloco tardiamente possuem mais poder para exigir uma fatia maior da ajuda.
Pelo último acordo, negociado antes dessas nações se juntarem ao bloco, os fazendeiros desses países tinham de se contentar com menos do que os outros europeus. As inquietas nações ocidentais da Europa sinalizaram na conferência de Paris que querem um programa forte que inclua porções igualitárias para os países menores.
Apesar de todas as teorias e esforços antigos para melhorar o sistema, a manobra política em volta dos subsídios pode ser resumida em uma simples equação: quem fica com o quê. Os líderes europeus já estão se preparando para defender os interesses nacionais individuais de seus 27 países.
"Esta é uma batalha direta entre os ganhadores e perdedores e não há nada mais significativo que isto. É a matéria de que consiste a maioria da política: Como o dinheiro está sendo dividido?", diz Alan Buckwell, diretor de políticas da Associação de Negócios e Propriedades, que representa os donos de terras nas partes rurais da Inglaterra e País de Gales.
Um grande teste de humor político irá ser realizado no Parlamento Europeu quando for anunciado o relatório sobre os subsídios agrícolas que irá moldar o processo decisório sobre os gastos públicos. Esta será a primeira vez que o Parlamento terá uma voz igual dos países membros sobre os resultados que irão determinar o tamanho do orçamento para os subsídios. Ao invés de avançar na pauta de reformas, o Parlamento irá enfrentar ainda mais pressão dos agricultores locais que buscam a manutenção de seu status atual.
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