Os ministros reunidos no fórum do G20, realizado neste final de semana em São Paulo defenderam, no documento de encerramento do encontro, a profunda reforma e o fortalecimento do papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial na atual crise financeira, com uma maior representação dos países emergentes nesses organismos multilaterais.
"O FMI, o Banco Mundial e outras instituições financeiras internacionais têm um papel importante a representar, consistente com seus mandatos, de ajudar a estabilizar e fortalecer o sistema financeiro mundial, avançar na cooperação internacional para o desenvolvimento e auxiliar os países afetados pela crise", diz o documento.
Os presentes ressaltaram que as instituições de Bretton Woods precisam de uma "reforma compreensiva", que reflita mais adequadamente os pesos da economia mundial e que seja mais responsável a futuros desafios.
"Os países emergentes e em desenvolvimento deveriam ter mais voz e representação nesses organismos", diz o documento. "Essas reformas também devem levar em conta os interesses dos países mais pobres."
Solução para a crise
Na declaração conjunta, os países apontaram que o maior desafio atual é solucionar a crise financeira de uma maneira "durável", e mitigar o impacto da turbulência financeira na atividade econômica mundial, por meio de açoes compreensivas e coordenadas entre os países.
"O G20, com sua ampla representação das economias sistemicamente importantes, tem um papel crítico a representar, assegurando a estabilidade econômica e financeira global e, com esse propósito, está comprometido a incrementar sua colaboração."
Proposta brasileira
A proposta do governo brasileiro, também divulgada ao fim do encontro, vai levar à reunião de chefes de Estado do G20, no próximo dia 15, em Washington (EUA), inclui a criação de um órgão de alerta de risco nas economias, que funcionaria nos moldes de agências privadas, como a Standard & Poor's e a Fitch.
O documento também reforça a reformulação de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Com maior participação de emergentes, esse "FMI reformulado", de acordo com a proposta brasileira, poderia ser responsável pela medição do risco das diferentes economias.
A proposta formaliza as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo o documento, o objetivo é transformar o G20 em um grupo de chefes de Estado e de governo, e não mais de ministros e presidentes de bancos centrais, como acontece atualmente.
Entre as mudanças propostas para o grupo está a realização de pelo menos duas reuniões anuais, antes dos encontros periódicos do FMI e do Banco Mundial, e não apenas uma, em novembro, como ocorre atualmente. "(O G20 deverá) priorizar deliberações com resultados práticos em termos de políticas públicas", diz o documento.
Palavra de Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou neste domingo, na entrevista coletiva de encerramento da reunião do G20, que o grupo poderá coordenar ações contra a atual crise financeira, considerada a pior em 80 anos. "A maioria dos países concorda que se deva fortalecer o G20 e que ele deve ter um papel maior", ressaltou.
De acordo com Mantega, houve concordância de que os países devem realizar uma política "anticíclica, fiscal e monetária", adequadas às condições de cada país. Foi apontada ainda, disse o ministro, a necessidade de os países avançados ajudarem os emegentes com relação ao fluxo financeiro.
O ministro disse acreditar que cada país saberá "calibrar" a política de juros de acordo com sua peculiaridade. "Aqui no Brasil as autoridades monetárias saberão regular suas políticas para esse novo cenário", ressaltou.
Segundo Mantega, a crise financeira não pode esperar a reforma do sistema para dar soluções. "As soluções têm que ser mais imediatas. Vamos ter que trocar a roda do carro com ele em movimento."