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A reunião do G20, grupo de países desenvolvidos e emergentes que termina neste domingo (9), foi marcada pela ação conjunta de nações em desenvolvimento para ganhar mais poder nas decisões sobre o sistema financeiro mundial. Em discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro acreditar que o G7 – que reúne apenas os países ricos – não pode decidir sozinho os próximos passos da economia global.

O resultado da eficiência desta reivindicação, que Lula chamou de construção de uma "nova arquitetura financeira mundial", vai ficar claro a partir do pronunciamento conjunto a ser feito hoje – dois representantes do grupo emergente (Brasil e África do Sul) e um do G7 (o Reino Unido) vão mostrar os avanços que a reunião teve na ampliação do grupo de países que decidirá regras econômicas internacionais e também no combate à atual crise econômica.

A expectativa é que esse debate seja ampliado na reunião dos chefes de Estado do G20, que acontecerá a partir do dia 15, em Washington (EUA). Um dos representantes dos Estados Unidos, o subsecretário do Tesouro americano para Assuntos Internacionais, David McCormick, também deve falar à imprensa neste domingo, em São Paulo. Espera-se que ele faça alguma menção à reivindicação dos grandes países emergentes.

‘Castelo de cartas’

No discurso que fez na abertura do G20, no sábado, o presidente disse que a fé cega de que o mercado financeiro poderia seguir sem intervenções caiu como "um castelo de cartas". Ele propôs a criação das novas regras – que sejam mais eficazes em evitar uma turbulência como a atual – e a inclusão das nações emergentes nas decisões sobre essas diretrizes.

De acordo com o presidente Lula, a falta de controle nos mercados permitiu que "especuladores tivessem lucros excessivos", investindo dinheiro que não tinham em "negócios mirabolantes". Ele afirmou que os maiores defensores da liberdade dos mercados se viram obrigados a pedir "desesperadamente" a ajuda dos governos quando ficaram sem dinheiro.

Segundo Lula, o G7 – grupo que reúne as sete maiores economias do mundo (EUA, Canadá, Reino Unido, Japão, Itália, França e Alemanha) – não tem mais condições de determinar sozinho os rumos da economia. "A contribuição dos países emergentes é também essencial", ressaltou o presidente. "É hora de um pacto entre governos para uma criação de uma nova arquitetura financeira mundial."

Novo cenário

Neste novo cenário, países como Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul e México ganhariam mais "voz" nas decisões multilaterais. Em comum, essas nações têm o olhar crítico sobre a atuação de grandes entidades internacionais, como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, na prevenção e contenção dos efeitos da crise de crédito que tomou conta da economia global.

O objetivo das grandes economias em desenvolvimento é tirar o G20 da posição de observador das mudanças em escala global, promovendo os países emergentes a um papel de destaque na definição de políticas relacionadas ao sistema financeiro.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se na sexta-feira (7) com colegas da China, Índia, México e África do Sul para afinar o discurso. E deu o recado: as nações querem mais do que "tomar cafezinho" nas reuniões.

Em comunicado conjunto sobre a reunião de sexta-feira, os países Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pediram a reforma das instituições internacionais "para que elas reflitam as mudanças estruturais e o papel cada vez mais importante desempenhado pelos países emergentes". As nações dizem ter "representação, legitimidade e efetividade" para fortalecer seu papel em questões globais.

Aliados

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse neste sábado, em entrevista a jornalistas em São Paulo, que independente da forma que se escolha para as novas decisões sobre a economia mundial, os países em desenvolvimento, e especificamente o Brasil, tem que ser melhor representados.

Ele afirmou que isso inclui também as economias mais pobres, que não podem contribuir para as grandes instituições, mas devem ser ouvidas. O presidente do Banco Mundial disse que é preciso garantir que a crise financeira não se torne uma crise humana, pois será justamente a população mais pobre do planeta a mais afetada pelos problemas financeiros originados no mundo desenvolvido.

De acordo com o professor Giorgio Romano Schutte, membro do grupo de análise de conjuntura internacional de Universidade de São Paulo (USP), os Estados Unidos e a Europa já entenderam que é preciso garantir um caráter mais multilateral aos arranjos internacionais. "É uma necessidade. O (presidente francês, Nicolas) Sarkozy fala na necessidade de reestruturar (o G8) e incluir esses países."

Para o especialista, a economia mundial vive uma fase de transição. Ao longo do tempo, ressalta ele, há fases em que o pensamento do livre mercado domina, geralmente é seguida por outra em que há mais regulação. "É sempre um vai e volta", afirma Schutte. Neste momento, diz o professor, o Estado nacional perde espaço para a governança global. "Não dá para achar uma solução em nível nacional (para essa crise)", afirma.

Outro aliado que o Brasil tem na tentativa de ampliar as decisões econômicas mundiais além do G7 é o governo francês. O país também já declarou que quer ver uma completa reformulação das regras do sistema financeiro mundial, já apelidada de "Bretton Woods 2". O ministro Mantega diz que é possível elaborar novas idéias para o sistema financeiro dentro deste espaço de tempo.

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