Os líderes do G8 prometeram nesta sexta-feira (10) uma ajuda de 20 bilhões de dólares para impulsionar a agricultura e combater a fome nos países pobres, um valor acima das expectativas, no último dia de uma cúpula que alcançou pouco progresso nas mudanças climáticas e comércio.
Os Estados Unidos aproveitaram a reunião de líderes mundiais para pressionar por uma ajuda à agricultura das nações pobres e prometeram disponibilizar 3,5 bilhões de dólares em um programa de 3 anos. Mas as nações africanas lembraram aos ricos que eles precisam honrar seus compromissos.
Depois de dois dias de conversações centradas na crise econômica, comércio e aquecimento global, o último dia do encontro se voltou para problemas enfrentados pelos países pobres.
A Organização das Nações Unidas (ONU) dizem que o número de pessoas desnutridas subiu nos dois últimos anos e deve chegar a 1,02 bilhão este ano, revertendo quatro décadas de tendência de declínio.
"Ajuda alimentar é necessária porque temos pessoas sofrendo por causa de secas, inundações, conflitos, e o que eles querem é ter logo alimento para comer", disse Jacques Diouf, na cúpula de L'Aquila.
"Mas se tivermos de alimentar 1 bilhão de pessoas famintas, temos de ajudá-las a produzirem o próprio alimento", disse ele à Reuters.
Os líderes do G8 haviam prometido na cúpula de Gleneagles, na Escócia, em 2005, elevar a ajuda anual a 50 bilhões de dólares até 2010, destinando metade dessa quantia a nações africanas. Mas as entidades de ajuda dizem que alguns países do G8 voltaram atrás em sua palavra, especialmente a anfitriã da cúpula do G8 deste ano, a Itália.
Os líderes africanos disseram que vão expressar sua preocupação. O primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, disse à Reuters: "A mensagem essencial para nós é pedir ao G8 que cumpra o que prometeu."
Decisões de vida ou morte
Além de Meles, os líderes da Argélia, Angola, Egito, Líbia, Nigéria, Senegal e África do Sul se uniram aos dos países do G8 para debater agricultura e segurança alimentar e encaminhar seu pedido de compensação pela devastação causada pelas mudanças climáticas.
Não ficou claro quanto dos 20 bilhões de dólares representam recursos novos e quanto caberá a cada país. Além dos 3,5 bilhões dos EUA, Japão e União Europeia deverão contribuir com 3 bilhões de dólares cada. O foco em investimentos na agricultura reflete uma mudança conduzida pelos EUA, de ajuda assistencial de emergência para estratégias de longo prazo para tentar tornar as comunidades mais auto-suficientes.
O presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, disse à Reuters que Barack Obama, que depois da cúpula iniciará sua primeira visita à África como presidente dos EUA, trouxe uma nova visão, que é bem-vinda, sobre agricultura africana.
Mas os 20 bilhões de dólares parecem pouco em comparação com os 13,4 bilhões de dólares que o G8 diz ter desembolsado entre janeiro de 2008 e julho de 2009 para segurança alimentar mundial.
A entidade assistencialista britânica ActionAid alertou que, com 1 bilhão de pessoas passando fome, as decisões do G8 poderão "literalmente fazer a diferença entre vida e morte para milhões no mundo em desenvolvimento."
O Japão e a União Europeia defenderam fortemente o estabelecimento de um código de conduta para investimento responsável, considerando que nas nações emergentes vem aumentando a aquisição de terras agrícolas e a "apropriação de terras."
A cúpula de l'Aquila produziu poucos resultados em outros temas. Os progressos na questão crucial do aquecimento global foram limitados, uma vez que os principais países em desenvolvimento se recusaram a se comprometerem com a meta de corte pela metade as emissões mundiais de gás do efeito estufa até 2050.
Os líderes do G8 disseram que a crise financeira mundial ainda representa sério risco à economia mundial e ainda pode requer mais pacotes de estímulo ao crescimento.
Protesto
Ativistas da ONG britânica Oxfam usam máscaras dos líderes do G8 e fingem estar grávidos durante protesto na Praça da República, em Roma, nesta sexta-feira (10). Eles tomaram aulas de ioga pré-natal no protesto. O objetivo era chamar a atenção dos líderes dos países ricos para as questões relativas à saúde e à educação.
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