O gabinete grego aprovou neste sábado (18) um conjunto final de medidas de austeridade exigido pela União Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) como condição para um pacote de resgate de 171 bilhões de dólares, aumentando as chances de fechar um acordo na semana que vem para evitar um calote da sua dívida.
A aprovação foi principalmente uma formalidade, depois que na semana passada Atenas divulgou para os parceiros da Zona do Euro detalhes dos cortes extra no orçamento e nos salários do setor público, totalizando 325 milhões de euros.
Dúvidas persistentes sobre se a Grécia pode fazer com que a sua montanha de dívidas chegue a níveis mais administráveis nos próximos anos ainda podem atrasar a aprovação do pacote. Algumas autoridades dos 17 países da UE advertiram que as chances de um acordo durante a reunião da Zona do Euro na segunda-feira estão um pouco acima dos 50 por cento.
"As medidas de 325 milhões de euros foram aprovadas por unanimidade," disse um ministro, que pediu para se manter anônimo, sobre os cortes, parte de um pacote de 3,3 bilhões de euros de medidas de austeridade que já geraram protestos em Atenas.
Uma autoridade do governo disse que o ministério também concordou em lançar no dia 8 de março uma swap de dívida para credores privados, com o objetivo de completá-la até o dia 11 de março. A troca deve acontecer junto com o acordo de resgate e significará que os credores terão um corte de 70 por cento do valor real das suas ações.
Depois de meses de negociações, muitas vezes ásperas, a esperança da Grécia aumentou em relação à reunião de segunda-feira, em Bruxelas, onde ela espera que o resgate que o país precisa para evitar a falência no dia 20 de março, data do pagamento principal da dívida, seja aprovado.
"O povo grego tem feito tudo o que pode e estamos decididos a cumprir nossos compromissos," disse o ministro da Ordem Pública Christos Papoutsis, antes da reunião.
Na sexta-feira, a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro italiano Mario Monti e Papademos demonstraram otimismo sobre um acordo grego durante uma teleconferência, divulgou o escritório de Monti num comunicado.
Entretanto, Jean-Claude Juncker, que será o presidente da reunião de segunda-feira do Eurogrupo em Bruxelas, deixou claro que ainda é necessário se fazer um trabalho urgente para conseguir um programa que reduza e recoloque a dívida grega no caminho certo.
Descumprindo a meta
Em jogo está uma meta de redução da dívida equivalente a 160% da produção econômica anual grega para 120% até 2020.
"Todas as conversas que terei... até a noite de domingo, serão para tentar fazer com que esse número chegue mais perto da meta", disse Juncker aos repórteres.
No momento, autoridades do FMI e da UE acreditam que a meta -que pressupõe que a Grécia vai administrar um superávit orçamentário no ano que vem, excluindo o enorme custo de suas dívidas- não será alcançada.
Sob o cenário principal de uma análise feita pela Comissão Europeia, pelo Banco Central e o FMI, a dívida grega cairá para apenas 129 por cento do PIB em 2020, disse uma autoridade.
A zona do euro está, portanto, pensando em modificar o acordo negociado durante vários meses com credores privados, onde eles aceitariam um corte de cerca de 70 por cento no valor real dos seus títulos gregos.
Altos funcionários do setor de finanças da zona do euro vão se reunir no domingo para discutir a análise e encontrar uma maneira de trazer a dívida para mais perto da meta de 120 por cento antes que os ministros das finanças se reúnam na segunda-feira.
"Se você fizer uma série de coisas, é possível trazer os 129 para perto de 120," disse uma autoridade que conhece o documento.
Estes podem incluir mudanças nos juros acumulados dos títulos privados, mas a UE e suas instituições nacionais também podem fazer a sua parte, disse a autoridade.
As taxas de juros sobre os empréstimos da UE para a Grécia poderiam ser cortadas e os bancos centrais nacionais da zona do euro, que possuem títulos gregos, podem aceitar condições similares às dos credores privados, em algumas de suas ações.
Os bancos centrais nacionais possuem cerca de 12 bilhões de euros da dívida grega. O Banco Central Europeu se recusou a participar do complexo acordo para os credores privados - que envolvem a troca de títulos antigos para outros com um valor de face menor, taxas de juros mais baixas e prazos mais longos - e precisariam aprovar a decisão do banco central nacional.
Autoridades também estão pensando em um corte no "dinheiro de sedução" que seria oferecido aos credores privados pela aceitação dos cortes do valor dos seus títulos.
Com a moral grega no fundo do poço, o estado de espírito grego piorou ainda mais, depois que ladrões armados saquearam um museu em Olímpia, berço dos Jogos Olímpicos, na sexta-feira. Eles roubaram artefatos de bronze e cerâmica, semanas depois que a Galeria Nacional foi assaltada.
Um jornal grego sugeriu que o estado não pode mais cuidar direito do imenso patrimônio cultural do país. "O Estado Grego foi à falência, precisamos encarar isso", publicou o jornal diário Kathimerini.
"Se o país não consegue proteger a sua enorme herança cultural por motivos financeiros ou quaisquer outros, ele deve encontrar outras maneiras de fazer isso," disse o jornal conservador.
"Ele poderia, por exemplo, recorrer à grandes fundações e pedir-lhes que assumam o custo da segurança dos importantes museus nacionais durante os próximos dois ou três anos de dificuldades."