O sobe e desce do dólar nos últimos 12 meses afetou os planos tanto das empresas que se voltavam ao mercado externo quanto daquelas de dependem de insumos importados para produzir. Depois de chegar perto dos R$ 4,20 em setembro de 2015 e acumular uma alta de 48% no ano passado, a moeda estrangeira recuou cerca de 23% no acumulado de 2016 e chegou perto dos R$ 3,20 no fim da segunda semana de agosto.
As causas para a valorização do real nas últimas semanas tiveram origem nos cenários político e econômico nacional e internacional. Por aqui, a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e as expectativas em torno das reformas previdenciária e trabalhista alimentaram o otimismo do mercado financeiro e atraíram o capital especulativo. Já nos Estados Unidos, a perspectiva de redução no ritmo de aumento dos juros tornou os investimentos no Brasil, onde a taxa Selic está em 14,25% ao ano, mais atrativos para os estrangeiros.
“Com a troca do governo, há uma maior confiança na moeda local e um entendimento do consumidor e do investidor de que os riscos estão menores”, resume o analista da FN Câmbio Caio Esteves.
Para o setor produtivo, essa montanha-russa tem efeito nocivo sobre a margem de lucro e o custo das dívidas contraídas em dólar. O gerente de relações internacionais e negócios exteriores da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Reinaldo Tockus, conta que as mudanças repentinas fazem com que as exportadoras percam competitividade no mercado externo, com exceção das fabricantes de commodities. “Para essas empresas, o desafio neste momento está em melhorar o processo produtivo para baratear os custos, seja por meio das matérias-primas ou pelo ganho de eficiência”, avalia.
Já as importadoras são penalizadas por terem adquirido os produtos em um período de divisas mais caras do que agora, motivo que afeta a projeção de ganhos das empresas no mercado local. O diretor-geral da La Violetera, Félix Boeing Júnior, conta que para se proteger das oscilações trabalha com um horizonte de compras e contração de dívidas de até 180 dias. Conforme as perspectivas desenhadas para o dólar, o empresário compromete um determinado porcentual do fluxo de operação com diferentes tipos de mecanismos disponíveis no mercado financeiro, como as operações de financiamento à importação (Finimp). “As mudanças de curto prazo são as piores para a gente. Mas, como não temos uma bola de cristal e é difícil fazer previsões, buscamos contrair um endividamento menor em dólar.”
No fim de maio, a crença de que o câmbio seria usado como ferramenta para incentivar as exportações fizeram com que as consultorias econômicas apontassem para um dólar a R$ 3,70 até dezembro deste ano. Entretanto, com a política de variação livre da moeda imposta pela nova direção do Banco Central, as previsões do BC caíram para R$ 3,20 no fechamento de 2016, enquanto o empresariado trabalha com uma taxa de R$ 3. “Caso o governo provisório se torne definitivo, as chances de entrada de recursos no Brasil são altas, o que deve continuar a valorizar o real”, prevê Tockus.