A Caixa Econômica precisa de socorro do governo? Antes o rumor corria à boca pequena, agora circula até por jornais do exterior, o que alimenta outros boatos, como o de uma fusão com o Banco do Brasil. A direção da Caixa e alguns especialistas descartam a necessidade de capitalização, mas há quem veja a injeção de dinheiro como bastante provável.
Segundo analistas ouvidos pela Bloomberg, a União terá de colocar recursos na Caixa num prazo entre 12 e 18 meses, a fim de garantir que o banco cumpra as exigências de capital da regulação. O valor dessa ajuda poderia chegar a R$ 25 bilhões, quase 2% de toda a receita da União em 2015. É como se cada brasileiro fosse convidado a contribuir com pouco mais de R$ 120 para ajudar o banco.
Confira a evolução das provisões (dinheiro para cobrir prováveis calotes) e do lucro da Caixa
Aporte ampliaria oferta de crédito, diz especialista
Nomeado pelo presidente interino Michel Temer, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, tem reiterado que não há “esqueletos” e negado a hipótese de aporte. Ele já declarou contar com outras fontes de recursos, entre elas a abertura de capital da Caixa Seguridade, a venda do direito de oferecer seguros nas agências do banco e a negociação de 51% da área de loterias instantâneas. O que não fica claro, nesse discurso, é qual será o fôlego da instituição caso essas transações não avancem.
Ao fim de março, o chamado Índice de Basileia da Caixa era de 13,7%, o que significa que, de cada R$ 100 emprestados, o banco tinha um patrimônio de R$ 13,7. O número está acima do mínimo de 10,5% exigido pelo Banco Central, mas piorou nos últimos trimestres: em março de 2015, estava em 14,6%. No mesmo intervalo, os indicadores de Banco do Brasil, Itaú e Bradesco subiram, chegando a 16,2%, 17,6% e 16,9%, respectivamente.
Se os lucros da Caixa continuarem recuando, o Índice de Basileia tende a cair mais, o que obrigará o banco a levantar recursos. Cauteloso, o analista Luiz Miguel Santacreu, da agência de classificação de risco Austin Rating, ainda não vê necessidade de capitalização. “Sempre há uma defasagem entre a publicação do balanço e o que pode ter ocorrido nos meses seguintes. Mas, até o fim de março, o banco apresentava um nível patrimonial que não era crítico a ponto de exigir aumento de capital”, diz.
Calotes
Outro número acompanhado pelo mercado é o da inadimplência, que subiu para todos os bancos. O porcentual de atrasos de mais de 90 dias na carteira de crédito da Caixa subiu de 2,85% em março de 2015 para 3,51% no mesmo mês deste ano, ainda em linha com a média do setor (3,55%).
Mas o consultor Fernando Meibak, sócio da Moneyplan Consultoria, vê inconsistências nos números apresentados pela Caixa. “É altamente provável que a carteira de crédito esteja mais deteriorada. Acho que uma gestão mais rigorosa teria feito provisões maiores para inadimplência”, avalia Meibak, que passou pela direção de bancos como UBS, Citibank, ABN-Amro Real e HSBC.
Uma fonte que acompanha de perto a situação da Caixa descarta essa hipótese. “A possibilidade de esqueleto não existe. Além de ser supervisionada pelo Banco Central, a Caixa é auditada pelo Tribunal de Contas da União e pelo Ministério da Transparência. Um problema assim não passaria despercebido”, diz.