O diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão, disse que o fato de a gasolina estar sem reajustes de preços há cinco anos é um dos fatores que contribuíram para crise no setor de álcool. Com margens de lucro apertadas, e com aumentos de custos, os preços do álcool subiram e o combustível acabou perdendo a competitividade para a gasolina, que está sem reajustes há alguns anos. E essa situação levou ao fechamento de muitas usinas e redução de área plantada de canaviais.
Em seminário realizado nesta quarta-feira (30) no Rio de Janeiro, promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finança (Ibef), o executivo destacou que o setor alcooleiro teve também vários outros problemas que resultaram na redução da oferta do produto nos últimos anos, como a quebra da safra da cana e a não renovação dos canaviais, com a perda de 20% em sua produtividade.
Ele citou a falta de investimentos para a expansão da oferta de álcool. "Não vemos surgir novas usinas, e esse é nosso ponto principal na discussão com o governo. Nós competimos com a gasolina na bomba com o álcool hidratado. Mas o grande problema do setor é que esse seu competidor na bomba praticamente não se altera há cinco anos", disse Eduardo Leão.
Segundo o executivo, não existe uma regra que permita se entender o que vai ocorrer no mercado de combustíveis no país. E ao mesmo tempo os usineiros tem custos crescentes de produção (cerca de 34% de aumento nos últimos cinco anos), sem conseguir repassar para seus preços de venda. "Sem conseguir repassar esses aumentos de custos vem apertando as margens do setor, e o resultado prático que estamos vivenciando é a falta de investimento. O investidor não olha no curto prazo e sim o longo prazo", afirmou o diretor da Unica.
Para uma plateia com dirigentes de todo o setor de combustíveis desde distribuição à revenda, Eduardo Leão destacou que o investidor quer saber quais são as regras do jogo que vão permitir e lhe garantir uma lucratividade quando ele vai maturar seus investimentos, no médio e longo prazos.
O diretor da Unica explicou que o setor alcooleiro vinha crescendo em um ritmo acelerado com o surgimento de 115 novas usinas de álcool entre 2005 a 2012, e investimentos R$ 40 bilhões, quando veio a crise econômica em 2008. A desaceleração da economia mundial e brasileira pegou os usineiros altamente endividados, e ocorreram inúmeras aquisições e fusões, sem o surgimento, contudo de novas usinas.
"É muito importante que seja feito um trabalho comum, setor privado com governo, para identificar essas medidas, e estabelecer um marco regulatório que deixe as regras muito claras para os os investimentos no setor sejam retomados. É preciso um planejamento mais claro do governo, com regras mais claras com relação a toda matriz de combustíveis, e é preciso um equacionamento para a questão econômica", disse Leão.
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