A queda nos preços internacionais do petróleo indica uma mudança na tendência do valor da commodity esperada pela Petrobras neste ano, em meio à crise global, e arrefeceu as pressões para um reajuste dos combustíveis no mercado brasileiro, avaliou o diretor financeiro da estatal.
"A pressão sobre a necessidade de um aumento diminuiu. A lógica parece ser essa (não ter pressão para aumentar)", disse Almir Barbassa, comentando sobre a questão que mais tem pesado nos resultados da estatal.
A Petrobras, que sofreu no balanço do primeiro trimestre com a alta dos custos de importação de combustíveis combinada com a manutenção de preços no Brasil, acreditava em abril que o petróleo Brent se sustentaria em um nível perto de US$ 120 o barril até o final do ano, um novo patamar, segundo chegou a afirmar a presidente da estatal, Maria das Graças Foster.
E isso levaria a um reajuste de preço dos combustíveis no Brasil ainda este ano, ela disse. Mas a situação mudou.
"Essa era a leitura naquela naquele momento. Estava indicando esse como o preço que deveria prevalecer. Mas o preço varia a cada dia", disse Barbassa, em entrevista ao Reuters Latin American Investment Summit, nesta segunda-feira (28) evitando estipular uma expectativa de preço do petróleo para o ano.
O petróleo Brent já caiu cerca de 15% desde o pico do ano, de pouco mais de US$ 128 o barril no início de março, e agora está próximo ao valor do início do ano, em torno de US$ 106 o barril.
Segundo Barbassa, a diretoria analisa constantemente os preços internacionais e leva o assunto para análise pelo Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que as decisões sejam tomadas.
"Na última reunião, o conselho estava confortável com o preço, e parece até que estava adivinhando que ia cair." A pressão sobre o petróleo ocorre em meio a preocupações com os efeitos da crise internacional para a demanda e com um mercado global bem abastecido, com países como a Arábia Saudita produzindo mais de 10 milhões de barris por dia, um patamar histórico.
Sem hedge
O executivo disse que a Petrobras é uma empresa exposta ao petróleo e ao seu preço. "Nós não fazemos hedge. O hedge que construímos internamente é produzir a baixo custo. Esse é o melhor hedge que uma empresa de petróleo pode ter, no nosso entendimento."
O custo médio da Petrobras no pré-sal, por exemplo, está abaixo de US$ 45 dólares, segundo ele.
Sobre um possível desabamento dos preços do petróleo a níveis abaixo de US$ 60 o barril como já preveem alguns bancos de investimento, com a atual crise mundial, Barbassa disse não descartar a possibilidade.
"Essa tempestade estamos preparados para superar. Temos alta liquidez na companhia e nós trabalhamos com essa possibilidade. No fim de 2008, o petróleo veio abaixo de US$ 40 e não de US$ 60", declarou.
Mas, segundo o executivo, a crise será superada e os preços do petróleo deverão voltar aos atuais patamares. "O que nos dá confiança é que o petróleo é a principal fonte de energia do mundo e a tendência é ele se escassear cada vez mais; é um bem finito", declarou.
"Ele pode flutuar no curto prazo e é conjuntural e depende de crise na Europa e EUA. Mas isso vai ser superado a não ser haja um desastre, o que não acredito. O dia que for superado, o petróleo volta e se sustentar em US$ 100 ou mais, o que é extraordinário para nós."
Investimento
Segundo Barbassa, mesmo quando o preço do petróleo caiu para níveis abaixo de US$ 40, na crise de 2008, a estatal lançou um plano de investimentos audacioso.
"Em 2008, não foi isso que aconteceu não. Nós lançamos um plano de investimento de 2009 a 2013 que foi de US$ 174 bilhões, crescendo 50% ante o anterior. Isso foi em janeiro de 2009 quando o petróleo estava em US$ 40."
Mas, para o executivo, não seria possível a manutenção dos investimentos previstos no último plano plurianual - de cerca de US$ 224 bilhões - com o barril a valores muito baixos, o que a Petrobras não acredita.
"É claro que esse programa a US$ 40 o barril não seria implementável, seria ajustado, naturalmente. Mas nós trabalhamos em uma expectativa conservadora entre US$ 80 e US$ 95 dólares [o barril], que a gente estimou para efeitos financeiros em vigor e seria perfeitamente factível dentro desse cenário."
No Plano de Negócios da estatal em vigor, os investimentos se sustentam com o barril entre US$ 80 e US$ 95. "Então, o que está prevalecendo hoje é que temos uma faixa enorme de possibilidade de continuarmos lucrativos", comentou.