O governo cedeu à pressão da base aliada e decidiu adiar, sem nova previsão de data, o envio ao Congresso Nacional do projeto de lei que cria a taxação dos depósitos da poupança acima de R$ 50 mil a partir de 2010. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretendia estudar o assunto e definir o envio da proposta antes de sua viagem de uma semana à Europa, embarcou na noite desta terça - feira (29) e nem chegou a examinar o projeto.

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Ele atendeu pedido do próprio Ministério da Fazenda para deixar o assunto em suspenso, pois o tema ainda não estaria maduro e precisava ser negociado. Na verdade, o governo foi avisado que se o projeto fosse colocado em votação agora, poderia ser derrubado porque o PMDB, principal partido da base, não estava simpático à ideia. O próprio PT, partido do presidente Lula, mandou recados claros ao governo de que não considerava oportuno o envio do projeto agora.

Esta é a segunda vez que a proposta de se mexer na caderneta é anunciada pelo Ministério da Fazenda e não é encaminhada ao Congresso. A proposta, que já estava sendo analisada pela Casa Civil e praticamente pronta para ser remetida ao Parlamento, foi pedida de volta pela Fazenda para novos estudos e acalmar o ânimo dos aliados. Depois foi reenviada à Casa Civil, mas com um pedido para que ela fosse "segurada", sem ser levada ao presidente, até que uma ordem em contrário seja dada.

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Técnicos da equipe econômica tinham interesse em mandar o projeto logo, para que pudesse ser aprovado ainda este ano. Isto porque, a criação do tributo deve observar o princípio da anualidade, que determina que um imposto novo só tem validade no ano seguinte. Avaliação adicional era de que a adoção da medida retiraria do Banco Central um argumento para não baixar mais os juros. Embora o mercado espere alta da taxa básica (Selic) no ano que vem, há no governo muitos que acreditam que existe espaço para mais alguma queda na Selic, ainda que pequena.

O rendimento garantido da poupança (6% mais Taxa Referencial, sem cobrança de impostos) é considerado um piso de taxa de juros no País, já que a partir de determinado nível os fundos de investimento, que operam com base na Selic e são tributados, ficariam menos atrativos. Hoje, com a Selic em 8,75% ao ano, já se tem uma situação limítrofe, com risco de ocorrer uma migração maciça dos fundos para a poupança, prejudicando a rolagem da dívida pública e sustentabilidade do sistema financeiro habitacional.

Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi advertido que a discussão sobre a poupança pode contaminar as negociações em torno do marco regulatório do pré-sal, que hoje é a pauta prioritária do governo no Parlamento. Além disso, o Planalto foi lembrado que taxar a poupança nas vésperas do período de campanha eleitoral seria dar munição para a oposição, despertando um debate emocional da tributação dos rendimentos da poupança, já que essa é a aplicação financeira mais popular do País.

A nova proposta, anunciada há cerca de duas semanas por Mantega, previa taxação pelo Imposto de Renda dos rendimentos da poupança relativos a aplicações superiores a R$ 50 mil. Só seriam tributados em 22,5% os ganhos relativos à parcela acima de R$ 50 mil. Ou seja, em uma aplicação de R$ 60 mil, só teria imposto o rendimento dos R$ 10 mil que excedem o valor de corte para a tributação.

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