Os sinais positivos que começam a aparecer na economia elevam o otimismo, ainda que cauteloso, dentro do governo para o ano. A expectativa da equipe econômica é de que, ao fim do último trimestre, o Brasil esteja crescendo a um ritmo de 2% em relação ao mesmo trimestre de 2016. “Devemos ter crescimento neste primeiro trimestre. O ponto da virada parece ter sido em dezembro”, diz o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fabio Kanczuk.
A Fazenda vem mapeando a intensidade do “vigor” da retomada nesses três meses. Até o momento, identificou pelo menos cinco importantes sinais de que o período de recessão econômica, que atravessou 11 trimestres consecutivos, está ficando para trás.
Nas contas do ministério, esboçam reação os setores de agronegócio, com uma safra recorde; automobilístico, com a normalização dos estoques; de bens não duráveis, com o aumento do consumo, sobretudo em super e hipermercados; o minério de ferro, com o aumento do preço no mercado internacional; e a construção civil, beneficiada pelas medidas recentes de ampliação do Minha Casa, Minha Vida e elevação para R$ 1,5 milhão do limite de compra da casa própria com recursos do FGTS.
Alguns indicadores também sinalizam a retomada, como o aumento de licenciamento de veículos e o aumento da confiança do consumidor e do empresário. Para a equipe econômica, dessa vez é um “crescimento de verdade”, sem artificialismos do passado recente. O PIB pode até mesmo surpreender e superar 1% (a previsão oficial até o momento), mas a estratégia agora é não contar com um cenário melhor para não ter de ficar “torcendo” depois.
Para o presidente do Insper, Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica, porém, o Brasil ainda não está numa trajetória de crescimento sustentado. Segundo ele, para crescer a patamares de 3%, por exemplo, é preciso levar à frente a agenda de aumento da produtividade, que está estagnada no país. Mas ele pondera que há agora uma janela de oportunidade aberta, com a melhora da perspectiva das contas públicas. Ela dá um fôlego até 2018 para abrir essa agenda. A maior preocupação é de a crise financeira dos estados contaminar a retomada, levando à crise social.
A economista Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, diz que o crescimento virá “devagar”, como deve ser depois do “desarranjo” recente da economia. O Ibre foi uma das primeiras instituições no ano passado a perceber que a retomada não começaria em 2016, como se imaginava inicialmente. Agora, projeta uma retomada começando no primeiro trimestre.
Segundo Sílvia, a perspectiva é de alta de 0,4% nesse período. Ele alerta, no entanto, que metade desse crescimento será decorrente da agricultura. O setor de serviços continuará muito fraco. Somente no segundo trimestre é que a retomada começa a ser mais disseminada. E o aumento do emprego formal só começará em 2018.
Renda
Para o governo, a queda surpreendente da inflação neste início de ano ajuda na retomada da economia, porque aumenta a renda real do brasileiro, favorecendo o consumo de bens não duráveis. O ponto alto da retomada, no entanto, é a exuberância do setor agrícola, com a estimativa de safra de 220 milhões de toneladas de grãos e crescimento de 20% em relação a 2016.
Na indústria, as informações são de que nove setores estão reagindo: máquinas e equipamentos; produtos de metal; perfumaria, produtos de limpeza; calçados e artigos de couro; borracha e plástico; mobiliário; veículos, reboques, carrocerias; vestuário e acessórios; e informática, produtos eletrônicos e ópticos.
O comércio também estaria começando a dar alguns sinais de melhora, mas o primeiro trimestre é tradicionalmente mais fraco para esse setor.
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