O mercado financeiro brasileiro deverá receber a partir de 2017 uma enxurrada de ações de empresas pertencentes aos governos federal e estadual com o objetivo de melhorar as contas públicas. Na esfera nacional, o BNDESPar, braço de participações do BNDES, indicou o interesse em vender parte de seus ativos para compensar um rombo de R$ 2,174 bilhões registrado no primeiro trimestre de 2016. Já o governo do Paraná enviou para a Assembleia Legislativa um pedido de autorização de venda de R$ 2 bilhões em posições da Sanepar e da Copel, o que segundo o governo ampliará o montante disponível para investimentos.
Mas, para que o mercado absorva todos esses papéis, os governos deverão aguardar sinais de que os investidores estão dispostos a apostar no país, o que depende muito do cenário econômico brasileiro e da aprovação de reformas, como a da Previdência, e da criação de um teto para os gastos públicos. No entanto, analistas afirmam que a ação em si dá um sinal positivo aos agentes econômicos. “A venda dos ativos mostra ao mercado que o governo está executando medidas para melhorar a sua estrutura financeira e diminuir as dívidas, o que pode cria uma reação positiva não tanto pela venda, mas pelo sinal de que o estado está cuidando das suas contas”, acrescenta o assessor de investimentos da Toro Investimentos Leonardo Morotti.
A estimativa é que apenas o BNDESPar possua US$ 21 bilhões (R$ 67 bilhões) em ações de empresas brasileiras, que são divididas em carteiras de setores tão diferentes quanto os ramos da alimentação (JBS), de papel e celulose (Fibria), de mineração (Vale) e de petróleo, gás e energia (Petrobras e Eletrobras). O banco ainda estuda quais posições serão colocadas à venda, mas de acordo com economistas a tendência é que os papeis escolhidos serão vendidos em lotes para evitar grandes deságios.
O gestor de fundos de ações do Banco Daycoval, Juan Carlos Resende Morales, afirma que mesmo com uma possível redução dos preços das ações que venham a ser negociadas, a queda no Risco Brasil e a melhora das perspectivas nos lucros das empresas poderão garantir valores atrativos ao estado. “Essas vendas ocorrem porque o governo precisa de liquidez e, devido à relevância que essas empresas têm no mercado, elas deverão ser absorvidas por um preço adequado, já que oferecem várias oportunidades aos investidores”, observa. Além das participações do BNDESPar, o governo federal indicou a intenção de abrir o capital de empresas como a Caixa Seguros e o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
Copel e Sanepar vivem ‘bom momento’ na Bolsa
O projeto de lei que solicita a venda de posições pertencentes ao governo do estado da Copel e da Sanepar começou a tramitar no último dia 15 na Assembleia Legislativa. Em entrevista à Gazeta do Povo, o secretário estadual da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, afirmou que a previsão é que sejam vendidas até 8,5% das ações ordinárias (com direito a voto) da companhia elétrica, o que poderá render cerca de R$ 700 milhões aos cofres públicos, além de parte das ações ordinárias e preferenciais (sem direito a voto) da empresa de saneamento, com arrecadação estimada em R$ 1,3 bilhão. Conforme o projeto, a participação majoritária continuará sendo do estado.
Segundo o assessor da Toro Investimentos Leonardo Morotti, o atual momento é positivo para os papeis das duas empresas, que retomaram os patamares de 2013, quando a economia estava em melhor forma. Em agosto deste ano, as ações preferenciais da Sanepar chegaram à máxima histórica de R$ 7,74. Já as da Copel estão em R$ 33,85, enquanto as ordinárias custam R$ 22,45.
Com a venda das participações da empresa de saneamento, a tendência é que os papeis possam entregar maior liquidez aos acionistas. Entretanto, no caso da Copel, as ações correm o risco de sofrer um maior deságio caso sejam vendidas no mesmo período de concorrentes maiores, como a Eletrobras.
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