O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, acusou os credores internacionais de “chantagem” para salvar o país de um calote a partir de semana que vem. A declaração ocorre na véspera da reunião decisiva deste sábado (27) em Bruxelas sobre o tema.
“Os princípios da União Europeia são democracia, solidariedade, igualdade e respeito mútuo. Esses princípios não são baseados em ultimatos e chantagens. Ninguém tem o direito de colocar em perigo esses princípios. O governo grego vai continuar lutando em favor deles”, disse Tsipras nesta sexta-feira (26), em Bruxelas, após o fim da cúpula de dois dias da União Europeia.
A Grécia quer desbloquear o acesso a 7,2 bilhões de euros, última parcela do socorro de 240 bilhões de euros recebido de ambos desde 2010. Sem esse dinheiro, o governo diz que não tem como pagar a dívida de 1,6 bilhão de euros que expira na próxima terça-feira (30) com o FMI – o fundo já avisou que não vai prorrogá-la.
Para liberar o recurso, os credores exigem uma série de compromissos fiscais que a Grécia não quer aceitar. O país alega que já apresentou uma oferta de ajuste de 7,9 bilhões de euros nas contas públicas, mas os credores querem mais.
Negociação
Uma reunião entre os 19 ministros de Finanças da zona do euro está marcada para este sábado (27) em Bruxelas. O encontro seria a última chance de um acordo para evitar o colapso no país.
O governo grego rejeitou ainda uma última oferta dos países da zona do euro de prorrogar por mais cinco meses a dívida em troca de receber uma ajuda de 16,3 bilhões de euros. O novo socorro dependeria, no entanto, de a Grécia concordar com as reformas exigidas. A chanceler alemã, Angela Merkel, classificou de “generosa” a proposta. “Nós tomamos um passo em direção à Grécia, agora cabe a ela adotar um passo similar”, afirmou, em Bruxelas.
Ao não pagar a dívida, a Grécia ficará sem ajuda externa pela primeira vez em cinco anos e pressionada a discutir a permanência na zona do euro. Ao mesmo tempo, o governo teme uma onda de saques bancários e a necessidade de impor um controle de retirada, medida impopular que transformaria uma crise econômica também em um problema político.
Dilema
Eleito em janeiro sob discurso contrário a medidas de austeridade, Tsipras vive um dilema: aceitar duras reformas nas contas públicas, que podem trazer um desgaste político para seu partido, o Syriza (esquerda), ou encarar o calote e a pressão para deixar a zona do euro. Setores do seu partido e do aliado de coalizão, os Gregos Independentes, resistem a aprovar as propostas no Parlamento.
FMI e BCE exigem mais corte de gastos e endurecimento na reforma previdenciária. Cobraram que parte das medidas passe a valer a partir de julho, e não em outubro, como queriam os gregos.
Os credores querem, entre outras coisas, que o país suba de 0,4% para 1% do PIB a arrecadação em 2015 com a reforma previdenciária. Pedem também que a receita com a reforma do IVA, o imposto sobre valor agregado, seja de 1% do PIB, enquanto Atenas não aceita passar de 0,93%.
Para FMI e BCE, o governo tem de dobrar o corte previsto de 200 milhões de euros nos gastos com Defesa.