A decisão do presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular a votação que aprovou o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff – revogada por ele mesmo, 12 horas depois – traz consequências diretas ao cenário econômico brasileiro. Ainda nesta segunda-feira (9), logo após o anúncio de Maranhão, o Ibovespa caiu quase mil pontos e o dólar subiu 4,75%. Ao longo do dia, entretanto, os indicadores voltaram aos patamares anteriores à notícia, na medida em que os agentes econômicos se convenciam da fragilidade da decisão de Maranhão, que nem o próprio parlamentar acabou sustentando. Apesar disso, este fato evidenciou a imprevisibilidade da crise política e a dificuldade da retomada da confiança no cenário econômico do país.
Segundo Rafael Leão, economista da Parallaxis, o que este tipo de medida sugere para o futuro é um ambiente econômico de muita volatilidade. “Ao sabor dos eventos políticos que vão surgindo a cada hora, o cenário econômico tende a ser dominado pela volatilidade. Isso é prejudicial porque tira a previsibilidade do mercado e dificulta a decisão de fazer investimentos”, avalia.
Outra consequência das incertezas no cenário político foi o aumento dos juros futuros. Na segunda-feira, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 subiu de 12,58% para 12,69%, com máxima de 13,15%. Segundo Leão, a instabilidade política traz também implicações para os cenários de médio e longo prazos. “Quanto mais a crise política se alonga, mais investimentos estão sendo postergados. Isso atrasa a recuperação da atividade econômica, o que implica, entre outros fatores, em um nível de emprego mais baixo”, afirma.
Para Pedro Paulo Silveira, economista da Nova Futura, quando há um horizonte indefinido é muito difícil que os agentes econômicos tomem decisão de gastos. “Quando você tem ações de política que aumentam o nível de incerteza, espera-se a retração do nível de atividade econômica”, diz. Para ele, esse nível de retração deve chegar a 4,5% em 2016. Já o relatório de mercado Focus divulgado na última sexta-feira (6) pelo Banco Central, prevê que neste ano a economia brasileira deve retrair 3,86%.
Na avaliação de Silveira, é necessário que haja a estabilização do cenário político para gerar previsibilidade no mercado. “Para dar segurança, é fundamental saber qual é o governo, o que ele pretende fazer, qual o seu plano de governo e qual a sua capacidade de sustentação no Congresso.”
Já Fernando Marcato, da GO Associados, analisa que a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, de ignorar a suspensão do processo de impeachment na Câmara faz com que a hipótese principal continue sendo o afastamento de Dilma e a ascensão de Michel Temer à presidência, o que, ainda assim, não garante estabilidade política. “Esse ato mostra que a Câmara não está 100% alinhada com um governo de Michel Temer. Há uma desarticulação, especialmente no baixo clero, que deixa o cenário menos previsível e a barganha política mais complexa para o governo Temer”, diz. Para ele, neste cenário a eficiência e o enxugamento da máquina não serão tarefas fáceis de serem implementadas no próximo governo.