Desde a década de 60, o Paraná passou por quatro grandes ciclos de transformação econômica. E a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), cuja inauguração representou um marco no terceiro ciclo, volta à cena três décadas depois, tornando-se uma das protagonistas do quarto ciclo, iniciado há cerca de dez anos. Uma boa idéia das transformações provocadas pela refinaria está no tamanho da cidade de Araucária: a população não chegava a 30 mil habitantes na década de 70, e hoje passa de 120 mil. O parque industrial do município é o segundo maior do estado, atrás apenas da capital.
O economista Gilmar Mendes Lourenço, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UniFae, conta que o primeiro grande ciclo econômico se deu nos anos 60, quando os governadores Ney Braga e Paulo Pimentel investiram maciçamente em infra-estrutura, para que o estado deixasse de se limitar a grandes fazendas de café e um punhado de serrarias. Essa base permitiu que, no início da década seguinte, se desenvolvessem a agroindústria e o pólo cimenteiro da região metropolitana de Curitiba. O terceiro ciclo foi inaugurado na segunda metade dos anos 70, com a criação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), seguida pela instalação das primeiras montadoras Volvo, de ônibus e caminhões, e New Holland, de máquinas agrícolas e da própria Repar, fruto de uma antiga reivindicação de empresários e políticos paranaenses.
Entre o segundo choque do petróleo, em 1979, e o lançamento do Plano Real, em 1994, o Paraná se consolidou como o maior produtor de grãos do país, mas, do lado da indústria, houve pouco a se comemorar. Na seqüência, a febre vivida pela indústria automotiva na segunda metade dos anos 90 coincidiu com uma agressiva política de incentivos fiscais adotada pelo governo do estado, que acabou por atrair três montadoras à região metropolitana da capital inaugurando, na opinião de Gilmar Lourenço, da UniFae, o quarto ciclo econômico das últimas cinco décadas.
Influência
Numa época em que o estado tinha poder de persuasão em Brasília, paranaenses que integraram o primeiro e o segundo escalão do governo federal foram fundamentais para que a Petrobrás escolhesse Araucária como sede de sua refinaria, deixando ao concorrente Rio Grande do Sul o pólo petroquímico. "No início dos anos 70, tínhamos o apoio do Ney Braga no Senado, do Carlos Rischbieter, que era presidente da Caixa Econômica Federal, e do Maurício Schulman, no BNH [Banco Nacional da Habitação]. Além disso, o Badep [Banco de Desenvolvimento do Paraná] tinha acesso a recursos abundantes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", conta Luiz Antônio Fayet, ex-presidente do Badep e do Banestado, e assessor econômico do Ministério da Indústria na época em que a Petrobrás definiu a escolha de Araucária.