Não foi uma entrada suave. Estava mais para cena de filme de ação, daqueles que o policial entra com o pé na porta. O lançamento da plataforma de chatbots para o Facebook Messenger, em abril, tinha o fervor de uma revolução iminente. Este serviço, um robozinho que conversa com você via bate-papo da rede social, seria um amigo indispensável, capaz de te falar a previsão do tempo, a que restaurantes ir... Tudo natural, na conversa. Muitos logo o decretaram a morte dos aplicativos – o que até faz sentido, já que ninguém gosta de entupir o smartphone com apps que, com alguma sorte, serão usados mais de uma vez.
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A ideia continua ótima, mas, meses depois, a realidade se mostrou um pouco mais dura. Foi um lançamento “overhyped” (ou “celebrado com certo exagero”), admitiu o vice-presidente da plataforma Messenger, David Marcus, em uma conferência de tecnologia. É que a inteligência artificial por traz de tais sistemas ainda não se mostra tão inteligente assim. Marcus fez seu mea-culpa ao admitir que talvez o período de testes da plataforma tenha sido curto.
“Estamos muito no começo”, pondera Paulo Ribas, diretor de soluções mobile da empresa de tecnologia Cedro Technologies. “Os bots usam o conceito de machine learning (aprendizagem de máquina). Na medida em que o usuário vai interagindo, vão ficando mais inteligentes. O problema é errar muito, como aconteceu nas primeiras versões [dos chatbots]. Isso pode desestimular o usuário”, diz.
Mas Ribas se mantém otimista. E os números mostram que ele está certo– de 11 mil chatbots disponíveis para Messenger em agosto, este número disparou para 30 mil em setembro. Além disso, o Facebook começou a liberar pagamentos via bate-papo e incluiu funcionalidades interessantes, como chamar um Uber. Bons motivos para puxar um papo com estes robôs invisíveis.
Empurrão decisivo
Ironicamente, é uma criação de um concorrente de Mark Zuckerberg que pode dar o empurrão decisivo. O Google lançou na última semana o Allo, disponível para iOS e Android. É um aplicativo de bate-papo que lembra mais o WhatsApp do que o Messenger. Só que com diferenças substanciais.
Para alguns especialistas, é aí que está o pulo do gato. “Enquanto o Facebook é uma porta para que desenvolvedores de outras empresas coloquem seu robozinho, o Allo tem inteligência artificial nativa. É o próprio app que conversa com o usuário, não um terceiro. E isso facilita a vida, já que unifica vários serviços. E o ecossistema do Google é respeitável”, aposta o desenvolvedor mobile e professor de ciências da computação João DeGrassi.
Serviços como Google Maps ou YouTube, por exemplo, são acessados pelo Allo sem problema. Se pedir por determinado artista, o app levará a um link do serviço streaming. Se perguntar por restaurantes, o app mostrará as opções já com acesso ao mapa. “É como uma pesquisa Google, só que de forma instintiva, sem precisar sair do bate-papo”, define DeGrassi. E sem abrir várias abas de conversa, como no caso do Messenger.
Ainda, você pode incluir o robô em uma conversa com seus amigos. Por exemplo, se estiver combinando um jantar com alguém, basta usar um ‘@google’ e a inteligência artificial irá interpretar a conversa e sugerir lugares. Você e seu amigo (ou amigos) verão.
Apesar de última empresa a entrar na disputa dos bots, o Google parece ter entendido bem o que se espera desse serviço, que é uma mina de ouro. A promessa é de um novo capítulo nesta guerra. Resta saber se a pessoas vão querer baixar mais um aplicativo de bate-papo – pelo visto, os aplicativos também seguirão firmes e fortes.
Quem está no jogo?
Há várias plataformas de chatbots a aplicações. Mas 3 se destacam ao entregar o serviço integrado a bate-papo:
iMessage (Apple)
Foge do conceito de chatbots, mas é um serviço um tanto parecido. Terceiros, como empresas ou artistas, podem criar extensões de aplicativos que rodam no bate-papo instalado em todos os iPhones.
Messenger (Facebook)
Sua vantagem é ser uma plataforma extremamente popular, com mais de 1 bilhão de usuários. Os chatbots que disponibiliza são terceirizados. O usuário precisa puxar papo com o bot de sua preferência. Por exemplo: quer saber a previsão do tempo, começa uma conversa com o Yahoo Weather ou o Poncho.
Allo (Google)
Entra agora no jogo. Precisa convencer os usuários de smartphones a baixá-lo e a acreditar em sua privacidade, já que é mais invasivo do que o Messenger. Por exemplo: em uma conversa com o amigo, pode-se acionar a inteligência artificial para ajudar a escolher um restaurante.
Chatbots?
São robôs capazes de se comunicar imitando a linguagem humana. Em vez de uma pessoa se comunicando com o usuário via serviço de mensagem, é um software que faz isso. Eles aprendem na medida que são usados, pois incorporam novas expressões e melhoram a sua análise textual – esse conceito se chama machine learning.
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