Há um ano, o desenvolvedor de softwares Roy Breidi, 27 anos, estava sonhando em lançar uma startup que trabalhasse com a moeda digital bitcoin. O problema é que ele “não havia realmente entendido qual é a mágica por trás disso”.
Então, ele fez um curso on-line chamado “Bitcoin e Tecnologias de Criptomoeda”, da Coursera. É uma das muitas oficinas e treinamentos que têm surgido para ajudar pessoas de várias áreas -- especialmente desenvolvedores de software -- a entender o blockchain, o tecnologia subjacente ao bitcoin, e transformar este conhecimento em algo mais emocionante e, às vezes, em um emprego melhor remunerado.
O que é blockchain?
É a tecnologia responsável por viabilizar as transações com moedas digitais.
É uma espécie de infraestrutura aberta e pública capaz de viabilizar e registrar transações feitas por qualquer pessoa autorizada a utilizar esta rede.
Com isso, um usuário pode, por meio de uma moeda virtual, receber ou enviar dinheiro para qualquer pessoa no mundo, sem ter de arcar com taxas bancárias ou mesmo possuir uma conta-corrente.
Além disso, permite o registro de acordos comerciais “inteligentes”, em que cada parte tem acesso a um produto ou serviço de forma automatizada, assim que o sistema reconhece que os negociantes cumpriram sua parte .
Em poucos meses, Breidi teve de deixar seu emprego para começar a trabalhar em tempo integral no Shake, que permite às pessoas usarem um cartão de crédito de bitcoin. Recentemente, a empresa ganhou financiamento da Boost VC, e Breidi, cofundador e diretor de tecnologia, mudou-se para San Mateo, Califórnia, onde seus parceiros lhe ofereceram uma residência temporária e um escritório.
Embora ele ainda não esteja sendo pago, vive basicamente de suas economias, espera ganhar dinheiro com a ideia. “O céu é o limite”, diz ele.
Com os bancos e as seguradoras começando a trabalhar com o blockchain, como uma ferramenta para registrar transações e transferências de ativos, e agentes de capital de risco investindo mais de US $ 1,1 bilhões em startups relacionadas a esta tecnologia, não há desenvolvedores suficientes que dominam o software.
Até o começo de setembro, o site de empregos Indeed.com oferecia 136 vagas para trabalhar com “blockchain” em vários lugares, de Nova York a Boston, enquanto Monster.com postou 77 vagas.
“A oferta de pessoas com boa experiência em blockchain é muito baixa”, diz Jered Kenna, empresário que pretende contratar um especialista na tecnologia nos próximos meses. “E a demanda está aumentando rapidamente. Às vezes, eles recebem cinco ofertas de emprego por dia”.
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Um desenvolvedor de blockchain experiente pode receber $ 220 mil por ano, diz Kenna. Sua estratégia será contratar “alguém com muita experiência para liderar e alguns outros profissionais recém-formados em um dos cursos que ensinam a tecnologia.”
Projeta-se que o número de desenvolvedores deva crescer rapidamente. Há 250 profissionais que realmente são conhecedores nos Estados Unidos, diz Jeff Garzik, um dos poucos especialistas que trabalham com blockchain. No mundo todo, 7 mil a 8 mil pessoas conseguem trabalhar com blockchain em vários níveis de proficiência.
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Este número pode ir a 100 mil em 18 a 24 meses se mais segmentos passassem a implantar a tecnologia, diz William Mougayar, investidor e autor do livro “The Business Blockchain” [“O negócio do blockchain”, em tradução livre].
Cerca de 35 mil pessoas fizeram o curso de introdução da Coursera desde o fim de 2015, diz Arvind Narayanan, professor assistente de Ciência da Computação na Universidade de Princeton, responsável pelas aulas. A próxima oficina, marcada para este mês, tem 46 mil inscritos, afirma a Coursera.
Mais workshops estão surgindo de Nova York a Sydney, passando por Luxemburgo. Cursos que duram de vários dias a meses ensinam as noções básicas de criptografia e as linguagens de programação necessárias.
“Você tem que programar tendo na cabeça que tudo é público”, diz Joshua Gancher, que fez um treinamento na Universidade de Cornell.
Matrículas para programas mais avançados não são baratas. A Byte Academy, em Nova York, planeja oferecer um curso de oito semanas em tempo integral por US$ 10 mil. A Escola de Negócios de Luxemburgo fez um treinamento em abril para 17 pessoas, de advogados a desenvolvedores da Deloitte, em que cada uma delas pagou 1.200 euros (US$ 1.350).
“É muito importante enviar pessoas a treinamentos como este para que a Deloitte possa fazer parte deste ecossistema da blockchain”, diz Lory Kehoe, diretor do laboratório de blockchain da empresa gigante das consultorias. Em novembro, a Deloitte realizará seu próprio workshop de cinco dias, em Bruxelas, para cerca de 30 funcionários. Eventualmente, este treinamento poderá estar disponível para clientes.
Muitas empresas, como a Alphabet, que detém o Google, fizeram treinamentos para os seus funcionários. Neste ano, 25 jovens desenvolvedores da Capgemini Financial Services fizeram um curso de oito semanas em período integral. A consultoria espera que cem de seus funcionários façam o curso até o fim do ano, de acordo com Bart Cant, líder do grupo de blockchain da empresa.
“Só há, provavelmente, cem especialistas em blockchain no mundo”, diz Cant. “A maioria está em startups. As pessoas estão gostando desses ambientes, é difícil para elas voltarem para um lugar mais tradicional”.
Para tornar os programas mais acessíveis, algumas universidades têm apostado em patrocinadores. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) ganhou cerca de US$ 100 mil em dinheiro e serviços de apoio de companhias como a Deloitte e a Zappos.com para ministrar uma oficina, em agosto, para 25 jovens, diz Brian Forde, diretor do departamento de moedas digitais do MIT.
É claro que os desenvolvedores de blockchain só vão amadurecer se a tecnologia assim o fizer, e se os testes que as empresas estão fazendo agora se expandirem e ganharem uso prático. Pode levar vários anos para que apareçam empregos altamente remunerados neste campo, diz Dave Hoover, cofundador da Dev Bootcamp, um centro de treinamentos para desenvolvedores web.
“Para mim é uma questão de quando, porque acredito que o blockchain é uma tecnologia que vai mudar o jogo fundamentalmente “, diz Hoover. “Provavelmente vai ser mais rápido do que o que aconteceu com a web”.