Em um mundo que vê novos produtos e tecnologias surgirem a cada ano, a dificuldade em se criar uma bola de cristal capaz de mostrar o futuro é mesmo decepcionante – pelo menos para investidores e empresas que correm hoje para decifrar o que vai “bombar” nos próximos anos. Óculos de realidade virtual? Drones? Impressão 3D? Pulseiras conectadas? Opções não faltam, embora poucos negócios pareçam ter de fato potencial para causarem o mesmo impacto da chegada dos smartphones e da internet móvel na última década.
Enquanto algumas empresas buscam a nova onda tecnológica como uma forma de diversificar receitas e incrementar seus serviços atuais – caso da fixação do Google e da Microsoft pela inteligência artificial –, outras tentam se antecipar para não perder novamente o bonde, como as operadoras de telefonia, ultrapassadas nos últimos anos por pequenas startups e seus aplicativos de mensagem e streaming.
A expectativa é que tecnologias já existentes mas ainda incipientes possam fomentar o mercado como um todo, permitindo a criação de novos serviços e modelos de negócios, em um ecossistema amplo com espaço para gigantes e pequenos – justamente o que os smartphones permitiram desde a chegada do iPhone, que completa dez anos em 2017. Hoje, as três startups mais valiosas do mundo são “filhas” diretas da onda dos celulares conectados à internet: Uber, Xiaomi e Didi Chuxing (aplicativo chinês para táxis).
As apostas variam. Em estudo divulgado no início deste ano, o Goldman Sachs cravou que os dispositivos de realidade virtual e aumentada serão os “novos celulares”. “Realidade virtual e aumentada têm o potencial para se tornarem a próxima grande plataforma de computação, e assim como vimos com os PCs e smartphones, esperamos que novos mercados sejam criados e os existentes passem por uma disrupção”, afirmou o banco.
A PwC, por outro lado, garante que o futuro aos drones pertence. A estimativa da consultoria é que, até 2020, as aplicações comerciais com as aeronaves garantirão um faturamento invejável de US$ 127 bilhões para as empresas envolvidas, no mundo todo.
A evolução da internet
Mas, em termos de alcance e promessas, uma tecnologia em especial parece despontar como a aposta mais certa. “Há uma nova onda disruptiva sendo montada e ela tem nome e sobrenome: Internet das Coisas”, resume o professor da FGV Raul Colcher, porta-voz no Brasil da IEEE, organização global dedicada ao avanço da tecnologia. Ele se refere à nova onda de dispositivos conectados à internet, desde geladeiras a lâmpadas, capazes de transmitir e receber dados em tempo real.
“A internet, que já foi majoritariamente uma rede de pessoas, será no futuro próximo uma rede de dispositivos conectados. E o smartphone tem um papel importante nisso, ao surgir como a infraestrutura natural para hospedar essas aplicações. O paradigma da comunicação móvel vai ser estendido para hospedar esses bilhões de dispositivos”, completa Colcher.
Estudo da Gartner aponta que 20,8 bilhões de dispositivos estarão conectados em 2020, movimentando um mercado avaliado em US$ 3 trilhões. “A previsão de como esse tráfego todo vai rodar pelas redes é imprevisível. Internet das Coisas será uma revolução maior que a introdução da internet, maior que a banda larga móvel. Operadoras, fornecedores e usuários têm que se preparar pra isso”, afirmou mês passado, durante a Futurecom, em São Paulo, o vice- presidente global de Vendas e Serviços da Coriant, Tarcisio Ribeiro.
Sem saber ao certo onde aplicar, investidores estão mais seletivos
A habilidade de prever quais serão os novos produtos e serviços a cair nas graças dos consumidores e empresas é essencial para os investidores de capital de risco, responsáveis muitas vezes por dar o empurrão para os negócios florescerem. Mas com tantas opções de tecnologias a considerar e sem uma grande nova onda consolidada – mesmo a Internet das Coisas precisa mostrar ainda a que veio –, esses apostadores estão mais seletivos.
Dados da Associação Nacional de Venture Capital (NVCA, da sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram que os investidores do país, considerado o principal palco das revoluções tecnológicas, já aportaram US$ 56 bilhões em 6 mil empresas neste ano, até setembro – 2015 fechou com um total de investimentos de US$ 78,9 bilhões, um recorde histórico. Apesar do valor considerável, há cinco trimestres seguidos o número de empresas que receberam os aportes só cai – no terceiro trimestre deste ano, 1,8 mil companhias ganharam investimentos de capital de risco no país, a menor marca desde o fim de 2010.
Para a NVCA, isso reforça que “os investidores estão assinando cheques maiores para menos negócios”. Segundo o balanço da associação, as companhias desenvolvedoras de software continuam a concentrar os investimentos – 49% do total investido no ano foi para essas empresas.
Em entrevista ao “The Wall Street Journal” no mês passado, o megainvestidor Steve Jurvetson, que é membro do conselho de companhias como Tesla, SpaceX e Synthetic Genomics, afirmou que sua empresa está financiando negócios nos setores agrícola, robótico, de inteligência artificial e aerospacial. “Uma quantia absurda de dinheiro será perdida com os investimentos em todas essas áreas. Mas as maiores oportunidades estão nestes setores”, cravou.
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