A batalha para liderar o mercado de inteligência artificial já começou. E, em vez de robôs e humanos se digladiando em um cenário apocalíptico, típico dos filmes de ficção científica, a disputa envolve companhias gigantes já velhas conhecidas dos usuários, que veem na evolução da tecnologia uma maneira de incrementar seus produtos e serviços e trazer mais receita para os negócios tradicionais.
No páreo, estão empresas como Microsoft, IBM, Facebook, Google, Apple e Amazon.
O acirramento desta corrida se deve, em parte, à recente evolução dos estudos e pesquisas na área, por meio do machine learning, técnica em que softwares e robôs, em vez de serem programados para efetuar ações pré-estabelecidas, aprendem por conta própria como agir, ao analisar bancos de dados e exemplos de situações diversas. Estimativa da IDC, por exemplo, aponta que em 2020, aplicações que usam machine learning vão gerar um faturamento de US$ 40 bilhões – e 60% destas aplicações devem rodar em softwares da Amazon, IBM, Google e Microsoft.
As previsões da IDC são seguidas por outras ainda mais otimistas. Estudo do Bank of America Merrill Lynch aponta que as cifras vindas de sistemas dotados de inteligência artificial vão chegar a US$ 70 bilhões nos próximos quatro anos. No início deste ano, a CEO da IBM, Ginni Rometty, foi ainda mais além, ao afirmar que este mercado pode chegar a US$ 2 trilhões ao longo da próxima década.
E, apesar das oportunidades serem diversas, algumas das empresas já batem de frente. O Google anunciou em maio seu assistente virtual doméstico Google Home, que vai disputar espaço com o Echo, da Amazon, lançado ano passado. A aposta das empresas é emblemática e fala muito sobre o mercado: ao colocarem seus assistentes dentro das casas, Amazon e Google ganham em cima das vendas e também garantem um novo canal de acesso a seus serviços de compras online e buscas, respectivamente.
“Até pouco tempo atrás, se ouvia falar muito sobre inteligência artificial na área acadêmica. Tínhamos um distanciamento das empresas em relação ao tema, mas agora o mercado corporativo está muito focado nisso. Independente de gostarem ou não, as pessoas vão conviver com IA no seu dia a dia de uma forma muito mais intensa do que imaginam”, reforça o coordenador do curso de Gestão de Tecnologia da Informação da Fiap, Cláudio Carvajal Júnior.
De fato há espaço para que os serviços inteligentes se multipliquem. A IDC estima que hoje apenas 1% de todos os aplicativos existentes têm recursos de inteligência artificial. Daqui a apenas dois anos, a previsão é que esse porcentual chegue a pelo menos 50%. “Um dos principais motivos pelo qual grandes empresas têm investido muito em computação cognitiva é o crescimento dos dados, principalmente aqueles não estruturados, que já não podem ser interpretados usado os métodos tradicionais. É onde começamos a usar inteligência artificial e foi o que lançou essa nova era”, reforça Thiago Rotta, arquiteto de soluções para o Watson, plataforma de computação cognitiva da IBM, no Brasil.
Apple
A Apple anunciou mês passado que vai abrir seu assistente digital Siri para aplicativos externos. Assim, usuários do iPhone poderão se conectar, por meio de comandos de voz, com serviços que não sejam da Apple para enviar mensagens, fazer pagamentos e buscar fotos, por exemplo. A companhia também afirmou que vai levar a Siri para o seu sistema de computador Mac, o que amplia a área de atuação da assistente e abre uma nova frente de receita para compensar as perdas com a desaceleração nas vendas de iPhones.
A companhia está apostando na inteligência artificial para garantir que os usuários continuem usando seu sistema de buscas, mesmo que não estejam passando mais tanto tempo na internet e em computadores. Isto será possível, por exemplo, por meio do Google Home, um alto-falante conectado que poderá controlar outros aparelhos inteligentes e fará pesquisas e ações para os consumidores com comandos de voz. Além disso, a empresa vai lançar um novo app de mensagens, chamado de Allo, capaz de sugerir respostas inteligentes a mensagens recebidas pelo usuário.
Amazon
A Amazon saiu na frente na corrida pelo mercado de assistentes virtuais com o Echo, um alto-falante conectado à internet que interage com os usuários e permite que compras sejam feitas na loja online da companhia de forma simplificada. O acessório foi lançado ano passado e, apesar da empresa não citar número de vendas, é considerado um sucesso pela mídia especializada. A empresa também emprega machine learning em sua plataforma de computação na nuvem, onde é líder no mercado.
Microsoft
Na conferência anual da empresa com desenvolvedores, em março deste ano, o CEO da Microsoft, Satya Nadella, deixou clara sua intenção de construir um “exército” de bots movidos por inteligência artificial – bots são sistemas capazes de conversar com o usuário por meio de texto ou voz e, assim, efetuar ações. A empresa lançou este ano uma plataforma aberta para que desenvolvedores produzam seus próprios bots e, em outra frente, já oferece a empresas aplicações que usam machine learning, para finalidades como reconhecimento de voz e análise de texto.
IBM
A IBM é uma das empresas mais avançadas no fornecimento de serviços que utilizam computação cognitiva – que é a aplicação de inteligência artificial para resolver problemas reais. Hoje, por meio de seu sistema Watson, a empresa já disponibiliza cerca de 30 aplicações diferentes, todas rodando na nuvem, que vão desde interpretação de texto ao diagnóstico de pacientes para médicos. Desenvolvedores podem acessar o app gratuitamente para testar as aplicações e criar novas utilidades. A empresa destaca que a “computação cognitiva é a nova era computacional”.
Em abril deste ano, a rede social abriu seu aplicativo de mensagens Messenger para que desenvolvedores de fora criassem bots capazes de interagir com os usuários e realizar tarefas, como comprar passagens, transferir dinheiro e marcar reuniões – tudo isso sem precisar entrar em outros apps. A estratégia deu certo: o Facebook anunciou semana passada que mais de 11 mil bots já foram integrados ao Messenger e cerca de 23 mil desenvolvedores se inscreveram para criar os robôs.
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