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ROBÓTICA

Robô decide sozinho se quer ferir humanos ou não

Braço robótico possui um sensor sensível ao toque em sua base | Divulgação/Alexander Reben
Braço robótico possui um sensor sensível ao toque em sua base (Foto: Divulgação/Alexander Reben)

Encoste o dedo no robô de Alexander Reben e a máquina pode te furar. Mas fique tranquilo: não será um ferimento grave. Reben construiu o robô para causar o mínimo de dor, mas, ainda assim, ser tecnicamente violento.

Se o robô escolher revidar, você pode sair com um pequeno ferimento em seu dedo indicador – até o momento, ele já fez meia dúzia de vítimas. Mas também pode ser que o robô simplesmente lhe ignore e deixe você sair ileso.

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Ninguém pode dizer com certeza o que vai acontecer, nem mesmo seu criador. “Eu o vejo como um pedaço de filosofia tangível”, diz Reben, um artista especialista em robótica que mora em Berkeley, na Califórnia. As máquinas de Reben misturam arte e tecnologia, geralmente com gracejos – que o diga o aparelho de música que funciona à base de energia solar e toca “You Are My Sunshine”, de Ray Charles.

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Esta nova máquina, no entanto, não foi desenvolvida para caprichos. É o primeiro robô construído para, de forma autônoma e intencional, quebrar a Primeira Lei da Robótica, segundo Reben. Criada pelo autor de ficção científica Isaac Asimov, a lei foi citada pela primeira vez em um conto do autor de 1942 e declara que robôs não podem causar danos a humanos ou permitir que um humano sofra algum mal.

VÍDEO: confira a máquina em ação

No entanto, apesar de fazer eco a um princípio de ficção científica existente a 74 anos, o robô de Reben é uma máquina bastante simples. O inventor usou inicialmente o braço de metal como um massageador de cabeça, inspirado nos dispositivos mostrados no filme “O Dorminhoco”, de Woody Allen. Pessoas sentavam em uma cadeira e o braço robótico, com uma escova de arame na ponta, massageava seus couros cabeludos. Isso, segundo Reben, criava uma desconcertante sensação de intimidade entre a máquina e humanos.

“O robô conseguia fazer as pessoas se arrepiarem”, diz o artista. “E muitas começaram a se sentir realmente estranhas em relação a isso”.

Reben então reconstruiu o braço robótico para causar eventualmente uma leve dor. A empreitada levou alguns dias e algumas centenas de dólares, segundo reportagem da BBC. O braço robótico é uma máquina pequena, com sua base menor do que uma folha de papel. Um sensor na base, similar ao multi-touch de laptops, detecta quando alguém coloca um dedo na máquina. Se o robô decide revidar, ele faz um rápido movimento para baixo em direção ao dedo.

O golpe é apenas forte o suficiente para causar um pequeno buraco na pele e tirar uma gota de sangue. Mas é ameaçador o bastante, diz Reben, para deixar as pessoas assustadas. “É difícil não ficar nervoso”, afirma.

O principal é que, a cada vez, o robô toma uma decisão para atacar ou não o humano, algo sem precedentes em outras máquinas desenvolvidas anteriormente, defende Reben. “Eu pensei em robôs militares e eles não preenchem todos os requisitos”, diz. No caso de um drone e de outras aeronaves não tripuladas, por exemplo, operadores humanos decidem quando abrir fogo. E canhões ligados a radares, desenvolvidos para a Marinha, atiram em intrusos voadores que se enquadram em uma descrição pré-programada.

Na visão de Reben, sistemas como esses não escolhem quando e em quem atirar, da mesma maneira que minas terrestres não escolhem se explodirão quando sentem a pressão de pés.

Como funciona

No caso do braço robótico, o toque do dedo no sensor instalado na base ativa um programa que traz um resultado aleatório, que pode ser o de picar ou não o humano. “A decisão de ferir uma pessoa acontece de uma maneira que eu não posso prever”, afirma Reben.

O software não usa machine learning ou inteligência artificial para fazer a escolha, mas também não é tão simples quanto um resultado de “cara ou coroa”. Quando perguntado sobre a possibilidade de ser “atacado”, Reben diz que não sabe a probabilidade disso ocorrer.

O inventor diz que não quer causar nenhum tipo de pânico ou medo – no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ele estudou como humanos e robôs podem trabalhar em parceria –, nem causar um surto de hepatite B (ele usa agulhas descartáveis no experimento com o robô). Segundo Reben, a intenção é que o robô desperte uma provocação.

“É óbvio que eu programei isso, e é fácil para as pessoas dizerem que eu sou o responsável. Mas se um sistema robótico construído por muitas pessoas e corporações causar algum dano, quem vai prestar contas?”, observa.

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