Os preços de alimentos continuam se desacelerando e reduzindo o ritmo de crescimento da inflação. É o que foi reforçado nesta sexta-feira (08) pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a política de metas de inflação do governo. O indicador passou de uma alta de 0,74% em junho para alta de 0,53% em julho. E já há quem veja nessa desaceleração a consolidação de um novo momento para a escalada de preços. "Estamos inaugurando uma etapa para a trajetória de inflação no Brasil e no mundo", disse hoje à Agência Estado Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.

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Com o resultado do mês passado, o IPCA acumula no ano alta de 4,19% e, em 12 meses, 6,37%. A meta de inflação do ano é de 4,5%, com tolerância de dois pontos porcentuais acima ou abaixo desse ponto. Apesar da desaceleração, a aposta majoritária do mercado financeiro é a de que o índice ultrapassará o teto da meta.

Nos últimos dois meses, os preços dos produtos alimentícios desaceleraram de 2,11% para menos da metade (1,05%) em julho. Mesmo com a redução do ritmo de reajustes, os alimentos contribuíram com 0,24 ponto porcentual, ou quase a metade do IPCA do mês passado. A maioria do preço dos produtos alimentícios cresceu menos de um mês para o outro. Mesmo com redução na taxa, as carnes (de 6,91% em junho para 4,35% em julho) mais uma vez ficaram com a maior contribuição individual do mês: 0,09 ponto porcentual.

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No período, alguns alimentos chegaram a registrar variações negativas de preços. O consumidor pagou menos pelo arroz, produto que havia registrado alta de 9,90% em junho e que teve queda de 0,51% em julho. Outros produtos importantes na alimentação das famílias apresentaram taxas negativas, como a farinha de trigo (de 2,37% em junho para -1,75% em julho) e o pão francês (de 1,32% para -0,11%).

Para a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, a desaceleração no preço de alimentos pode estar relacionada à medidas tomadas pelo governo. "Ainda é cedo para dizer o que aconteceu, há quem diga que é uma queda de consumo, mas há indícios de que algumas ações fizeram os preços recuarem, como a retirada de impostos sobre o trigo e o anúncio do plano da safra do ano que vem, com incentivos para os produtores agrícolas", afirmou.

Eulina citou também a safra recorde, estimada em 145,3 milhões de toneladas, como possível fator de contenção dos reajustes de preços. No caso do trigo, que além da retirada de impostos também registra elevação na safra, há impacto sobre importantes produtos de consumo das famílias, como pão francês, farinha de trigo e macarrão.

Segundo ela, ainda não é possível afirmar que o recuo na alta dos alimentos seja uma tendência. "É preciso um tempo maior para checar se é uma tendência, esses resultados tem que ser consolidados", afirmou.

Já o mercado prefere firmar suas apostas. Segundo Fábio Silveira, da RC Consultores, os alimentos já estão deixando de ser os vilões da inflação. Ele disse que a queda forte dos preços das commodities nos últimos 30 dias, depois de uma escalada ao redor de 50% de dezembro de 2007 a julho deste ano, é a principal responsável pelo recuo dos preços. "Caminhamos celeremente para desaceleração das taxas mensais de inflação e o ponto de partida está lá fora, não está aqui dentro, está no mercado internacional", afirmou.

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Segundo ele, "a tendência nos preços no mercado internacional continua em trajetória de queda, talvez não tão acentuada, mas isso não importa, porque vai gerar deflação em vários segmentos industriais, da agricultura e isso vai exercer pressão baixista sobre os IPCs na transição do 3º para o quarto trimestre." Para Silveira, está cada vez mais claro que a inflação ficará dentro da meta este ano. "A inflação este ano ficará, no máximo, em 6,5%, e, em 2009, a meta (4,5%) será o teto para o IPCA."

Preços administrados - Os produtos não-alimentícios subiram 0,38% em julho, ante 0,34% em junho, "tendo em vista reajustes ocorridos em itens importantes com preços administrados ou controlados". Dos nove grupos que compõem o IPCA, segundo o documento de divulgação do índice, três mostraram aumento na variação de preços de junho para julho: habitação (de 0,26% para 0,60%), transportes (de 0,26% para 0,46%) e comunicação (de 0,29% para 0,36%).

Nos gastos com habitação (0,60%), as principais pressões foram exercidas pelas contas de energia elétrica, com alta de 0,93%. Foram destaques também no grupo a variação de 0,79% na taxa de água e de esgoto e os aluguéis residenciais, com aumento de 0,58%. No grupo comunicação (0,36%), a alta foi causada por reajustes autorizados pela Anatel nos serviços de telefonia fixa, na última semana de julho, o que levou a uma variação de 0,62% no item.