Só 20% das recargas em carros elétricos são feitas fora de casa.| Foto: Mark Blinch/Reuters

Ainda distantes do gosto e do bolso dos brasileiros, os carros elétricos podem começar a aparecer com mais frequências nas ruas do país. Como forma de tentar baratear o preço desses automóveis, o governo federal isentou a categoria semana passada do Imposto de Importação – a alíquota anterior paga pelos importadores era de 35%. Analistas e entidades do setor comemoram o incentivo, apesar de defenderem que o mercado dos elétricos só vai mesmo deslanchar junto de outras medidas, que acabem por viabilizar a produção nacional.

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INFOGRÁFICO: Acompanhe o aumento da venda de veículos elétricos no Brasil

O preço elevado e a falta de opções são os principais entraves. Hoje, o único carro 100% elétrico à venda no país para pessoas físicas é o BMW i3. Apenas três dias depois do anúncio da isenção do imposto, a montadora baixou o preço do modelo de R$ 221,9 mil para R$ 169,9 mil – valor que ainda é cinco vezes maior do que o de um automóvel popular no Brasil.

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Dados compilados pela Anfavea (associação das montadoras) mostram que, de fato, os elétricos hoje são para poucos. Neste ano, até setembro, apenas 664 elétricos foram vendidos no país, o que não chega a uma fatia de 1% do total de 1,8 milhão de licenciamentos de automóveis no período. Por outro lado, o número tem aumentado ano a ano, chegando a quase dobrar entre 2013 e 2014 (veja infográfico).

Em nota, a Anfavea afirmou que a isenção do imposto representa “um grande avanço” e abre espaço para ampliação do desenvolvimento local de novas tecnologias. Até o momento, porém, não há indicações de que as montadoras estariam se planejando para montar os veículos no Brasil, até por conta do cenário de retração no setor automotivo – a Renault/Nissan chegou a mostrar interesse em 2013 em implantar uma fábrica de elétricos no Rio de Janeiro, mas os planos não foram para frente.

Questão de preço

“Nós temos uma referência hoje de preço de veículos de R$ 30 mil a R$ 100 mil e o que o público quer é esse patamar de custo. As pessoas estão atentas a novos modelos sustentáveis que o mercado oferece, mas dentro da crise em que nos encontramos, todo mundo vai pela necessidade. Se fosse o contrário, já existiriam milhares de veículos elétricos trafegando nas ruas do país”, afirma o presidente executivo da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Guggisberg.

O representante da ABVE defende novas desonerações e subsídios para os modelos – no topo da lista de Guggisberg está a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a modalidade. Para o coordenador brasileiro do Programa Veículo Elétrico de Itaipu, Celso Novais, outra saída seria criar mecanismos para baratear e incentivar a produção local, a exemplo do programa Inovar-Auto.

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“Mesmo assim, a redução do Imposto de Importação já é um passo importante. É preciso vencer essa barreira, mostrar paras as montadoras que o Brasil tem mercado para carros elétricos e vale a pena produzir aqui”, reforça Novais.

Tecnologia avança a passos largos na Europa e nos Estados Unidos

BMW i3, único carro 100% elétrico vendido no Brasil. 

O fato de o Brasil nunca ter conseguido atingir a marca de mil licenciamentos de carros elétricos em um mesmo ano mostra a lentidão da adoção da tecnologia no país, em comparação com outras regiões do mundo.

Na União Europeia, as vendas de veículos elétricos aumentaram 82% neste ano, em comparação com 2014, considerando o período entre janeiro e setembro. Só no Reino Unido foram comercializados 20,9 mil desses automóveis desde o início do ano.

Os Estados Unidos também seguem como um dos principais mercados mundiais, com a venda de 82,4 mil veículos elétricos neste ano – por lá, os modelos da Tesla e da Nissan, ausentes do mercado brasileiro, são os campeões de vendas. Na Europa e nos EUA, o valor médio desses automóveis é 35% maior do que os modelos que utilizam combustíveis tradicionais, diferença ainda distante de ser alcançada no Brasil.

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Recargas

Pesquisas feitas nestes mercados também desmistificam a percepção de que é preciso uma infraestrutura pública abrangente para recarregar os carros – segundo levantamentos recentes, apenas 20% das recargas dos veículos são feitas fora das residências.

“Havia o mito também de que carros elétricos poderiam gerar uma maior demanda energética para os países, mas o impacto de consumo é muito pequeno. Além disso, as baterias hoje existentes permitem uma autonomia de 120 km por dia e o brasileiro roda em média 60 km. Mesmo que não tenhamos infraestrutura nas cidades, não há porque ter uma ansiedade por não saber onde ‘abastecer’”, afirma o coordenador brasileiro do Programa Veículo Elétrico de Itaipu, Celso Novais.

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