As projeções do Itaú Unibanco para 2016 consideram uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% a 5%, de acordo com o presidente do banco, Roberto Setubal. “Acho que a queda de 5% é muito negativa. Ninguém vê isso nesse momento. Ao longo do ano, vamos avaliar. Vemos o PIB claro nos dois próximos trimestres. Estamos tentando ser bastante realistas. Se for melhor que isso, ótimo, melhor ficar feliz do que ter razão”, avaliou ele, em teleconferência com analistas e investidores na manhã desta quarta-feira (3).
Setubal lembrou que o Brasil nunca atravessou uma queda de PIB acumulada de 7% em dois anos seguidos, com exceção de 1930 e 1931, anos seguidos à crise de 1929. “Se no ambiente estiver chovendo, a gente vai se molhar. Queda de PIB entre 3,5% a 4,0% no ano passado e neste ano é muito forte. Não se conhece bem o que significa isso em termos de impacto mercado no crédito. Estamos sendo muito cuidadosos nisso. Nosso guidance reflete isso”, afirmou o executivo.
De acordo com ele, o banco está bem provisionado e reforçando o seu balanço. O executivo garantiu ainda que está fazendo tudo o que é necessário para manter uma “franquia forte”. “Vamos fazer provisões necessárias. Estamos fortalecendo o banco, mantendo o banco capitalizado, investindo muito em tecnologia. A ideia é manter o balanço bem limpo e forte para momento que vier retomada (do país)”, disse ele.
Há pouco, Setubal admitiu que os guidances para 2016 podem estar “um pouco conservadores”. “Mas é o que estamos vendo”, acrescentou.
Pelas estimativas para o resultado consolidado, a carteira de crédito total do Itaú pode encolher 0,5% neste ano e, na melhor das hipóteses, avançar até 4,5%. O banco projeta expansão de 2,0% a 5,0% para a margem financeira com clientes.
Já para as despesas com PDDs, o banco prevê cifra entre R$ 22 bilhões e R$ 25 bilhões, também considerando o resultado consolidado. As receitas de serviços e resultado de seguros devem crescer de 6,0% a 9,0%, enquanto as despesas não decorrentes de juros podem aumentar entre 5,0% e 7,5% neste ano ante 2015.
“A receita de serviços vai continuar crescendo moderadamente. Está mais difícil o espaço de reprecificação. Nossas despesas devem continuar crescendo abaixo da inflação”, disse.
Inadimplência
O Itaú Unibanco espera aumento de inadimplência tanto na carteira de pequenas e médias empresas quanto na de pessoa física ao longo de 2016, de acordo com Setubal. Em relação às grandes empresas, ele disse que não vê nenhum caso futuro de calote. “Tivermos vários casos ao longo do ano passado. Embora haja mudanças, muitas renegociações, nenhum grande caso (em grandes empresas) que vá ocorrer”, explicou Setubal.
Na pessoa física, conforme ele, a inadimplência deve crescer ao longo de 2016, mas o ritmo de alta pode desacelerar nos próximos trimestres. Já as pequenas e médias empresas seguem com tendência de alta dos calotes. “A conjuntura é bastante desfavorável, mas o provisionamento está adequado”, acrescentou Setubal.
O índice de inadimplência do Itaú Unibanco, considerando atrasos acima de 90 dias, piorou 0,2 ponto porcentual ao final de dezembro ante setembro, para 3,5%. Nas pessoas físicas, os calotes avançaram de 5,1% em setembro para 5,4% em dezembro. Seguindo na contramão, os calotes do segmento pessoa jurídica recuaram 0,1 p.p. no quarto trimestre ante o terceiro, para 1,9%.
Sobre a venda de créditos vencidos, Setubal afirmou que essa prática vai se consolidar ainda mais no banco, à medida que a relação com a Recovery, empresa de gestão de créditos adquirida no ano passado, fique operacional. “Foi uma aquisição bastante interessante para o banco. Os créditos que não vemos possibilidade de recuperação não serão mantidos. Vamos ver mais vendas à medida que a relação com a Recovery fique mais operacional”, concluiu.
Rentabilidade
A queda da rentabilidade (ROE, na sigla em inglês) do Itaú Unibanco era esperada, em meio ao aumento da inadimplência e à baixa da margem ao mercado que compreende, basicamente, as operações de tesouraria, de acordo com Setubal. “A redução em si era bastante esperada”, destacou ele.
O ROE recorrente médio (12 meses) do Itaú passou de 24,5% no terceiro trimestre para 23,9% no quarto. Já o indicador trimestral caiu de 24,0% para 22,3%, na mesma base de comparação.
Em relação à margem com o mercado, Setubal explicou que a redução vista no trimestre era esperada, uma vez que o resultado da tesouraria no terceiro trimestre foi muito forte, batendo o recorde histórico da instituição. “Nunca tivemos número tão forte quanto aquele. O resultado deste trimestre, de R$ 1,269 bilhão, está bastante em linha com o nível normal para essa atividade. R$ 1,2 bilhão por trimestre é o patamar mais recorrente para a tesouraria”, destacou Setubal.
No terceiro trimestre, o resultado da margem financeira com o mercado do Itaú foi de R$ 2,276 bilhões, beneficiado pela volatilidade ocorrida no período.