Depois de participar de almoço para investidores em Londres com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o economista britânico Jim O’Neill, que foi economista-chefe do banco Goldman Sachs, contou ter ouvido dele uma perspectiva razoável, de que a tendência de crescimento para o país é de 3%, talvez 4%, se muitas medidas acertadas forem tomadas. O’Neill ficou conhecido por ter cunhado o termo Bric, que resume a ideia do crescimento dos emergentes Brasil, Rússia, Índia e China.
O que houve com o Bric? Brasil e Rússia não vão bem. Índia tem problemas. E a China reduz o passo...
A percepção sobre a desaceleração da China está errada. A China desacelerou menos do que eu imaginava. Para quem achava que ia crescer 10% para sempre, é um grande problema, sobretudo para países que dependem de commodities, inclusive o Brasil. A China é um dos Bric que não me decepcionam. A Índia mostra sinais de aceleração. Já a Rússia e o Brasil me preocupam. Têm um problema comum que é a dependência de commodities. Isso faz com que sejam um pouco preguiçosos. Não implementam reformas em tempos de bonança e isso torna tudo mais difícil nos momentos ruins.
Quais as perspectivas para o grupo?
Mesmo com problemas de desaceleração, 14 anos depois, os quatro estão muito maiores do que imaginei. Ultrapassaram as expectativas na primeira década. A China continua no páreo para ultrapassar os EUA em 2027. Temos de olhar no longo prazo. Está na moda dizer que o Bric acabou. É ridículo. Mas o Brasil claramente tem problemas.
Não posso esquecer, em 2009 e 2010, havia uma visão de que o Brasil poderia ter um crescimento chinês, de 10%. Isso era loucura. E alguns assessores de Lula diziam 7%. Se você perguntar ao novo ministro da Fazenda qual é a tendência para a taxa de crescimento, a resposta é outra. Ele me disse 3%, talvez 4%
Como o senhor percebe o Brasil hoje?
Participei do almoço com o seu ministro da Fazenda. Foi muito bom conversar com ele e ouvir o que tinha a dizer. É a pessoa de que o Brasil precisa para restabelecer a credibilidade do país. É bastante conservador do ponto de vista fiscal, respeita a importância da meta de inflação e espero que a presidente esteja dando a ele autonomia de verdade.
Quais são os desafios da economia?
O Brasil, desde os últimos dias do presidente anterior (Lula), se perdeu no caminho. Seus assessores se deixaram levar. Não posso esquecer, em 2009 e 2010, havia uma visão de que o Brasil poderia ter um crescimento chinês, de 10%. Isso era loucura. E alguns assessores de Lula diziam 7%. Se você perguntar ao novo ministro da Fazenda qual é a tendência para a taxa de crescimento, a resposta é outra. Ele me disse 3%, talvez 4%, “se fizermos muitas coisas boas”. Parte do trabalho de recuperar a credibilidade é justamente ser mais razoável.
Qual é o calcanhar de Aquiles?
O ministro falou muito de investimentos em infraestrutura. Mas é só o começo. Uma das razões para ter incluído o Brasil no Bric era o fato de o país ter metas de inflação. Não se pode fingir, se tem uma meta de inflação, tem que segui-la. Isso é o que digo que, durante Dilma (Rousseff), foi um retrocesso. Eles precisam dar ao Banco Central (BC) independência de fato. Nos últimos anos, é quase como se o BC estivesse fingindo que está perseguindo a meta. É clara a pressão do governo para parar de prestar atenção nisso. Em contexto: 8% de inflação para o Brasil é ruim comparado com anos recentes, mas, meu Deus, muito melhor do que 20 anos atrás. Mas uma das razões para pensar no potencial do Brasil estava ligado à inflação baixa e estável. Não me incomoda que esteja um pouco acima. Mas é preciso explicar o que está acontecendo. Se a meta é de 3% a 6%, tem que assegurar que quando estourar, você vai trazê-la de volta. Se quer que a meta passe a ser de 7% a 10%, explique o motivo. Não mexa nisso apenas por mexer. Tem que explicar.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast