O Banco Central resolveu fazer uma parada técnica no ciclo de aperto do juro em outubro, mas mandou um aviso ao mercado: o processo pode ser retomado caso a inflação não volte à trajetória esperada.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por unanimidade interromper o ciclo de aumento da taxa básica de juro, iniciado em abril. No encontro, os diretores do BC votaram pela manutenção da Selic no patamar de 13,75 por cento ao ano.
Mas na ata do encontro, divulgada nesta quinta-feira, o Comitê deixou claro, em vários trechos do documento, que o comportamento da inflação no país continua no centro das atenções e a política monetária pode ser "prontamente adequada às circunstâncias".
O agravamento da crise financeira internacional foi um dos elementos cruciais que justificaram a interrupção do aumento do juro no país no mês passado.
Segundo avaliação do BC, por um lado, a consolidação de condições financeiras mais restritivas pode ampliar os efeitos da política monetária sobre a demanda, ou seja, reduzindo o ritmo da atividade no país, que o Copom classifica como "robusto".
Mas, por outro lado, a tendência de desaquecimento da atividade econômica no mundo tem aumentado a aversão a risco, o que afeta a demanda por ativos brasileiros. Além disso, a trajetória de preços continua evidenciando a presença de "riscos inflacionários", o que pode comprometer o objetivo central do BC que é trazer a inflação de volta ao centro da meta já em 2009.
"Em linhas gerais, a influência do cenário externo sobre a trajetória prospectiva da inflação brasileira continua sujeita a efeitos contraditórios, que podem atuar com intensidade distinta ao longo do tempo, e envolta em considerável incerteza", ponderaram os diretores do BC na ata.
Pronto para agir
Diante da possibilidade de altas pontuais dos preços se tornarem persistentes, o Copom deixou claro que o aperto do juro pode ser retomado, já que o BC mantém a avaliação de que é fundamental a "persistência de uma atuação cautelosa e tempestiva" da política monetária para assegurar que a inflação volte ao patamar de 4,5 por cento a partir do próximo ano.
Ao longo de 2008, os índices de preços aceleraram no país. No primeiro semestre, a forte alta dos alimentos garantiu o avanço. A partir de setembro, com o agravamento da crise e a valorização do dólar, índices inflacionários mais amplos, como o IGP-M e o IGP-DI, voltaram a ganhar fôlego.
Em outubro, o IGP-M subiu 0,98 por cento. O IGP-DI, por sua vez, saltou 1,09 por cento, o segundo aumento consecutivo, depois que o índice registrou em agosto a primeira deflação desde 2006.
Para não pairar dúvidas sobre qual o verdadeiro compromisso do BC, os diretores reafirmaram na ata que a política de juros tem que garantir a volta da inflação para os patamares desejados, evitando assim que incertezas indentificadas no curto prazo se propaguem para "horizontes mais longos".
"Na eventualidade de se verificar alteração no perfil de riscos que implique modificação do cenário prospectivo básico traçado para a inflação pelo Comitê neste momento, a postura da política monetária será prontamente adequada às circunstâncias", afirmaram os diretores no documento.
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