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CRÉDITO

Juros do cartão batem recorde, mas não inibem adesões

Facilidade em se obter o cartão esconde a dificuldade em se pagar a taxa de juros que multiplica a dívida por quatro em um ano. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Facilidade em se obter o cartão esconde a dificuldade em se pagar a taxa de juros que multiplica a dívida por quatro em um ano. (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

O cartão de crédito segue em expansão no Brasil, mesmo com a escalada dos juros do chamado crédito rotativo, acessado quando o cliente não honra integralmente o pagamento da fatura. A taxa cobrada nessa situação cresce há dois anos e atingiu, em abril, uma média de 347% ao ano – cinco vezes acima da média do conjunto de modalidades do mercado e o mais alto entre todas elas. O índice é recorde para a série histórica do Banco Central, iniciada em 2011.

O crescimento da taxa é atribuído por especialistas especialmente à elevação da Selic, que amplia os custos de captação dos bancos e do crédito em geral; e à expectativa pelo crescimento da inadimplência, diante das incertezas da economia e das dificuldades do consumidor. “A taxa sempre foi alta, mas o ambiente de inflação e juros em alta, com ameaça de desemprego, está aumentando o risco dessas operações”, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Também são importantes para a definição dos juros fatores como despesas das administradoras, incluindo tributos; e a margem de lucro da oferta do crédito – as receitas dos principais bancos com tarifas de serviços cresceram até 20% no primeiro trimestre deste ano. Como se trata de um mercado autorregulado, a variação das taxas é permitida, sem interferência da autoridade monetária – cabe ao consumidor pesquisar e optar pela mais vantajosa.

Crescimento

A curva ascendente de juros não inibe a popularização do cartão. No primeiro trimestre deste ano, o número de transações cresceu quase 8%, sobre o mesmo período do ano anterior, alcançando 1,22 bilhão de operações. O valor transacionado se elevou 10%, para R$ 156 bilhões. Os dados são da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

A especialista em Educação Financeira Cássia D´Aquino aponta a disseminação do cartão de crédito junto a consumidores de menor renda como propulsora da expansão. “Há 10 anos, você tinha dificuldade para ter um cartão, que precisava ser ‘concedido’. Agora, não. Já trabalhei com jovens de baixa de renda que tinham seis cartões.”

A expectativa da Abecs é que, mesmo com a economia em crise, o setor cresça na casa de dois dígitos neste ano, em razão do processo de substituição de outros meios de pagamento.

Especialistas apontam que não necessariamente portar cartão é ruim ou perigoso. A ferramenta dispensa porte de dinheiro, permite compras internacionais e dá prêmios em troca de fidelidade. A Abecs destaca que o produto também é importante para as empresas, porque reduz inadimplência e incentiva o consumo.

O problema está no uso irresponsável de parte dos consumidores, o que gera as taxas elevadas e torna a ferramenta arriscada. “Esquecemos que, quando usamos o cartão, estamos, na verdade, pedindo um empréstimo”, diz Cássia.

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