Mudanças nas leis para exploração mineral, dificuldade em obtenção de licenças ambientais e a carência de infraestrutura em países produtores desafiam mais as mineradoras do que a volatilidade dos preços das commodities, afirmou nesta quinta-feira a presidente-executiva da Anglo American, Cynthia Carroll.
A instabilidade das cotações das matérias-primas deve continuar, disse a executiva a jornalistas após fazer apresentação no 14o Congresso Brasileiro de Mineração, em Belo Horizonte.
"Por outro lado, os fundamentos da indústria estão excepcionais", ponderou Carrol, acrescentando que a demanda por minério de ferro, níquel e cobre continuam aquecidas sobretudo em países asiáticos como Coreia do Sul e China, onde a produção de aço tem crescido aceleradamente.
"Nossos pedidos não foram, nem serão cancelados nos próximos um ano e meio", disse, sem entrar em detalhes sobre as encomendas.
Os comentários da executiva foram feitos num momento em que os preços de alguns metais têm sofrido com preocupações sobre a economia global, em especial na zona do euro. As cotações do cobre no mercado internacional, por exemplo, estão perto dos menores níveis em 14 meses.
A executiva lembrou que a empresa está aumentando a sua capacidade de produção de minérios e metais para dar conta da demanda e que questões de meio ambiente, infraestrutura e regulamentação para a implementação desses novos projetos são mais desafiadores que a alta volatilidade dos preços dessas commodities.
Indagada sobre as mudanças no marco regulatório da mineração que estão em andamento no Brasil, Cynthia Carroll afirmou que "trabalha junto com o governo para se chegar a uma solução correta".
O presidente da unidade de níquel da empresa no Brasil, Walter di Simoni, afirmou que existe uma preocupação para que as mudanças no marco "sejam feitas de maneira que não se perca a competitividade da indústria".
O governo brasileiro deve encaminhar ainda neste ano ao Congresso Nacional três projetos de lei que definem o novo marco da mineração. Entre as novidades, o aumento das alíquotas de royalties, a criação de uma agência reguladora para o setor e o estabelecimento de prazos exploratórios para as mineradoras.
Outros países como Austrália, Bolívia, Chile e Peru também estão mudando suas regras para exploração mineral com a finalidade de ter mais controle sobre suas reservas ou aumentar a arrecadação a partir dos ativos minerais.
Nióbio
A Anglo American realizou novas descobertas de nióbio em Goiás, nas proximidades do projeto de Catalão, onde já possui uma mina produtora, e pretende expandir as atividades no município.
Terceira maior produtora de nióbio do mundo, a Mineração Catalão exporta nióbio dos municípios de Catalão e Ouvidor, em Goiás, para mais de 50 plantas siderúrgicas na Europa, América do Norte e Ásia. As vendas alcançaram 4 mil toneladas em 2010.
A Anglo American está investindo no Brasil 14 bilhões de dólares de 2007 a 2013.
Deste total, cerca de 5 bilhões de dólares estão sendo destinados ao Minas-Rio, o maior projeto de minério de ferro da empresa no mundo, com capacidade de produção estimada em cerca de 26,5 milhões de toneladas anuais, em 2014.
O volume equivale a cerca de 30 por cento do total de minério de ferro produzido pela empresa no mundo, disse à Reuters o presidente da unidade de negócio de minério de ferro no Brasil, Stephen Weber.
A operação está prevista para o segundo semestre de 2013 e o projeto alcançará plena capacidade em 2014, segundo o executivo. Lá as reservas são estimadas em 5,8 bilhões de toneladas de minério.
Outro projeto de grande porte No Brasil é a planta de níquel Barro Alto, em Goiás, que iniciou neste mês sua segunda linha de produção. O projeto conta com investimentos de 1,9 bilhão de dólares para produzir em média 36 mil toneladas de níquel por ano, com previsão de alcançar capacidade total de produção em 2012.
Projeto de cobre interrompido
A executiva também afirmou que a empresa interrompeu o desenvolvimento de um projeto de cobre no Peru devido a conflitos com comunidades locais e indefinições com relação ao abastecimento de água para o projeto.
O projeto, batizado de Quellaveco, tem potencial para produzir cerca de 200 mil toneladas por ano. A empresa estaria tentando negociar, sem sucesso, os direitos de uso da água.
Quellaveco é um dos maiores projetos da Anglo no Peru, com investimento estimado em 3 bilhões de dólares.